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Pílulas pelo correio

Ingo Uhlenbruch (as)14 de dezembro de 2003

Em vários países a venda de remédios pela internet já faz parte do cotidiano. A partir de 2004, as farmácias alemãs também poderão fazê-lo, mas terão de enfrentar a forte concorrência internacional.

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Mercado farmacêutico fortemente regulamentadoFoto: AP

Em Frankenthal, no Estado da Renânia-Palatinado, impera um ambiente de mudança: o farmacêutico Achim Kaul iniciou uma nova atividade ao lado da filial local da sua farmácia. Com uma firma de vendas por reembolso postal ele complementa o seu leque de produtos e oferece cosméticos e remédios sem prescrição médica para venda na Internet. Kaul mal pode esperar pela oportunidade de enviar também remédios de venda controlada para o domicílio de seus clientes online.

“Eu espero por essa oportunidade há bem uns dez anos”, diz Kaul, que está prestes a transferir seu negócio para um novo galpão, de 750 metros quadrados. “Nós não estamos mais dando conta de atender à grande procura com as nossas instalações atuais.” O número de pedidos praticamente dobrou durante os meses de testes da nova loja.

"Também haverá farmácias no futuro"

Kaul investiu em tecnologia para o seu novo negócio: “Nós oferecemos consultas gratuitas pelo call center. O processamento de dados e a logística foram otimizados. Tudo material de última tecnologia”, explica com orgulho. Mas o farmacêutico não quer acabar com o comércio de bairro. Seguramente, sublinha ele, as farmácias tradicionais continuarão existindo no futuro. Para Kaul, o comércio pelo correio é um complemento e não um substituto para as farmácias.

A lei alemã diz que medicamentos de venda controlada só podem ser retirados em farmácias mediante a apresentação de uma receita médica válida. Exceções só são permitidas quando o paciente está comprovadamente impedido de comparecer ao local. Enviar a receita ou medicamentos pelo correio é, por enquanto, proibido.

Quem lucra com essas restrições são farmácias de reembolso postal dos demais países da União Européia. Elas recebem com gosto as receitas de seus clientes alemães pelo correio e providenciam a entrega dos medicamentos. A principal fonte de dor de cabeça para os boticários alemães é a farmácia online holandesa DocMorris, cujos principais clientes estão na Alemanha e que se utiliza de diversos "jeitinhos holandeses" para burlar a lei. O que para uns é um negócio lucrativo, para outros é concorrência desleal. Com a nova legislação, essa situação deverá ser corrigida a partir do começo do ano.

Caos entre as autoridades

Mas até janeiro ainda há muito o que fazer: um fornecedor da Baixa Saxônia falou à DW-WORLD sobre a “situação caótica” da burocracia para a obtenção de uma licença para a venda online de medicamentos. Na condição de atuais responsáveis pela fiscalização, os funcionários do governo distrital de Weser-Ems não têm nenhuma informação sobre como fazer a inscrição. Formulários de requerimento, bem como prospectos de instruções, também não estão disponíveis.

A repartição pública confirma as declarações, mas assegura que os prospectos estão sendo preparados. Formulários para a obtenção de uma licença também devem estar disponíveis a tempo.

O presidente da Federação Nacional de Farmácias de Reembolso Postal, Thomas Kerckhoff, conhece esse problema. No momento é necessário mostrar um pouco de paciência, diz ele. “A lei diz que o comércio online será permitido a partir de 1º de janeiro de 2004. Também serão definidos critérios claros para a concessão de licença às farmácias online. Além disso, o procedimento ainda não está testado e por isso ainda há muita insegurança, que aos poucos desaparecerá.”

Seguros de saúde interessados

O interesse no comércio eletrônico de medicamentos é grande. Até mesmo os seguros de saúde vêem na nova opção a possibilidade de reduzir custos. A Gmünder Ersatzkasse fechou um contrato com a DocMorris que permite uma futura redução de custos para a seguradora.

Também outro seguro, a Techniker Krankenkasse, está em negociações com fornecedores. O boticário Johannes Mönter, de Bad Laer, garantiu à seguradora: “Com o nosso centro de logística nós poderemos oferecer medicamentos baratos aos conveniados.”

Apesar das novas facilidades, as farmácias online alemãs terão a partir de 2004 que enfrentar uma concorrência desleal que certamente trará muita dor de cabeça. A DocMorris já anunciou que cobrará de seus clientes apenas a metade da taxa que lhes cabe na compra de medicamentos, desconto que as farmácias alemãs estão proibidas de conceder. Por lei, não há descontos para remédios de venda controlada.

Não é de se espantar, portanto, que a empresa holandesa não pretenda se instalar na Alemanha no próximo ano: “O mercado alemão de medicamentos ainda é fortemente regulamentado”, afirma o gerente Ralf Däinghaus. A regulamentação de preços para remédios com venda controlada é “uma clara desvantagem de concorrência para as farmácias alemãs.”