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Resultado na França: alívio e preocupação na Europa

8 de julho de 2024

Líderes de centro-esquerda comemoraram fracasso de partido de Marine Le Pen, mas temem indefinição quanto ao nome do primeiro-ministro. Por outro lado, nomes da extrema direita falam em perseguição.

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Pessoas com bandeiras francesas e palestinas comemoram na rua e sobre um monumento
Eleitores da aliança de esquerda NFP celebraram a vitória na Place de la République, em ParisFoto: Lionel Urman/ABACAPRESS/IMAGO

A vitória inesperada da coalizão de esquerda nas eleições legislativas da França neste domingo (07/07) foi recebida de forma ambígua por líderes de outros países do continente. As reações foram de alívio, em função do freio à ascensão da extrema direita, mas também de preocupação, pois nenhum dos partidos ou coalizão, seja da esquerda ou de centro, conseguiu formar a maioria na Assembleia Nacional, equivalente a Câmara dos Deputados no país. Na prática, isso gera uma indefinição quanto ao nome do primeiro-ministro e à governabilidade francesa.

O porta-voz do chanceler federal alemão Olaf Scholz, Steffen Hebestreit, afirmou a jornalistas em Berlim nesta segunda-feira (08/07) que o temor de ver a frente ultradireitista Reunião Nacional (RN) no poder não foi concretizado. Por outro lado, ressaltou que "só o tempo dirá o que acontece com esse resultado" e cabe à França decidir. Após o primeiro turno das eleições francesas em junho, quando a RN saiu na frente, Scholz havia dito que uma possível vitória do partido liderado por Marine Le Pen poderia afetar as relações franco-alemãs.

Durante uma visita ao Departamento Federal para Migração e Refugiados da Alemanha (Bamf), em Nurembergue, Scholz afirmou esperar que o presidente francês, Emmanuel Macron, e os legisladores eleitos possam formar um governo estável. O chanceler ressaltou a importância disso para a cooperação entre os 27 Estados-membros da União Europeia. "Isto só é possível em conjunto com a França", disse. O secretário-geral do Partido Social Democrata (SPD) de Scholz, Kevin Kühner, reagiu com mais euforia: "Foi tirado um peso da cabeça de muitas pessoas - inclusive da minha", disse à emissora alemã ZDF. 

Alívio para Kiev

Enfático com o resultado eleitoral, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, publicou um post no X (antigo Twitter): "em Paris entusiasmo, em Moscou decepção, em Kiev alívio. O suficiente para ser feliz em Varsóvia". Os aliados da Ucrânia temiam que um governo liderado por Le Pen pudesse reduzir a ajuda militar a Kiev.

Também no X, o líder do partido socialista PASOK da Grécia, Nikos Androulakis, afirmou que o resultado foi "uma grande vitória" para a França e a Europa. "O povo francês ergueu muros contra a extrema direita, o racismo e a intolerância, e guardou os princípios atemporais da República Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade", escreveu.

Já o primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, publicou que tanto o Reino Unido quanto a França haviam escolhido nos últimos dias um caminho percorrido pela Espanha há um ano. "Disseram SIM ao progresso e ao avanço social e NÃO ao retrocesso nos direitos e liberdades", publicou na mesma rede social.

Em Londres, um porta-voz do recém-eleito governo trabalhista afirmou que o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, está pronto para trabalhar com os dirigentes franceses, independentemente da filiação política. "A França é obviamente um dos parceiros mais próximos do Reino Unido. Como membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e membros do G7 temos muitos interesses comuns", disse o porta-voz.

Marine Le Pen em entrevista após o anúncio do resultado do segundo turno da eleição francesa
Marine Le Pen em entrevista após o anúncio do resultado do segundo turno da eleição francesaFoto: Louise Delmotte/AP/picture alliance

Após o primeiro turno das eleições francesas no dia 30 de junho, as pesquisas mostravam que o ultradireitista RN tinha chances de formar a maior bancada de deputados e alcançar a maioria absoluta na Assembleia Nacional. As forças de centro-esquerda, entretanto, surpreenderam nas urnas. A aliança de esquerda Nova Frente Popular (NFP) e a coligação de centro Juntos, do presidente Emmanuel Macron, formaram as maiores bancadas, enquanto o partido de Le Pen amargou o terceiro lugar.

A NPF elegeu 182 deputados, enquanto os macronistas alcançaram 168 cadeiras e perderam menos postos do que as previsões iniciais. O RN limitou-se a 143 vagas. Na França, é preciso alcançar 289 lugares para indicar o primeiro-ministro. Nesta segunda-feira, Macron solicitou que o atual premiê e seu aliado político, Gabriel Attal, permaneça no cargo ao menos até os Jogos Olímpicos. A tradição, entretanto, é que o presidente acate a sugestão do partido com a maior bancada.

"Todos contra Le Pen"

A desidratação da ultradireita francesa, por outro lado, desagradou aliados europeus. O líder populista de extrema direita italiano Matteo Salvini criticou o que chama de "Todos contra Le Pen" e enfatizou que a aliança de Macron não conseguiu maioria para governar. "'O todos contra um' reduziu o número de cadeiras, mas não o consenso para Le Pen", escreveu no X.

Salvini é aliado do governo da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

André Ventura, líder do partido ultradireitista português Chega, afirmou que o pleito francês é "um desastre para a economia, tragédia na imigração e ruim no combate à corrupção".

Nesta segunda-feira, a RN aderiu à recém-formada aliança "Patriotas da Europa", do primeiro-ministro de extrema direita da Hungria, Viktor Orbán, o que ajudará a torná-la a terceira maior força política do Parlamento Europeu.

afs/le (DPA, AP, AFP)