Harry acusa imprensa de semear a discórdia na família real
9 de janeiro de 2023Uma entrevista do príncipe Harry à emissora britânica ITV neste domingo (08/01) repercutiu na imprensa britânica e internacional. Antes do lançamento mundial de seu livro de memórias Spare, nesta terça-feira, o príncipe falou sobre a obra, em que acusa a imprensa, especialmente os tabloides, de semear o conflito no seio da família real.
Em uma reação incomumente discreta, os jornais britânicos de todos os espectros políticos se concentraram em dois assuntos da entrevista: o príncipe Harry afirmou que nunca acusou a família britânica de racismo, mas apenas de preconceito inconsciente em relação a sua esposa, Meghan.
Em segundo lugar, ele revelou suas emoções conflitantes em relação à madrasta, Camilla, a rainha consorte, o que ganhou as manchetes da edição impressa do jornal britânico The Guardian. Ele disse ainda na entrevista que pediu ao pai, o rei Charles 3º, que não se casasse com Camilla, aconselhando-o a ficar com ela sem o matrimônio. Mesmo assim, ele afirmou ter ficado muito feliz por eles quando se casaram.
A mídia britânica está mais tolerante com Harry?
No Reino Unido, a repercussão da entrevista na mídia impressa foi relativamente respeitosa, talvez em resposta às acusações do príncipe. Alguns meios de comunicação repercutiram mais a entrevista em seus portais online, como o The Guardian, que descreveu a entrevista como "furiosa", embora Harry não tenha se mostrado zangado durante a conversa, e enfatizando a sua felicidade na vida privada e o amor pela família.
Mais adiante na entrevista, porém, referiu-se à monarquia britânica e à família real como "agressores". "O silêncio só protege o agressor", disse ele, quando questionado sobre seus motivos para publicar um livro de memórias ao mesmo tempo que insiste que a imprensa respeite sua privacidade. Ele falou ainda longamente sobre o trauma da morte prematura da mãe.
A princesa Diana, apelidada de "a princesa do povo" devido à sua popularidade, morreu num acidente de carro em Paris em 1997, enquanto era perseguida por paparazzi. O acidente aconteceu um ano depois de Diana e Charles terem se divorciado formalmente, após anos de infelicidade no casamento.
Questionado se compareceria à coroação do pai, no próximo dia 6 de maio, se fosse convidado, Harry disse que "muita coisa pode acontecer entre agora e então", evitando uma resposta direta.
Desafiando a monarquia
Apesar de na última década estar diminuindo o apoio da geração mais jovem do Reino Unido à monarquia britânica, Harry disse na entrevista que o seu problema nunca foi com a própria monarquia, mas com a relação entre ela e a imprensa. Ele afirma que a família real alimenta os tabloides britânicos com informações, tornando-se cúmplice da relação prejudicial entre o público e a coroa.
Harry também disse na entrevista que "o mundo" pede a responsabilização da família real britânica pelo que fez a ele e à sua esposa, enquanto países da Commonwealth, da Austrália à Jamaica, discutem a possibilidade de remover o monarca britânico como seu chefe de Estado.
Enquanto isso, historiadores no Reino Unido e políticos das antigas colônias têm apelado para que a família real britânica e o Reino Unido reconheçam a opressão colonial que exerceram no passado e sua participação no comércio transatlântico de escravos.
A atenção da mídia para Harry e Meghan
O duque e a duquesa de Sussex geraram polêmica quando lançaram seu documentário da Netflix Harry and Meghan, em dezembro de 2022. Desde que deixaram a família real em 2020 e se mudaram para a Califórnia, nos Estados Unidos, eles mesmos passaram a ser responsáveis por gerir recursos para seu sustento.
Segundo sondagens do final de 2022, antes do lançamento do documentário e das memórias do príncipe, Harry e Meghan tinham alguns dos mais baixos índices de popularidade entre os membros da família real, enquanto o herdeiro do trono, William, e a sua esposa, Catherine Middleton, mantinham o posto de mais queridinhos entre o público britânico desde a morte da rainha Elisabeth 2ª, em setembro de 2022.