Racha na liderança pode acelerar fim do Pegida
29 de janeiro de 2015O movimento "anti-islamização" Pegida (sigla para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente") passa por uma prova de fogo. Uma semana após a renúncia do presidente, Lutz Bachmann, também a porta-voz do grupo, Kathrin Oertel, pediu demissão do cargo, nesta quarta-feira (28/01). Com ela, outros quatro membros saíram do comitê de organização, deixando o movimento apenas com metade de sua liderança. A tradicional passeata das segundas-feiras, marcada para a próxima semana em Dresden, foi cancelada.
Segundo o vice-presidente, René Jahn, que também deixou o cargo, o motivo para as renúncias são divergências sobre o papel que Bachmann continuaria desempenhando no Pegida, mesmo tendo renunciado à presidência. Jahn disse ao jornal Bild que Bachmann continuava atuando no comitê organizador e que esse foi o estopim para a saída dos outros integrantes. "Não quero ter nada a ver com essas coisa de nazismo e declarações de extrema direita", desabafou.
Bachmann, que era o principal rosto do Pegida, renunciou à liderança depois de a imprensa alemã divulgar uma foto em que ele posa caracterizado como Adolf Hitler e de declarações xenófobas publicadas na conta dele no Facebook. A partir de então, Oertel passou a ser considerada a principal liderança e "rosto" do Pegida.
Na página do Pegida no Facebook, a organização afirma que Oertel renunciou como porta-voz devido à "enorme hostilidade, ameaças e desvantagens profissionais" que ela estaria enfrentado. Um novo comitê organizador deve ser eleito nos próximos dias, numa reunião extraordinária. Ele deverá estar formado até 9 de fevereiro, data da próxima marcha semanal em Dresden.
Nesta quinta-feira, outro demissionário, Bernd-Volker Lincke, declarou que ele e as demais pessoas que deixaram o Pegida junto com Oertel decidiram criar um novo grupo. "Decidimos continuar." O novo movimento dará mais atenção aos temas democracia direta e participação popular, e a política de concessão de asilo será posta de lado. Um possível nome seria "Movimento pela democracia direta na Europa".
"Redenção para Dresden"
O Pegida tem sido nas últimas semanas tema de acaloradas discussões na opinião pública alemã e também entre os políticos. Depois das novas renúncias, o vice-chanceler federal alemão e ministro da Economia, Sigmar Gabriel, avaliou que o movimento entrou em decadência.
"Acho que, provavelmente, o zênite público dessas manifestações foi ultrapassado", afirmou Gabriel à televisão pública alemã ZDF, comentando que a organização do grupo está se desmantelando, o que provavelmente é "uma redenção para Dresden". Ele ressaltou, entretanto, ser preciso dar atenção aos problemas que preocupam a população.
Semana passada, Gabriel surpreendeu ao participar, como espectador, de um encontro entre apoiadores e críticos do Pegida, organizado por uma instituição pública de fomento ao debate político, em Dresden.
O especialista em extremismo Timo Rein Frank, coordenador da Fundação Amadeu Antonio, disse à agência de notícias DPA que o fator decisivo é se o movimento conseguirá se reagrupar. O cientista político Werner J. Patzelt, de Dresden, acredita que a crise na liderança não significa o fim do Pegida. Já o cientista político Hajo Funke, de Berlim, avalia que os últimos acontecimentos são "o começo do fim" do movimento.
Marchas semanais
O Pegida vinha realizando marchas semanais em Dresden desde outubro de 2014, para protestar contra uma suposta crescente influência do islã na Alemanha e contra as políticas de imigração do governo alemão. O número de participantes vinha crescendo a cada semana.
Porém, a passeata realizada domingo passado em Dresden reuniu, pela primeira vez, menos pessoas do que na semana anterior – foram cerca de 17 mil, de acordo com a polícia. Em outras cidades alemãs, o Pegida teve repercussão limitada, tendo atraído menos simpatizantes e sendo sempre superado, em número, pelas passeatas contrárias, que ocorreram paralelamente.
MD/dpa/afp/rtr/epd