Reeleição de governador da Turíngia encerra crise nacional
4 de março de 2020Bodo Ramelow, do partido A Esquerda, foi reeleito nesta quarta-feira (04/03) governador do estado alemão da Turíngia, encerrando assim uma crise de governo que teve repercussão em toda a União Europeia e chegou a ameaçar a coalizão de governo da chanceler federal Angela Merkel.
Na terceira rodada de votação, Ramelow recebeu 42 votos, exatamente o número de deputados de sua bancada, composta por A Esquerda e os parceiros Partido Social-Democrata (SPD) e Partido Verde. Outros 23 deputados votaram contra, 20 se abstiveram e quatro não votaram.
Nas primeiras duas rodadas, Ramelow recebera o mesmo número de votos, mas sem obter a maioria absoluta. Na terceira rodada, bastava a maioria simples. Ramelow vai agora comandar um governo de minoria, algo inédito na Alemanha, com a tolerância da União Democrata Cristã (CDU), partido de Merkel.
A populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) apresentou seu próprio candidato, o líder da bancada Björn Höcke, nas duas primeiras rodadas. Em ambas ele recebeu 22 votos, o mesmo número de deputados de seu partido, e desistiu na terceira rodada.
Os quatro deputados do Partido Liberal Democrático (FDP) não votaram. A CDU, que tem 21 deputados, se absteve nas duas primeiras rodadas, e, ao que tudo indica, na terceira rodada um deputado do partido conservador votou contra Ramelow.
A eleição do político de enorme popularidade na Turíngia encerrou uma crise iniciada em 5 de fevereiro, quando o deputado Thomas Kemmerich, do FDP, foi eleito governador com a ajuda de votos da AfD, derrotando Ramelow na terceira rodada.
A ajuda dos populistas de direita para a eleição de um candidato do FDP, numa união informal com a CDU e o FDP, foi vista como uma quebra de tabu e duramente criticada por partidos e políticos de direita e de esquerda, incluindo Merkel. Kemmerich renunciou logo em seguida, sem sequer assumir suas funções de governador.
Partido Verde e SPD cobraram explicações da CDU pelos votos em Kemmerich na eleição indireta estadual, e a coalizão de Merkel enfrentou uma crise interna que ameaçou sua continuidade, gerando preocupações em toda a Europa.
O FDP recebeu críticas de filiados, eleitores e dos demais partidos por ter aceitado uma eleição maculada pelos votos da AfD. O presidente do FDP, Christian Lindner, se viu obrigado a se submeter a uma moção de confiança. Lindner se desculpou mais tarde e disse que o partido se sentia envergonhado por ter sido manipulado pela AfD, numa manobra que prejudicou a democracia alemã.
Na CDU, a presidente Annegret Kramp-Karrenbauer renunciou após as críticas de que não conseguira impor as determinações da direção nacional aos deputados da Turíngia, que contrariaram a liderança da CDU ao se aliarem informalmente à AfD.
Depois da eleição, AKK, como é conhecida, não conseguiu convencer a CDU da Turíngia a aceitar nova eleição no estado. Seu fracasso na gestão da crise custou a ela a presidência da CDU, além da candidatura à sucessão de Merkel.
A eleição de Ramelow nesta quarta-feira só foi possível porque a CDU da Turíngia concordou em se abster da votação. A contrapartida no pacto entre a CDU e a coalizão de esquerda é que Ramelow ficará apenas um ano no cargo, estando programada uma nova eleição para 25 de abril de 2021.
Durante os cumprimentos após a eleição, Ramelow rejeitou a mão estendida do líder da AfD Björn Höcke. Em seu discurso, o político de esquerda justificou sua atitude com as declarações de Höcke após a primeira eleição.
Na época, o político da AfD se vangloriou de ter criado uma armadilha para os demais partidos com a apresentação de um candidato-fantoche, o que acabou servindo para derrotar Ramelow e unir informalmente CDU, FDP e AfD em torno de um candidato do FDP.
Nas duas primeiras rodadas da eleição de 5 de fevereiro, a AfD votara em seu próprio candidato, que abandonou em peso na terceira, quando votou em Kemmerich, o candidato dos liberais, ajudando assim a elegê-lo.
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