Globalização
5 de junho de 2007Críticos da globalização, da sociedade de consumo e das estruturas hierárquicas, eles estão presentes, isolados ou em grupos, em quase todas as grandes cidades alemãs. Mas quem são e de onde vêm os "autônomos" e os "blocos negros", cujos recentes confrontos com a polícia, em Rostock, fizeram centenas de feridos?
"Autônomos são extremistas de esquerda que se aliaram em grupos diferentes das formas clássicas de organização partidária, para – pelo menos em alguns campos temáticos – instigarem trabalho político através de ações espontâneas. Eles perseguem visões anárquicas e comunistas difusas", afirma o glossário da Secretaria do Interior do estado da Renânia do Norte-Vestfália.
Diferentemente da Autonomia Operaia italiana do final do anos de 1960, a origem do movimento autônomo alemão está nos protestos estudantis dos anos de 1967/68. Dos "velhos esquerdistas" surgiram os "novos esquerdistas", cuja luta política se caracterizaria, a partir de então, por ações espontâneas sem organização e direção e pela autonomia em relação a partidos políticos e sindicatos.
Menos comunidade, mais violência
No final dos anos de 1970, no contexto dos protestos contra a instalação de usinas atômicas, ouviu-se falar pela primeira vez dos "autônomos". Tais grupos ou pessoas já se denominavam "autônomos" no início dos anos de 1980, em suas ações contra grandes projetos, como a construção da central nuclear de Brokdorf e da nova pista de decolagem no aeroporto de Frankfurt.
Da formação de repúblicas e do squatting (ocupação de prédios abandonados) dos primeiros anos, as ações dos autônomos adquiriram caráter cada vez mais violento com a participação dos assim chamados "blocos negros".
Segundo o relatório do Departamento Federal de Proteção da Constituição de 2006, existiriam na Alemanha cerca de 6 mil extremistas de esquerda potencialmente violentos. A maior parte deste total (5,5 mil) seria composta por autônomos.
A imagem do autônomo teria mudado bastante desde a queda do Muro, afirma a Secretaria da Renânia do Norte-Vestfália. O número de pessoas isoladas aumenta cada vez mais na cena dos autônomos. Repúblicas e prédios ocupados quase não existem mais. A secretaria aponta o fim do comunismo, com a queda do Muro em 1989, como um dos motivos do esfacelamento da cena autônoma, que passou a se organizar cada vez mais, a partir de então, em agrupamentos pequenos.
Blocos negros
A partir dos anos de 1980, acirrou-se a legislação em torno das manifestações. Com a posterior proibição do uso de escudos e capacetes por parte dos manifestantes, eles começaram a se organizar em blocos cerrados, criando assim um escudo contra a polícia. Encapuzados e vestidos de preto, os manifestantes evitam assim o seu reconhecimento por parte das autoridades. Em protestos, o aparecimento dos "blocos negros" sempre chama a atenção da mídia, afirma a Secretaria do Interior da Renânia do Norte-Vestfália.
No entanto, não somente a extrema esquerda alemã participa destes blocos. Além dos autônomos vindos dos países vizinhos, que nos últimos tumultos em Rostock corresponderam a 20% dos manifestantes presos, a extrema direita alemã também está presente através dos "autônomos nacionalistas", grupo formado a partir dos anos de 1990, cujas formas de atuação se assemelham bastante às da extrema esquerda.
Tais grupos assumem a estética e as palavras de ordem da cena de esquerda. Modelos da extrema direita tornam-se assim compatíveis com as necessidades do moderno lifestyle das grandes cidades, explica a Central de Formação Política do estado de Brandemburgo. Além disso, a partir dos protestos de 1° de maio de 2004, em Berlim, os extremistas de direita passaram a participar também dos assim chamados "blocos negros".
"A vestimenta preta nos possibilita a não diferenciação de antifas (milícias antifascistas) e o não reconhecimento por policiais... Não acreditamos que o sistema capitalista tenha que ser melhorado ou reformado – o sistema vigente é o erro e tem que ser substituído por uma nova sociedade livre, justa nacional e social", explica um panfleto de uma organização de extrema direita citado pela central de Brandemburgo.
Autônomos e a internet
Apesar da antipatia contra os avanços tecnológicos do capitalismo, a internet tornou-se um instrumento essencial de comunicação para grupos de autônomos. Segundo a Secretaria do Interior da Renânia do Norte-Vestfália, existem atualmente cerca de 1,2 mil páginas de orientação de extrema esquerda em língua alemã.
Devido ao fácil acesso, a internet não se prestaria somente os serviços de mobilização e conscientização, mas também de propaganda e agitação. Quase toda grande organização de extrema esquerda, como a Antifa Renânia do Norte-Vestfália, possui um portal próprio de internet, explica o governo do estado.
Como meios de mobilização para interconexão e agitação de conteúdos de extrema-esquerda, portais como Nadir, Indymedia Deutschland e Linke Seite prestam um apoio fundamental na internet. Nadir, o mais antigo de todos, funciona também como servidor para muitas páginas de internet de organizações de extrema esquerda alemãs, informa a Secretaria.