Formação escolar
13 de setembro de 2011A ampliação dos investimentos em educação no Brasil e o aumento do número de anos que o brasileiro vem permanecendo na escola foram os principais itens apontados no relatório divulgado nesta terça-feira (13/09) pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) intitulado Education at a Glance 2011, que avalia a educação em 34 países do mundo.
Se por um lado o documento – que pela primeira vez incluiu uma análise do sistema educacional do Brasil – mostra que o país aponta um caminho de novas perspectivas para as futuras gerações, por outro, revela que o governo ainda precisa superar grandes obstáculos a fim de alcançar índices de nações mais desenvolvidas. É necessário, por exemplo, reduzir o ainda alto número de jovens até 15 anos com dificuldades de leitura.
Mais recursos por estudante
Entre os 30 países com dados disponíveis acompanhados pela entidade, o Brasil foi o que registrou o maior crescimento nos investimento por cada estudante dos ensinos fundamental e médio: houve aumento de 121% nos recursos entre 2000 e 2008.
No caso do ensino superior, porém, os investimentos não acompanharam o aumento no volume de matrículas, que expandiu em 57% neste mesmo período. Com isso, os gastos com estudantes de universidades acabaram caindo 6%.
Segundo o relatório, o Brasil aplica o equivalente a 106% de seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita em cada estudante universitário – a maior proporção entre os países. "Eles representam, porém, apenas 3% dos matriculados em todos os níveis educacionais", afirma o documento.
O documento ressalta ainda que os gastos em instituições de ensino saltaram de 3,5% do PIB em 2000 para 5,3% em 2008. O volume, no entanto, ainda é baixo quando comparado com a média dos outros países avaliados pela OCDE, que é de 5,9%.
Crescimento dos investimentos públicos
A organização avaliou ainda que, apesar de os investimentos públicos do governo brasileiro ainda abocanharem uma proporção relativamente pequena do PIB do país, o representativo aumento dos recursos direcionados para a educação nos últimos anos revela que o setor vem se tornando uma prioridade do governo em Brasília.
O Brasil aplicou, em 2008, 17,4% de seus investimentos públicos no sistema educacional – o índice oito anos antes era de apenas 10,5%. Com o aumento, o Brasil passou a ter a terceira maior proporção entre os países avaliados, atrás apenas do México e da Nova Zelândia.
"O aumento dos investimentos do Brasil levaram a uma maior participação no ensino Médio", conclui o relatório, ressaltando que mais de 90% dos estudantes brasileiros atualmente passam pelo menos nove anos na escola – um ano a mais que o contabilizado até 2000.
Escola não só para jovens
Outro dado revelado pela OCDE é o interesse, acima da média dos países observados, que os brasileiros fora da idade escolar vêm demonstrando em continuar os estudos. Cerca de 8,6% da população entre 30 e 39 anos está matriculada em alguma faixa escolar – a média da OCDE é de 6,2%. Entre as pessoas com mais de 40 anos, este índice no Brasil é de 2,5%, um ponto percentual a mais que a média. Os números são explicados pelo aumento dos cursos voltados para adultos no Brasil, levando para muitos a oportunidade de voltar às salas de aula após anos de interrupção.
O relatório ressalta, no entanto, que o número de brasileiros acima dos 25 anos que completaram o ensino médio é de apenas 30%, ainda bem abaixo da média dos outros países, que é de 44%.
Mas o estudo indica que o quadro está mudando rapidamente. Um maior estímulo em permanecer na escola já é observado quando se compara grupos de diferentes gerações. O percentual de pessoas entre 25 e 34 anos de idade que completaram o ensino médio é 21% maior do que aqueles brasileiros na faixa entre 55 e 64 anos.
Educação e emprego
Apenas 6,2% dos jovens que não estão na escola e que já possuem alguma graduação universitária estão desempregados. "Jovens entre 15 e 29 anos no Brasil com maior nível educacional estão menos suscetíveis a ficar desempregados. A falta do ensino médio é um sério impedimento para encontrar um trabalho", constata o documento.
Mais do que em outros países, a conclusão do ensino superior no Brasil pode garantir não apenas espaço no mercado de trabalho, mas também, sobretudo, bons salários. Enquanto na média traçada pela OCDE quem tem nível superior ganha 50% a mais de quem completou apenas o ensino médio, no Brasil as perspectivas são de remunerações 156% mais altas, independentemente do sexo – chegando a, em média, 20.076 dólares anuais.
No Brasil também é notória a diferença na remuneração entre trabalhadores com e sem experiência – por ano, o adicional para quem já passou do início da carreira pode chegar a 9.850 dólares anuais.
Cenário global
Durante apresentação do relatório nesta terça-feira, representantes da OCDE destacaram que pessoas com melhor formação educacional tiveram mais condições de garantir seu emprego durante a crise econômica mundial. Segundo a organização, as taxas de desemprego entre pessoas com grau universitário ficaram em torno dos 4,4% em 2009, ano seguinte à eclosão da crise. Entre os que não completaram o ensino médio, o índice foi de 11,5%.
"O custo, para os indivíduos e para a sociedade, dos jovens deixando a escola sem qualificação continua crescendo. Precisamos evitar, de todas as maneiras, o risco de uma geração perdida", disse o secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría, durante coletiva de imprensa em Bruxelas. "Apesar da pressão sobre os orçamentos públicos, os governos precisam assegurar os investimentos para manter a qualidade na educação, especialmente aqueles onde o risco ainda é maior", afirmou Gurría.
Autora: Mariana Santos
Revisão: Carlos Albuquerque