Relação Alemanha-Ucrânia tem comércio e ajuda, mas não armas
18 de fevereiro de 2022O presidente russo, Vladimir Putin, já pode reivindicar para si uma vitória na atual crise em torno da Ucrânia. A relação entre a Alemanha e a Ucrânia, que vinha boa nos últimos anos, está se deteriorando.
Há uma profunda frustração entre as elites ucranianas por causa do controverso gasoduto Nord Stream 2, e agora também porque a Alemanha decidiu não fornecer armas à Ucrânia. Há muito debate atualmente sobre quanto apoio a Alemanha tem dado à Ucrânia desde os protestos pró-Europa de Maidan, também conhecidos como a "Revolução da Dignidade", que ocorreram há sete anos.
No início de fevereiro, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, fez as contas para rebater as críticas de Kiev. Ele disse que quase 2 bilhões de euros (R$ 11,7 bilhões) de ajuda direta haviam fluído da Alemanha para a Ucrânia desde que o país havia se manifestado a favor de eleições democráticas, uma trajetória pró-Europa e contra o governo aliado do Kremlin que foi derrubado em 2014.
Além disso, foram destinados nesse período à Ucrânia mais 3,8 bilhões de euros (R$ 22,2 bilhões) do orçamento da União Europeia, cujo maior contribuinte líquido é a Alemanha, apontou o líder alemão.
Scholz reconheceu haver um debate sobre quem havia dado "mais ajuda" à Ucrânia desde 2014, se os Estados Unidos, que agora estão fornecendo armas, ou a Alemanha. O governo ucraniano calculou recentemente que todos os seus parceiros, somados, direcionaram 1,5 bilhão de dólares (R$ 4,5 bilhões) em "ajuda de defesa militar" à Ucrânia.
Ajuda militar é prioritária
A ajuda militar é claramente uma prioridade em Kiev no momento. Em recente entrevista à rádio pública alemã Deutschlandfunk, o embaixador ucraniano na Alemanha, Andriy Melnyk, criticou o fato de que ninguém tinha sido capaz de detalhar a ajuda da Alemanha ao seu país desde a revolução Maidan. Ele disse que pensava que a Alemanha havia gastado na Ucrânia cerca de 771 milhões de euros (cerca de 876 milhões de dólares) em "ajuda ao desenvolvimento" desde 2014.
Esse montante colocava a Ucrânia em "13º lugar, atrás do Congo e da Tunísia", ele acrescentou. "Agradecemos a ajuda que recebemos da Alemanha. Não há dúvida que somos muito gratos", insistiu o embaixador ucraniano, ao mesmo tempo em que disse ser necessário colocar tudo em perspectiva.
Há claramente um profundo sentimento de frustração.
Apoio para manter o rumo pró-Europa
Desde a revolução Maidan, Berlim tem apoiado a Ucrânia a manter seu rumo pró-Europa, e criou centenas de projetos de consultoria e programas de ajuda. Muitos economistas alemães passaram bastante tempo em hotéis de Kiev.
Por meio do Fundo Monetário Internacional, a Alemanha também ajudou a estabilizar a economia da Ucrânia e a sua moeda, a grívnia. Sem essa ajuda, Kiev provavelmente teria sido obrigada a fazer uma reforma monetária.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores alemão, a Alemanha apoiou a Ucrânia "com mais de 1,8 bilhão de euros" (R$ 10,5 bilhões). Além disso, diz, as iniciativas estatais foram ampliadas por "projetos de fundações políticas, associações, ONGs".
O órgão também afirma que cerca de 200 projetos com "a sociedade civil nos países da Parceria Oriental e Rússia" estão sendo financiados, e os ucranianos estão envolvidos em cerca da metade deles. E há apoio financeiro para o desenvolvimento de uma "emissora pública independente" na Ucrânia e para o fortalecimento de programas de intercâmbio juvenil.
O Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha preparou um resumo detalhado, que mostra que 350 jardins de infância e 50 escolas foram renovados com fundos alemães e que 300 milhões de euros (R$ 1,7 bilhão) foram fornecidos pela Alemanha "para fortalecer o leste da Ucrânia", especialmente para ajudar as pessoas que foram deslocadas dos territórios ocupados por separatistas pró-Rússia.
Os fundos continuarão a ser fornecidos no futuro. O ministério disse que, no final de 2021, o governo alemão concordou em um acordo de 96,5 milhões de euros (R$ 560 milhões) com seu homólogo ucraniano "para a estabilização do leste da Ucrânia, implementar o Acordo de Associação da UE, eficiência energética, boa governança e treinamento profissional".
Boas relações econômicas
A Alemanha está mais envolvida na Ucrânia do que qualquer outro país da União Europeia. Isso é particularmente evidente nas relações econômicas bilaterais, que demonstraram grande robustez desde que a Rússia iniciou a agressiva mobilização de militares nas proximidades da Ucrânia. As empresas alemãs mantêm seu interesse de fazer negócios na Ucrânia.
"Nunca tivemos tantas consultas como nos últimos meses", disse à DW Alexander Markus, presidente da Câmara de Indústria e Comércio Teuto-Ucraniana. Além disso, no ano passado, a balança comercial entre os dois países se recuperou da queda causada pela pandemia em apenas 12 meses, segundo ele.
As trocas comerciais somam 7,7 bilhões de euros (R$ 44,9 bilhões), quase no mesmo nível da balança entre a Alemanha e a Romênia, que é um membro da União Europeia e vizinha da Ucrânia e tem metade da população ucraniana.
Nesse período, a Ucrânia exportou bens e serviços no valor de 2,8 bilhões de euros (R$ 16,3 bilhões) para a Alemanha. E as empresas alemãs exportaram 4,9 bilhões de euros (R$ 28,6 bilhões) para a Ucrânia.
Nenhum outro país da União Europeia tem uma relação econômica com a Ucrânia tão forte como a Alemanha. De acordo com a Câmara de Indústria e Comércio, cerca de 2 mil empresas alemãs estão ativas na Ucrânia. Elas fazem bons negócios e exportam tudo o que o setor industrial alemão produz – exceto armas.