Quais as chances de um democrata cristão suceder Merkel?
15 de janeiro de 2021Quando, em 26 de setembro de 2021, os alemães elegerem seu próximo parlamento federal, Angela Merkel terá cumprido 16 anos de mandato como chefe de governo.
Ela viu virem e irem três presidentes americanos, cinco primeiros-ministros britânicos e sete presidentes do Conselho italianos. Nas muitas crises desse período, a chanceler federal foi um porto seguro, desde a do endividamento estatal europeu até a pandemia de covid-19. Portanto seu sucessor ou sucessora terá largos passos a seguir.
Oficialmente, a convenção virtual do partido de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), marcada para este sábado (16/01), reunindo 1.001 delegados, nada tem a ver com a sucessão da chanceler, trata-se "apenas" da disputa pela liderança partidária.
Porém como há meses a sigla é, de longe, a mais forte nas pesquisas de opinião, automaticamente também se considera a questão da chefia de governo: quem for o líder da CDU deve, por princípio, estar apto a assumir a Chancelaria Federal.
Homens católicos da Renânia do Norte-Vestfália
São três os candidatos à presidência democrata cristã, substituindo a inexpressiva Annegret Kramp-Karrenbauer: o ex-chefe da bancada da CDU no Bundestag (câmara baixa do parlamento) Friedrich Merz, o governador da Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet, e o especialista em política externa Norbert Röttgen.
Em comum, os concorrentes têm o fato de serem todos homens católicos e pais de família do estado da Renânia do Norte-Vestfália. Do ponto de vista político, todos defendem o curso do centro: a CDU precisa se destacar nitidamente, tanto da Alternativa para a Alemanha (AfD), à direita, quando do partido A Esquerda.
Eles também partilham a preocupação com o futuro da CDU, que costuma mancar atrás das mudanças sociais. "Somos representativos da sociedade? A resposta é 'não'", abordou Laschet abertamente seus correligionários, pouco tempo atrás.
Em consequência, eles querem atrair mais jovens, mais mulheres e mais cidadãos de origem estrangeira, tanto para seus quadros como para seu eleitorado. Sobre os imigrantes, Laschet comentou: "Se os conquistamos, temos uma chance de permanecer partido majoritário no longo prazo." Os três almejam, ainda, mais digitalização e mais proteção climática, porém associadas a uma economia forte.
Reconhecível, elegível, renovada?
Ao lado desses pontos em comum, cada candidato à liderança democrata cristã tem suas ênfases especiais. Laschet dá grande importância à justiça social e segurança interna.
Röttgen, presidente da Comissão de Política Externa do Bundestag, exige mais responsabilidade da Alemanha na Europa e no mundo. "Somos o partido internacional, o partido europeu, o partido transatlântico. Precisamos voltar a preencher isso", declarou recentemente a funcionários da CDU.
Merz é considerado representante da economia e defende um fortalecimento do perfil conservador. Seus apoiadores esperam que ele traga de volta os eleitores da populista de direita AfD.
O cientista político Uwe Jun, da Universidade de Trier, reduz as diferenças entre os três aspirantes à seguinte fórmula: "Merz quer antes que o partido seja reconhecível; Laschet, que seja mais elegível no centro político; Röttgen é pela renovação."
Tudo indica que Laschet garantiria uma continuação praticamente inalterada da política de Merkel. Ele apoiou sem reservas a chanceler federal, tanto em sua controvertida política para os refugiados como na abertura do partido para a esquerda. Talvez por isso ela tenha dado a perceber um favoritismo pelo governador renano.
Merz, que perdeu por pouco para Kramp-Karrenbauer cerca de dois anos atrás, provavelmente é quem mais transformaria a União Democrata Cristã. Numa conferência digital recente, ele instou o partido a sair da sombra de Merkel: embora ela tenha garantido pontuação alta nas enquetes, graças à boa gestão da crise do coronavírus, "em 26 de setembro não seremos eleitos por gratidão pelo passado, mas sim com expectativas e esperanças para o futuro".
Eleitorado quer outro candidato
Mas o que quer e de que precisa a legenda democrata cristã: renovação ou continuação da política Merkel, sem Merkel? Para Uwe Jun, não é possível dar uma resposta genérica, pois depende da perspectiva.
"Em sua autoimagem, a CDU sempre se definiu como partido do governo eficaz junto ao eleitorado. Tomando-se isso como parâmetro, Laschet é quem representa o menor risco": ele é o único que no momento exerce um cargo governamental, enquanto Merz nunca ocupou nenhum.
E Röttgen foi demitido como ministro do Meio Ambiente de forma espetacular por Merkel, em 2012. Ele fracassou fragorosamente na candidatura ao parlamento estadual da Renânia do Norte-Vestfália, mas preferiu garantir seu posto de secretário em Berlim, em vez de se tornar líder oposicionista em Düsseldorf.
Mas a questão da experiência de governo não parece nem favorecer Laschet, nem prejudicar os demais. Pois, com quase 30%, Merz lidera as pesquisas, enquanto Röttgen e Laschet apresentam, ambos, 25% entre o eleitorado da CDU. No total alemão, Röttgen se posiciona até mesmo à frente de Laschet.
O fator decisivo, entretanto, é que nenhum dos três se destaca como candidato à Chancelaria Federal na preferência dos alemães. O ministro da Saúde, Jens Spahn, que oficialmente apoia Laschet conta com muito mais pontos na escala de predileção. Só com sua trajetória pessoal o político homossexual de apenas 40 anos levaria novos ares à CDU. Mas no momento ele descarta concorrer à chefia de governo.
Melhor ainda é a situação para um político que sequer é membro da CDU, e sim de seu partido-irmão: 55% dos alemães e até mesmo 80% dos conservadores cristãos consideram o líder da União Social Cristã (CSU) e governador bávaro, Markus Söder, como bom aspirante a chanceler federal.
A questionamentos nesse sentido, ele tem sempre respondido: "O meu lugar é na Baviera." Fica em aberto se ele se recusaria, mesmo se a CDU lhe designasse formalmente a candidatura.