Quem é Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS
22 de abril de 2020Quem já leu entrevistas com Tedros Adhanom Ghebreyesus provavelmente conhece a história de como, aos 7 anos, ele vivenciou a morte do irmão mais novo por uma doença que poderia ter sido curada num país com um sistema de saúde eficiente. Mas em sua nação de origem, a Etiópia, isso não existia nessa época.
Ele disse não aceitar que alguém tivesse que morrer "só por ser pobre", como era a sua família na época. E é assim que o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) costuma explicar seu engajamento por melhores serviços de saúde. Até hoje a morte do irmão o impulsiona em seu trabalho.
Aos 55 anos, "Dr. Tedros" ostenta uma longa carreira como profissional de saúde. Na década de 1990, estudou doenças infecciosas no Reino Unido e recebeu o título de doutor em saúde pública. Entre 2005 e 2012, como ministro da Saúde da Etiópia, teve a oportunidade de expandir o sistema de saúde do país.
Durante esses sete anos, construíram-se milhares de novos centros de saúde, dezenas de milhares de funcionários foram contratados para dar assistência em saúde nas zonas rurais, o seguro-saúde foi introduzido pela primeira vez. O número de universidades de medicina aumentou de três para 33, e o de médicos cresceu exponencialmente. As taxas de mortalidade por doenças como tuberculose, malária e aids caíram até 90%.
A seu crédito conta também um papel crucial na melhora da saúde de mães e filhos, com a qual se compromete desde 2009. Além disso, de 2012 a 2016 foi ministro do Exterior da Etiópia.
Polêmica sobre o cólera
No entanto, nem todos seus compatriotas veem a administração de Tedros Adhanom de maneira positiva. Até hoje o ex-ministro da Saúde sofre críticas severas justamente por sua forma de lidar com epidemias, acusado de, entre 2006 e 2011, minimizar vários surtos de cólera, atrasando, assim, as contramedidas necessárias.
O jornalista Ludger Schadomsky, que, como chefe da redação de língua amárica da DW, acompanhou o mandato do então ministro da Saúde, lembra: "Em nossas entrevistas com as autoridades de saúde etíopes, sempre se falava em 'diarreia aquosa' na época, embora os resultados clínicos dessem fortes motivos para acreditar que se tratasse de cólera."
Em especial os oromos e os amharas – os dois maiores grupos étnicos da Etiópia mais afetados pelos surtos de cólera durante o mandato de Tedros – protestaram veemente quando ele foi nomeado diretor-geral da OMS em 2017. Tedros pertence à minoria étnica dos tigrinya, que representa apenas cerca de 6% da população etíope, mas há muito domina a política do país.
Na época, o ativista de direitos humanos Kassahun Adefris revelou à DW estar preocupado com a escolha: "Enquanto era ministro da Saúde, muita gente perdeu a vida porque ele encobriu as epidemias de cólera. Na minha opinião, é muito questionável nomear para essa posição alguém que tenha cometido tais erros."
A organização de direitos humanos Human Rights Watch também criticou Tedros durante sua campanha para o cargo, por ele trabalhar para um Estado autoritário que reprime opositores políticos e jornalistas.
Tedros deveu sua eleição ao grande apoio dos delegados dos 55 países africanos membros da ONU. Na época, também manifestou-se nas redes sociais alegria por um africano ter sido eleito chefe da OMS pela primeira vez.
Especialistas atestam os primeiros sucessos de Tedros em alguns dos seus principais projetos de reforma: a OMS responderia de forma mais rápida e abrangente às crises da saúde – ao contrário da epidemia de ebola na África Ocidental, em 2013-14. Precisamente por isso a organização foi alvo de críticas maciças sob a liderança de sua antecessora, a chinesa Margaret Chan.
Conflito com EUA
No entanto, críticos acusam Tedros de não ter agido com vigor suficiente no início da pandemia do novo coronavírus em respeito ao governo chinês. Sob esse pretexto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a suspender os pagamentos de seu país à OMS.
É inegável que Tedros fez contatos estreitos com a liderança política da China como mandatário na Etiópia, especialmente como ministro do Exterior, de 2012 a 2016. E até hoje Addis Abeba é parceiro estratégico próximo de Pequim.
O conflito com o presidente americano acompanha Tedros, porém, há muito tempo. Em 2017, muito antes do início da pandemia do novo coronavírus, Trump já havia ameaçado reduzir os pagamentos dos EUA à OMS. Por isso, ainda antes de assumir o cargo, Tedros declarara que queria ampliar a base de doadores, para evitar conflitos financeiros: "Se o maior número possível de países contribuísse, não importando a quantia, isso ajudaria", afirmou na época.
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