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Quem são os russos que lutam ao lado da Ucrânia

Sergey Satanovskiy
14 de março de 2024

Unidades formadas por cidadãos da Rússia apoiam as forças da Ucrânia realizando ataques do outro lado da fronteira. Quem são esses grupos de combatentes e que ideologia adotam?

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Soldados com roupa militar de camuflagem em frente e em pé sobre um veículo militar blindado
Combatentes da legião "Liberdade da Rússia" diante de um veículo militar russo capturado Foto: Sergey Bobok/AFP

"Nossa tarefa é informar aos cidadãos da Federação Russa de que eles estão sendo governados por um presidente ilegítimo", diz o comandante do "Corpo de Voluntários Russos", Denis Nikitin, em um vídeo que teria sido gravado em um carro blindado de fabricação russa. Nesta terça-feira (12/03), combatentes dessas unidades informaram que haviam cruzado a fronteira com as regiões de Belgorod e Kursk, na Rússia. Eles dispararam contra soldados russos e capturaram equipamentos militares inimigos.

Isso significa que não apenas os ucranianos, mas também os russos estão lutando contra a Rússia ao lado de Kiev. Eles se autodenominam "Corpo de Voluntários Russos", "Batalhão Siberiano" ou legião "Liberdade da Rússia". O serviço secreto russo FSB negou esses relatos e, em vez disso, informou a morte de mais de 100 sabotadores que supostamente tentaram entrar em território russo.

Unidades formadas só por russos

A legião "Liberdade da Rússia" é conhecida no mais tardar desde o início de abril de 2022. Ela foi supostamente formada por soldados russos capturados que passaram para o lado ucraniano – e também por voluntários com passaporte russo.

Eles são cerca de 500 homens, de acordo com Ilya Ponomaryov, ex-membro da Duma (câmara baixa do Parlamento russo) que agora vive no exílio e representa a unidade. Em 2014, ele foi o único a votar contra a anexação da península ucraniana da Crimeia.

A outra unidade, o "Corpo de Voluntários Russos", foi formada em agosto do ano passado. Seu contingente é mantido em segredo. No entanto, um combatente com o codinome "Cardinal", cuja identificação militar foi apresentada à DW, diz que ela desempenha as funções de uma companhia.

Uma companhia consiste de 30 a 150 homens. O cofundador da unidade, o empresário Denis Kapustin, com o pseudônimo Denis Nikitin, conhecido da direita radical russa, informou no final do ano passado que o "Corpo de Voluntários Russos" foi destacado para o Exército ucraniano desde o outono de 2022.

Recentemente, outra unidade, chamada "Batalhão Siberiano", tem lutado pela Ucrânia. De acordo com a mídia ucraniana, a maioria dos combatentes vem da Sibéria e do extremo oriente da Rússia. A existência de tal batalhão foi confirmada pelo ex-oficial do Exército russo Vladislav Amosov.

Homem com uniforme militar de combate e rosto coberto até o nariz
O combatente "Cardeal" quer um Estado-nação genuíno russoFoto: Sergey Satanovsky/DW

"Estado-nação genuíno"

Nas redes sociais, o "Corpo de Voluntários Russos" afirma que todos os membros têm opiniões conservadoras de direita. Por exemplo, o combatente "Cardeal" vê a futura Rússia como um "Estado-nação genuíno de russos nos territórios russos originais – levando em conta a integridade territorial da Ucrânia e de Belarus, assim como dos países vizinhos". Ele enfatiza: "Queremos estabelecer um Estado para os russos que queira viver em paz com todas as nações vizinhas".

Os membros da legião "Liberdade da Rússia", por outro lado, não expressam suas opiniões políticas publicamente. Ilya Ponomaryov ressalta que não existe uma ideologia dominante na unidade. "É o protótipo do futuro Exército da Federação Russa", diz ele, acrescentando que sua vantagem é que não é nem de esquerda nem de direita, nem liberal nem conservadora. "A ideia de resistir à agressão da Rússia une seus membros", diz Ponomaryov.

Dissolução ou preservação da federação?

O "Corpo de Voluntários Russos" pertence ao "Conselho Civil", uma nova associação de emigrantes russos fundada em Varsóvia, capital da Polônia. Anastasia Sergeyeva, que é responsável por questões internacionais nessa associação, dirigia até recentemente a fundação polonesa "Por uma Rússia Livre".

Ela diz que o "Conselho Civil" também inclui ativistas de repúblicas da Federação Russa e que eles são a favor do direito de autodeterminação de seus povos. O "Conselho Civil" publicou mensagens em vídeo no YouTube para chechenos e circassianos, os conclamando a lutar pela Ucrânia e pela independência de suas repúblicas. Sergeyeva está buscando doações privadas para financiar o trabalho do "Conselho Civil" e o treinamento de novos combatentes.

O representante da legião "Liberdade da Rússia", Ilya Ponomaryov, disse à DW no final de 2022 que havia conversado com representantes de vários países e da mídia sobre cooperação. Em contraste com o "Corpo de Voluntários Russos", que permitiria que regiões se separem da Federação Russa, a Legião declara que seu objetivo é "preservar uma Rússia unida e indivisível dentro das fronteiras de 1991". Entretanto, as regiões devem receber poderes de longo alcance e sua identidade étnica deve ser preservada. A Legião também coleta dinheiro para seu trabalho – em criptomoeda.

Recrutamento de combatentes

Antes de o "Corpo de Voluntários Russos" iniciar sua cooperação com o "Conselho Civil", ele só aceitava russos que já estavam no exterior. Muitos deles afirmaram que estão do lado ucraniano desde 2014, tendo participado como integrantes do Batalhão de Voluntários Azov dos combates em Donbass.

Hoje, o "Conselho Civil" é uma espécie de centro de recrutamento. De acordo com Anastasia Sergeyeva, ele agora também aceita homens diretamente da Rússia. No site do conselho, os voluntários em potencial podem preencher um questionário em um formulário do Google ou escrever para uma caixa de entrada criptografada do ProtonMail. "A comunicação posterior é feita por meio de sistemas seguros que nós sugerimos", explica Sergeyeva, sem entrar em detalhes.

Anastasia Sergeyeva
Anastasia Sergeyeva, do "Conselho Civil" da oposição russa, apoia o direito dos povos à autodeterminaçãoFoto: Zivilrat der russischen Opposition

Como enfatiza Oleksiy Arestovych, que já foi assessor do gabinete presidencial ucraniano, inicialmente apenas os prisioneiros de guerra russos que mudaram de opinião eram recrutados para a legião "Freedom of Russia". No entanto, de acordo com ele, a legião agora também está aceitando homens que ainda estão na Rússia.

Também neste caso, os candidatos devem primeiro enviar seu currículo e cópias de uma série de documentos, incluindo identidade, para uma caixa postal do ProtonMail. Conforme relatado pela legião, o procedimento de admissão inclui um teste com um detector de mentiras, assim como testes psicológicos e outros testes de aptidão.

Durante muito tempo, o "Corpo de Voluntários Russos" e a legião "Liberdade da Rússia" se criticaram mutuamente. Entretanto, sua última operação mostra que essas unidades também podem lutar juntas contra um inimigo comum.