Capital europeia da cultura
2 de janeiro de 2010O vale do Ruhr, na Alemanha, é a primeira região a ser escolhida capital europeia da cultura. Em 2010, o Ruhrgebiet, como é chamado em alemão, ostentará o título ao lado de Pécs, na Hungria, e Istambul, na Turquia.
O programa cultural do evento "Ruhr 2010 – Capital Europeia da Cultura" busca manter esse ineditismo por meio de uma oferta com foco internacional e intercultural. A justificativa é simples: o vale do Ruhr sempre esteve fortemente ligado à imigração e a convivência de culturas.
Mundo em miniatura
No século 19, holandeses, belgas e austríacos migraram para a região para trabalhar nas minas de carvão, um dos símbolos do vale do Ruhr. Pelo mesmo motivo vieram depois mineiros das províncias orientais da Prússia.
Após o final da Segunda Guerra Mundial, foi a vez da massa de operários emigrados principalmente da Turquia, da Itália, da Espanha e de Portugal. Esses também se estabeleceram principalmente no vale do Ruhr.
"Ao observar a metrópole Ruhr, podemos perceber com facilidade que se trata de uma sociedade absolutamente multifacetada. Aqui vivem pessoas oriundas de 171 nações. Aqui estão representadas, suponho, todas as comunidades religiosas do mundo. É o mundo em miniatura. Você nem mesmo consegue se ocupar de todos esses temas", afirma a jornalista alemã de origem turca Asli Sevindim, um dos quatro diretores artísticos do Ruhr 2010.
Mito Ruhr
Sob o lema "Compreender o mito Ruhr", o evento apresenta a região por uma perspectiva histórica. O "mito Ruhr" engloba as histórias do carvão e do aço, do trabalho árduo unido à solidariedade, da convivência de culturas e religiões diversas, dos milhões de imigrantes, da identificação com uma pátria, da pujança econômica graças ao "ouro negro" e do fim de uma época global: a industrialização.
Diversas exposições estão programadas para levar essa complexidade de temas ao grande público. Uma delas se concentrará na cidade de Dinslaken e mostrará as mulheres que imigraram para o país como operárias, não acompanhando seus maridos, mas como trabalhadoras estrangeiras da primeira geração.
"Há inúmeras mulheres que vieram para cá. E as histórias delas também serão contadas. Trata-se de um objetivo fascinante, de uma coragem inconcebível: chegar a um país totalmente novo e construir lá um novo futuro para si", diz Sevindim.
Convivência criativa
Um dos principais projetos do Ruhr 2010 é o festival Melez, que acontecerá em outubro sob o lema "cultura da convivência". A série de eventos acontecerá num trem que viajará por toda a Alemanha. Os vagões serão adaptados para servir de ateliê, laboratório, estúdio e plataforma para artistas regionais e internacionais, reunindo música, artes plásticas e dança.
Segundo Sevindim, essa mistura de expressões artísticas guia-se por uma questão central. "Como é possível, numa sociedade formada por pessoas totalmente diferentes, de culturas e religiões distintas, que todos possam conviver bem, de forma produtiva e também criativa?"
Enfoque internacional tem também o projeto Twins, no qual 53 cidades do vale do Ruhr se reuniram com suas cidades-parceiras em toda a Europa para discutir eventos artísticos. Cerca de duas mil instituições, corais, escolas, artistas e comunas desenvolveram projetos em diversas áreas, incluindo a fotografia, a pintura, a arquitetura, a música, a dança, o esporte e várias outras.
Autora: Nadja Baeva (as)
Revisão: Simone Lopes