Quão confiáveis são testes rápidos de covid-19?
30 de setembro de 2020A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou no início desta semana a distribuição de 120 milhões de testes rápidos de covid-19 para países mais pobres e de renda média nos próximos seis meses. Segundo o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, o acordo foi firmado entre as fabricantes de teste rápido Abbott e SD Biosensor e a Fundação Bill e Melinda Gates.
A campanha de testes em massa faz parte de uma iniciativa global lançada em abril deste ano pela OMS, a Comissão Europeia, a Fundação Gates e o governo francês. A parceria também inclui os Centros Africanos para o Controle e Prevenção de Doenças (Africa CDC), a Iniciativa Clinton de Acesso à Saúde (Chai), a Fundação para Novos Diagnósticos Inovadores (Find), o Fundo Global e a Unitaid.
As fabricantes se comprometeram a fornecer 20% de sua produção para países de baixa e média renda, e 80% para o restante. Os países fornecedores ricos, portanto, também irão obter quantidade suficiente de testes rápidos de antígenos das duas empresas. A Alemanha, por exemplo, já encomendou 20 milhões de testes.
Resultados rápidos podem quebrar cadeias de transmissão
De acordo com Tedros, os testes deverão ser capazes de mostrar dentro de 15 a 30 minutos se alguém foi infectado com o patógeno da covid-19. Além disso, os testes são muito econômicos, custando 5 dólares (cerca de 30 reais) por unidade. E o preço vai cair ainda mais, afirmou o chefe da OMS.
"Testes rápidos de alta qualidade nos mostram onde o vírus está escondido, o que é chave para encontrar e isolar rapidamente contatos e quebrar a cadeia de transmissão. Os testes são uma ferramenta crucial para os governos quando se trata de reabrir a economia e salvar vidas e meios de subsistência", disse Tedros.
Catharina Boehme, presidente da fundação sem fins lucrativos Foundation for Innovative New Diagnostics (FIND), também se mostrou entusiasmada com a colaboração: "Podemos realmente mostrar o que pode ser alcançado quando o mundo e os principais parceiros globais de saúde se unem com uma prioridade comum."
Como funcionam os testes rápidos de antígeno?
No momento, existem basicamente três procedimentos de teste de Sars-Cov-2, o coronavírus causador da covid-19: testes de antígeno, testes de PCR e testes sorológicos (Elisa).
Testes rápidos de antígeno não detectam a composição genética do vírus, como fazem os testes de PCR, e sim as proteínas presentes. São como testes de gravidez, mas (ainda) não estão disponíveis nas farmácias. Em vez disso, o teste é realizado por pessoal treinado em medicina: retira-se uma amostra da parte nasal da faringe e se verifica se as duas linhas azuis indicam um resultado positivo. Desta forma, a equipe médica sabe em 15 minutos se o paciente apresenta uma infecção aguda e contagiosa e, caso necessário, pode isolá-lo imediatamente.
A vantagem é não precisar ir ao laboratório e poder realizar o teste in loco com muita rapidez e flexibilidade. A esperança é que, assim, milhares de vidas possam ser salvas e que a pandemia diminua nos países mais pobres.
Tais exames permitem, por exemplo, a triagem em massa de trabalhadores de saúde, que morrem com relativa frequência em países de baixa renda. Posteriormente, os testes rápidos de antígenos também poderão ser usados para análises em instituições de ensino, locais de trabalho e em lares de idosos e de pessoas com deficiência.
A grande desvantagem de muitos testes rápidos de antígenos, no entanto, é que a maioria deles não é nem de longe tão confiável quanto os diagnósticos de PCR de laboratório. Sobretudo as infecções recentes passam por vezes despercebidas.
No entanto, cada vez mais médicos são a favor do uso generalizado de testes de antígenos, pois, dessa forma, mais pessoas infectadas podem ser detectadas antes de apresentarem sintomas. Isso ocorre porque os testes funcionam particularmente bem quando os pacientes têm uma carga viral elevada – exatamente no momento em que é mais provável que infectem outras pessoas como superdisseminadores.
Nem todos os testes rápidos são confiáveis
Atualmente, existem centenas de testes rápidos diferentes à venda no mundo todo. Muitos são confiáveis, mas nem todos são bons. Em março, por exemplo, a Espanha devolveu dois lotes de teste rápido de uma empresa chinesa não licenciada porque eles estavam com defeito.
O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) reclama que, embora um grande número de testes tenha sido aprovado para comercialização no mercado europeu, quase não existem estudos clínicos que comprovem seus benefícios médicos.
Os 120 milhões de testes rápidos de antígenos agora previstos para os países mais pobres são os primeiros a atender a todos os padrões da OMS. Os testes da empresa sul-coreana SD BioSensor e da americana Abbott receberam a aprovação de emergência da OMS.
De acordo com as fabricantes, os testes deverão ter 97% de precisão – mas isso só se aplica em condições ideais de laboratório. Em condições reais, a sensibilidade do teste estaria entre 80% e 90% – o que é bom, mas, ao mesmo tempo, isso significa que cerca de 20% dos infectados não são detectados e seguem adiante com a sensação enganosa de que o teste deu negativo, podendo infectar centenas de outras pessoas.
Quas são as alternativas?
Por serem rápidos, fáceis e baratos, os testes de antígenos são uma boa alternativa para exames em massa. No entanto, os testes de PCR de laboratório continuam sendo mais confiáveis.
Testes de reação em cadeia da polimerase (teste de PCR) reagem ao material genético do Sars-Cov-2. Com a ajuda de um cotonete, é removida uma amostra de saliva da garganta do paciente. Por meio de um processo bioquímico denominado eletroforese em gel de agarose, é verificado se o material genético do vírus esperado estava contido na amostra. Esses testes são muito precisos, mas só podem ser feitos em laboratórios especializados.
Testes sorológicos (Elisa) também estão disponíveis como testes rápidos, mas no momento esses testes de anticorpos são relevantes apenas para estudos científicos em laboratório. Eles detectam se, no sangue das pessoas testadas, há anticorpos criados pelo sistema imunológico contra o vírus. Para isso, é necessário que o corpo já tenha demonstrado uma resposta imune à infecção pelo vírus correspondente.