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Quanto custa a pandemia para a Alemanha?

9 de dezembro de 2020

Parlamento debate em Berlim o orçamento alemão para 2021. Estão previstas novas dívidas de 180 bilhões de euros. Parece muito, mas será que vai bastar, se o país entrar em lockdown rigoroso?

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Ministros Peter Altmaier e Olaf Scholz debatem com premiê Angela Merkel no Parlamento
Da esq.: ministros Peter Altmaier e Olaf Scholz confrontam premiê Angela Merkel em debate orçamentário no BundetagFoto: John MacDougall/AFP

A Alemanha discute acaloradamente sobre como prosseguir o combate à pandemia da covid-19. O caminho alternativo de um "lockdown light" parece não estar funcionando: é fato que, desde o início de novembro, está fechado tudo que possa dar alegria no tempo livre, porém a economia segue ativa, lojas, escolas e jardins-de-infância continuam abertos.

O incremento exponencial dos contágios foi sustado, porém o número de novos casos e de óbitos permanece alto demais. Uma segunda paralisação, desta vez rigorosa, está no ar. Ela poderia ser decretada ainda antes do Natal. Mas qual seria o seu preço?

O governo alemão contraiu em 2020 dívidas adicionais em torno de 160 bilhões de euros para proteger a saúde dos cidadãos e ajudar a economia a atravessar a crise. No orçamento de 2021 está previsto em recorde de mais 180 bilhões de euros em dívidas, num total de gastos de quase 500 bilhões de euros.

A questão é se essa soma bastará, caso tenha que ser fechado muito mais do que até agora. A questão deve ocupar o ministro das Finanças Olaf Scholz. No entanto nesta primeira semana de dezembro, em que no Bundestag (câmara baixo do parlamento alemão) se debate o orçamento de 2021, ele não quis demonstrar nenhuma insegurança.

Autoelogios e muitas dúvidas

Em vez disso, Scholz enfatizou que até agora a Alemanha tem atravessado a crise muito melhor do que muitos predisseram: apesar da paralisação parcial, em diversos setores a economia já retornou aos níveis de antes da crise. A Alemanha estaria recebendo elogios internacionais por sua gestão de crise: "Esse é o padrão áureo, assim se deve fazer para combater uma crise tão grande assim", formulou Scholz.

O alto endividamento não é algo fácil para ele, mas é justificado, a fim de se vencer a crise: "Está se empregando muito dinheiro, porém de forma bem refletida", assegura. Afinal, conseguiu-se amortizar as dívidas também após a crise financeira e econômica, mais de dez anos atrás, "por isso é muito plausível que vamos conseguir".

Mas será que a economia – não só da Alemanha, mas da Europa e do mundo – vai de fato conseguir se recuperar tão rapidamente, que as dívidas ficarão sob controle? Na Ásia já grassa a terceira onda da pandemia. Que consequências isso terá para a vacinação que se anuncia?

No momento, ninguém pode afirmar se um endividamento de 180 bilhões de euros bastará para o próximo ano. E o ministro das Finanças deixa claro que o auxílio estatal deve ter limites: "Não podemos financiar tudo o que qualquer um tenha imaginado", adverte. Trata-se, antes, de investir em projetos de futuro e assim fortalecer a economia, de modo que a Alemanha possa "crescer para fora da crise".

Verdes querem investimento no futuro

Esse ponto de vista é partilhado pelos verdes, embora criticando a distribuição das verbas orçamentárias. Segundo eles, na pandemia de covid-19 se investe muito pouco nos setores futuros importantes e se perde de vista a transformação da economia em direção à neutralidade climática.

"Está enganado quem pensa que seja possível financiar um aço, uma indústria química climaticamente neutros, a reestruturação ecológica da indústria automobilística, a ampliação maciça da infraestrutura ferroviária, simplesmente assim, com o dinheiro da caixinha", critica Sven-Christian Kindler, porta-voz dos verdes para questões de política orçamentária. Seria antes necessária uma "grande ofensiva de investimentos" de 50 bilhões de euros por ano.

É possível arcar com as ajudas para economia, afirma Kindler. A Alemanha lucra tanto com suas tomadas de empréstimo porque nos mercados financeiros estão sendo pagos juros negativos, e eles devem ser utilizados. Até porque o país tem uma quota de endividamento relativamente modesta, na comparação internacional. E não se deve começar cedo demais com o amortização dos créditos, arremata o perito do Partido Verde.

Esperanças no pós-pandemia

A opinião do Partido Liberal Democrático (FDP) é bem outra: "Dívidas são um veneno doce", adverte o especialista em orçamento Christian Dürr. Os encargos atuais recairiam sobre as gerações futuras, o que é inaceitável. Para os liberais, o ministro das Finanças está assumindo créditos altos demais, e em parte desnecessários, até porque os subsídios não chegariam a muitas empresas.

O partido A Esquerda faz essa mesma crítica ao ministro da Economia Peter Altmaier, apontando tanto os atrasos no pagamento das ajudas de novembro de dezembro quanto o fato de muitas empresas sequer serem consideradas como carentes de ajuda.

No debate no Parlamento, Altmaier se defendeu. "É, quem age também comete erros": com 3 milhões de potenciais candidatos a subsídio, não pode haver justiça absoluta em cada caso. Em novembro e dezembro, a federação compensará as empresas fechadas com 75% de seu faturamento, algo inédito na história do pós-guerra, argumentou o democrata cristão.

Já foram foram pagas ajudas de até 10 mil euros a cerca de 100 mil requerentes, prosseguiu o ministro da Economia. Como está claro que essa soma não basta para firmas maiores, ele e seu colega das Finanças, Scholz, concordaram em elevar as ajudas a até 50 mil euros.

Altmaier conta que, graças às vultosas ajudas econômicas, será possível um reaquecimento rápido após a pandemia. Os últimos meses mostraram que isso funciona: "Na maioria dos países à nossa volta, a perda foi duas vezes maior, e a recuperação foi só a metade", afirmou o ministro alemão da Economia.

No entanto, essa recuperação poderá ser rapidamente anulada se a Alemanha tiver que entrar num segundo lockdown rigoroso, a menos que os fechamentos e os danos econômicos possam ser reduzidos a um mínimo. A Academia Nacional das Ciências Leopoldina recomenda uma paralisação radical do Natal até, no mínimo, 10 de janeiro, quando, de qualquer modo, são férias escolares, e na economia muitos fazem uma pausa.