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Rejeição da Anvisa à Sputnik é política, dizem fabricantes

27 de abril de 2021

Desenvolvedores da vacina russa contra covid-19 criticam negativa da agência brasileira a pedidos de estados para importação do imunizante, afirmando que decisão "não tem nada a ver com acesso à informação ou ciência".

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Vacina Sputnik V
Sputnik V já foi aprovada em pelo menos 60 países, mas ainda não recebeu aval nos EUA e na UEFoto: Artyom Geodakyan/dpa/picture alliance

Os desenvolvedores da vacina russa contra covid-19 Sputnik V criticaram nesta terça-feira (27/04) a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de rejeitar pedidos de importação do imunizante, classificando a medida de politicamente motivada.

"Os atrasos da Anvisa na aprovação do Sputnik V são, infelizmente, de natureza política e não têm nada a ver com acesso à informação ou ciência", diz uma postagem na conta oficial da Sputnik V no Twitter.

A diretoria da Anvisa rejeitou na noite desta segunda-feira, por unanimidade, pedidos de autorização da importação da Sputnik V feitos por vários estados, por considerar que faltam dados técnicos para verificar a segurança e a eficácia do imunizante contra a covid-19.

Os cinco diretores da Anvisa seguiram a recomendação da área técnica da entidade, que identificou diversas "incertezas" em relação ao imunizante. Desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Gamaleya, da Rússia, a vacina ainda não foi aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) ou pela Administração Federal de Alimentos e Medicamentos (FDA), dos Estados Unidos.

Suposta pressão dos EUA

A mesma sequência de tuítes na conta oficial da Sputnik V que criticou a decisão da Anvisa apontou para um recente documento do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS, na sigla em inglês), segundo o qual os Estados Unidos teriam persuadido o Brasil durante a governo Donald Trump a não comprar a Sputnik V.

"O Departamento de Saúde dos Estados Unidos, em seu relatório anual de 2020 há vários meses, declarou publicamente que o adido de saúde dos Estados Unidos ‘persuadiu o Brasil a rejeitar a vacina russa'”, diz a postagem.

O documento do HHS foi publicado em 17 janeiro, três dias antes da posse do presidente Joe Biden, e não detalha como essa "persuasão" teria sido exercida sobre o governo Jair Bolsonaro.

Ainda segundo a sequência de tuítes da Sputnik V, "o povo brasileiro aguarda a decisão do Supremo Tribunal Federal". A Anvisa havia solicitado ao STF a suspensão do prazo de análise, mas o ministro Ricardo Lewandowski negou o pedido, determinando que a agência se pronunciasse sobre a vacina até 28 de abril.

Vacina como instrumento político?

O Kremlin afirmou nesta quinta-feira que necessita de mais informações sobre a decisão da agência brasileira antes de comentá-la e disse estar em contanto com autoridades brasileiras sobre a questão. Mas o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a repórteres que, em geral, o governo russo é "contra o uso de vacinas como instrumento político”.

Alguns países ocidentais manifestaram desconfiança em relação à Sputnik V, batizada em homenagem ao satélite da era soviética, devido a preocupações de que o Kremlin pudesse usar o imunizante como um instrumento para fazer avançar seus interesses no cenário internacional.

Moscou aprovou o uso da vacina em agosto, antes dos testes clínicos em larga escala, o chamado estudo de fase 3. Foi a primeira vacina contra covid-19 aprovada no mundo.

Eficácia e aprovação mundo afora

Em setembro, os resultados dos estudos de fase 1 e 2 foram publicados na revista britânica The Lancet. No entanto, apenas 38 indivíduos participaram de cada uma das duas pesquisas sobre segurança, tolerabilidade e imunogenicidade. De acordo com os levantamentos, a vacina provocou uma forte resposta imunológica e nenhum dos participantes teve efeitos colaterais graves.

Em 2 de fevereiro, cientistas russos publicaram novamente no The Lancet os resultados de uma análise provisória do estudo de fase 3 em curso. De acordo com o relatório, mais de 18 mil indivíduos foram vacinados, cada um, com duas doses da vacina em um intervalo de três semanas. Segundo o estudo, a eficácia foi de 91,6% – e nenhum participante teve efeitos colaterais graves.

A vacina russa já foi aprovada em pelo menos 60 países. A Argentina assinou um acordo com a Rússia no início deste mês para se tornar o primeiro país latino-americano a produzir doses da Sputnik V e tem como meta iniciar a produção em junho.

A Hungria e a Eslováquia também permitiram o uso da Sputnik V com aprovação nacional de emergência – embora o imunizante ainda não tenha sido aprovado pela Agência Europeia de Medicamentos. Na Hungria, a vacina já está sendo inclusive administrada.

lf (AFP, ABR, DW, OTS)