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Pyongyang se abre a cooperações científicas

Brigitte Osterath ca
1 de março de 2019

Politicamente, a Coreia do Norte está isolada, mas na ciência a situação é diferente. Planos para um novo observatório num vulcão em atividade exigem cooperação internacional.

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Foto da cratera do monte Paektusan, na fronteira entre Coreia do Norte e China
Observatório conjunto da Coreia do Norte e do Sul poderá ser construído no monte PaektusanFoto: picture-alliance/dpa

Em julho de 2004, Richard Stone viajou pela primeira vez para a Coreia do Norte, na época, como jornalista da revista científica Science. Como cidadão e jornalista dos EUA, obter um visto foi complicado: "Os EUA não têm relações diplomáticas com a Coreia do Norte, em princípio, os dois países ainda estão em guerra". Mas Stone teve sorte: na Embaixada da Coreia do Norte na Rússia, ele conheceu o adido científico norte-coreano e foi oficialmente convidado a visitar o país.

Era um outro mundo para ele. "Os pesquisadores trabalhavam numa espécie de bolha", conta. "Eles não podiam participar de conferências, não podiam discutir com outros cientistas fora da Coreia do Norte e sua literatura científica consistia principalmente em fotocópias de revistas ocidentais de antes de 1991."

Mesmo assim, o jornalista científico encontrou projetos de conteúdo, também fora das pesquisas de armas nucleares. Já bem cedo, os norte-coreanos provavelmente tiveram êxito na clonagem de coelhos. "Eles me mostraram os coelhos, e eles realmente se pareciam com o original", diz Stone, rindo. "Claro, não publicaram os resultados em revistas. Eu tive simplesmente que acreditar neles."

Atualmente, a Coreia do Norte está cientificamente muito menos isolada do que antes, explica Stone. Ele é agora membro do Comitê Nacional da Coreia do Norte, uma ONG que promove intercâmbios entre o país asiático e os Estados Unidos.

"Eu estive lá várias vezes desde 2004 e observei como a comunidade de pesquisa norte-coreana se abriu ao mundo, com pesquisadores tendo agora melhor acesso à literatura científica e o país reconhecendo que a ciência depende da cooperação", aponta Stone.

Existem agora tantas colaborações internacionais com a Coreia do Norte que o Conselho de Ciência da Coreia do Sul já está falando do "despertar de uma nova era". Para a reunião da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), realizada em meados de fevereiro em Washington, o Conselho da Coreia do Sul organizou até mesmo uma sessão separada sobre o tema.

"Acreditamos que a ciência é o melhor ponto de partida para construir confiança entre dois países", avalia Sun-Hwa Hahn, diretora do Conselho de Ciência sul-coreano. Obviamente, ela também está falando da Coreia do Norte e do Sul.

No entanto, nem um único norte-coreano esteve presente na reunião, nem entre os oradores nem na plateia. Para cidadãos da Coreia do Norte, entrar nos EUA continua sendo extremamente difícil.

Na reunião da AAAS, Hong-Jin Yang, pesquisador do Instituto de Astronomia e Ciência Espacial da Coreia do Sul em Daejeon, apresentou ambiciosos planos: um observatório conjunto da Coreia do Sul e do Norte em solo norte-coreano. Ele deverá ser construído no monte Paektusan, elevação de mais de 2.700 metros de altitude na fronteira com a China. "É a montanha mais alta e mais escura da península coreana, com visibilidade muito boa", diz Yang.

As condições para esse projeto não são ruins: em 2012, a Coreia do Norte se juntou novamente à União Astronômica Internacional (UAI), uma associação mundial de astrônomos com sede em Paris. O país havia sido expulso da UAI em 1996 por ter deixado de pagar as taxas de filiação.

"Fiquei muito contente quando eles se associaram novamente", afirma George Miley, ex-chefe do observatório em Leiden, na Holanda, e vice-presidente da UAI na ocasião. "E espero que a cooperação continue a crescer. Porque se a astronomia não é internacional, o que é então?" Quatro anos atrás, Miley recebeu dois pesquisadores convidados da Coreia do Norte no instituto em Leiden.

Vista do lago na cratera do monte Paektusan
Última erupção do vulcão Paektusan aconteceu em 1903Foto: Richard Stone

Hong-Jin Yang e seus colegas norte-coreanos planejaram um observatório conjunto, mas nunca trocaram uma palavra pessoalmente. Os sul-coreanos estão proibidos de se comunicar diretamente com a Coreia do Norte. "Temos que recorrer ao Ministério da Reunificação da Coreia do Sul", diz Yang. "O Ministério envia nossa mensagem para a Coreia do Norte. Isso não é fácil nem rápido."

"A Coreia do Norte é uma sociedade oculta", acrescenta Sun-Hwa Hahn. "É difícil achar o interlocutor certo e depois contatá-lo." O ativista Stone pode se comunicar com pesquisadores norte-coreanos através de e-mail dos EUA, mas sempre há apenas endereços coletivos para os institutos, apontou. "Uma resposta não chega de um dia para o outro."

Mas o astrônomo Yang diz estar otimista de que a situação política continuará a se acalmar e que, em breve, ele poderá viajar à Coreia do Norte para conhecer os seus colegas. O mais tardar quando o observatório estiver realmente construído. Ele também espera que os norte-coreanos estejam presentes na próxima reunião da UAI, na Coreia do Sul em 2021.

O monte Paektusan não é apenas o local preferido para um observatório, mas é também um vulcão ativo. Sua erupção no ano 946, conhecida como "erupção do milênio", foi "uma das três maiores erupções vulcânicas nos últimos 10 mil anos", segundo Richard Stone.

Desde 2002, há cada vez mais tremores no local da erupção anterior, e pode-se medir o alargamento da montanha, provavelmente por um lago de magma no interior. Uma nova erupção atingiria não apenas a China, mas também a Coreia do Sul e até o Japão, informa Stone. "O vulcão foi pouco estudado. Até agora não sabemos nem mesmo a razão de sua existência, já que não se encontra no Anel de Fogo do Pacífico, onde estão muitos outros grandes vulcões."

A pedido da Coreia do Norte, em 2011, Richard Stone trouxe pela primeira vez vulcanologistas e sismólogos britânicos ao país asiático. Nos anos seguintes, eles instalaram vários sismógrafos para mapear as câmaras de magma no interior do vulcão.

"Nós publicamos as descobertas", diz Stone, "junto aos cientistas norte-coreanos. Eles participam da avaliação de dados. Não estamos indo ao país para coletar dados e depois publicá-los sozinhos posteriormente". Stone afirma ter certeza: essas cooperações funcionam por meio de uma verdadeira cooperação.

Apesar de tudo: pesquisar na e com a Coreia do Norte continua a exigir grande esforço. Por exemplo, na Coreia do Norte praticamente não há acesso à internet, afirma Richard Stone, explicando que isso dificulta a troca de dados com parceiros de cooperação.

Stone também disse que, devido às sanções à Coreia do Norte, uma missão de pesquisa também demanda muita preparação, especialmente se os EUA estiverem envolvidos. "É preciso convencer o governo dos EUA de que o projeto é importante e não viola interesses nacionais, especialmente que não ajuda o programa norte-coreano sobre armas de destruição em massa."

Para tudo que os pesquisadores ocidentais queiram trazer à Coreia do Norte, eles precisam de uma permissão do governo de seu país, "do laptop ao pen-drive", afirma o ex-jornalista da Science, explicando que eles ainda estariam aguardando a aprovação para as suas próximas medições vulcânicas, planejadas para meados do ano.

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