Putin aberto a conferência de paz para a Líbia em Berlim
11 de janeiro de 2020Durante coletiva de imprensa conjunta com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, em Moscou, neste sábado (11/01), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, acenou seu apoio à realização de uma conferência de paz para a Líbia em Berlim.
Ainda será necessário algum trabalho preparatório, acrescentou o chefe do Kremlin, "mas seria um bom passo na direção certa", sendo, segundo ele, ainda necessária uma coordenação detalhada com o lado líbio. Merkel disse torcer pelo sucesso dos esforços russos por um armistício no país norte-africano abalado pela guerra civil.
"Uma conferência de Berlim assim só pode ser a abertura para um processo mais longo", comentou a chefe de governo. Ela frisou que o encontro deverá transcorrer sob a égide das Nações Unidas e disse ser importante que os interesses dos próprios líbios permaneçam em primeiro plano.
Nord Stream 2 permanece
Putin e Merkel também discutiram o polêmico projeto Nord Stream 2, destinado a fornecer gás à Alemanha, que depende fortemente de empresas russas para cobrir suas necessidades energéticas.
A instalação, pertencente à estatal russa Gazprom, foi alvo de sanções dos Estados Unidos sob a alegação de que pode ser usado como uma "ferramenta de coerção", capaz de transformar a Alemanha em "refém da Rússia".
Na coletiva conjunta em Moscou, Merkel declarou não concordar com a abordagem americana de impor sanções – as quais o governo alemão já condenara, justificando que as penalizações interferem em sua soberania nacional. "Apesar das sanções, será possível completar o Nord Stream 2", garantiu a líder alemã. "Há um certo atraso, mas ele será completado", frisou.
Por sua vez, Putin comentou: "Espero que, até o fim deste ano ou no primeiro trimestre do próximo, os trabalhos estejam concluídos, e o gasoduto comece a funcionar."
Esforços internacionais pela Líbia
O governo federal alemão tem atuado por uma solução política para a Líbia. Uma conferência reunindo as partes do conflito internacional era planejada para o fim de 2019, mas acabou sendo adiada. Na quarta-feira, Putin e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, apelaram para que se efetue um cessar-fogo na noite deste domingo.
Também na Turquia e na Itália, houve encontros de cúpula em torno do conflito líbio. Após um encontro com Erdogan em Istambul, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, elogiou a "linguagem construtiva" da declaração divulgada pelo líder turco e Putin.
Ao mesmo tempo, Michel manifestou "apreensão com a mais recente declaração de intenções conjunta entre a Líbia e a Turquia". Ancara apoia o governo unificado de Fayez al-Sarraj em Trípoli, tendo enviado tropas para respaldá-lo. Por sua vez, após uma conversa com o premiê italiano, Giuseppe Conte, em Roma, Sarraj louvou o empenho alemão por uma conferência berlinense para a Líbia.
O país é palco de uma guerra civil desde a queda de Muammar Kadafi, em 2011. No conflito, a Rússia se posicionou do lado do influente general Khalifa Haftar, o qual contaria com o apoio de mercenários russos.
Indagado a respeito por jornalistas, porém, Putin afirmou que, caso se encontrem cidadãos russos no local, "eles não representam lá os interesses do Estado russo". Com seu autodenominado "Exército Nacional Líbio" (LNA), Haftar controla diversos territórios no leste do país. Suas tropas procuram tomar a capital, Trípoli, sede do governo reconhecido internacionalmente.
Abertura humanitária na Síria
Quanto à situação na Síria, Merkel se pronunciou pela abertura de mais uma passagem de fronteira para o fornecimento de bens humanitários. "Fico feliz que na noite passada se conseguiu reabrir pelo menos duas passagens humanitárias em direção a Idlib, pois lá as pessoas passam grandes necessidades."
A premiê disse esperar "que consigamos mais uma passagem humanitária, em direção ao nordeste da Síria – lá existe também disposição a prosseguir com as negociações".
Após semanas de bloqueio russo e pouco antes do esgotamento do prazo, o Conselho de Segurança da ONU conseguiu entrar em acordo sobre a manutenção de vias de assistência para a Síria. No entanto, os bens humanitários só poderão entrar no país por duas passagens, em vez de quatro, como até agora. Essa solução poderá cortar o fornecimento para mais de 1 milhão de necessitados no nordeste do país.
No conflito sírio, Moscou está do lado do presidente Bashar al-Assad, que conseguiu retomar o controle de amplas regiões do país com apoio dos militares russos. Putin disse na coletiva de imprensa que a situação no país árabe "se estabilizou" e que "as estruturas estatais voltaram a se formar".
AV/afp/rtr/dpa
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