Papa na Alemanha
20 de setembro de 2011O Papa visita a Alemanha num momento em que a situação da Igreja em seu país natal é complexa. Depois que vieram à tona os casos de abusos de menores nos bastidores da Igreja, muitos católicos se desligaram da instituição. Também muitos fiéis críticos que exigem reformas na Igreja Católica estão insatisfeitos.
Na quinta-feira (22/09), Bento 16 inicia sua terceira visita à Alemanha desde que foi eleito Papa: a primeira foi em 2005, para a Jornada Mundial da Juventude, e a segunda em 2006, quando visitou a Baviera, o estado alemão onde nasceu. Desta vez, ele desembarca em Berlim, em sua primeira visita de caráter oficial. Mesmo assim, sua passagem pelo país não será considerada uma visita de chefe de Estado.
Discurso polêmico
Após conversas com o presidente da Alemanha, Christian Wulff, e com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, Bento 16 discursará perante o Parlamento. Esta será a primeira vez que um Sumo Pontífice fala ao Bundestag, o que gerou polêmica no país.
Aproximadamente cem deputados da oposição, entre estes do Partido Social Democrata, dos verdes e de A Esquerda, já anunciaram que não ouvirão o pronunciamento no Bundestag. Para eles, o Parlamento não é o lugar para discursos de líderes religiosos. O deputado do Partido Verde Christian Ströbele diz que "se vamos começar com isso, com a recepção de líderes religiosos e de Igrejas no Parlamento alemão, onde é que vamos parar?"
Protestos contra "falsa moral"
Durante a visita do Papa à capital alemã, cerca de 20 mil pessoas, segundo os organizadores, pretendem protestar contra o que chamam de "falsa moral" da Igreja em relação à sexualidade. Entre os manifestantes, estará o homossexual e deputado verde Volker Beck: "No que diz respeito aos direitos humanos e à política sexual, ele não corresponde ao que nossa Constituição exige da política. Contestar aí é algo legítimo e cada um deve decidir individualmente como fazer isso", comentou Beck.
O presidente da Conferência dos Bispos Alemães, arcebispo Robert Zollitsch, diz não ter, em princípio, nada contra os protestos que estão sendo preparados para o dia do discurso do Papa. "Foi o presidente do Bundestag que convidou o Papa. Foi uma iniciativa sua. Onde há diversidade de opiniões, é uma questão de democracia ouvir primeiro o outro e discutir com objetividade a respeito, sempre respeitando quando alguém diz que quer, de determinada maneira, divulgar sua opinião".
O número de admiradores do Papa é sensivelmente maior do que o de seus adversários. Aproximadamente 250 mil pessoas se registraram para as missas ao ar livre, que serão rezadas em Berlim, Erfurt e Freiburg. Até mesmo o Estádio Olímpico, na Berlim onde há muitos luteranos e ateus, já teve suas 80 mil entradas distribuídas, segundo a Conferência dos Bispos.
Encontro ecumênico
Bento 16, de 84 anos, se diz especialmente feliz por se encontrar com líderes da Igreja Luterana na Alemanha, justamente no convento de Erfurt, no qual Martinho Lutero, quando ainda católico, atuou como monge. A conversa entre luteranos e o pontífice deverá fortalecer o diálogo ecumênico entre as duas vertentes cristãs, quase 500 anos após o cisma que dividiu a Igreja Católica.
Sobre isso, Bento 16 afirmou à emissora de televisão ARD: "Não esperamos grandes sensações. A importância disso é que vamos pensar juntos neste lugar, vamos ouvir a palavra de Deus e rezar, estando tão próximos uns dos outros e fazendo jus à condição ecumênica".
No centro da Reforma Protestante, no estado da Turíngia, Bento 16 também irá falar sobre a reunificação do país. Em Freiburg, no sudoeste do país, ele irá prestar um tributo ao ex-chanceler federal Helmut Kohl, com uma audiência especial, por seus méritos no processo de reunificação do país.
Escândalos envolvendo abusos
Católicos leigos, mas também o clero, esperam do Papa palavras de esclarecimento a respeito dos casos de abuso de menores nos bastidores da Igreja, sejam estes recentes ou antigos. Bento 16 já se reuniu com vítimas de abuso tanto nos EUA quanto no Reino Unido. Isso deve acontecer na Alemanha também, embora nem local nem o horário tenham sido divulgados. Hannelore Bartscherer, presidente da Comissão dos Católicos, em Colônia, acredita ser necessário "que o Papa diga algo a respeito. As vítimas esperam que ele sempre se pronuncie, em plena consciência, sobre o assunto", disse ela.
Na região de Eichsfeld, um enclave católico na área predominantemente luterana do país, o Papa irá celebrar uma cerimônia litúrgica em uma capela nas proximidades de Erfurt, leste da Alemanha. Aproximadamente 60 mil pessoas se inscreveram para participar, o que significa um desafio logístico para a polícia, o transporte público e a defesa civil.
A viagem do Papa pela Alemanha termina no domingo, em Freiburg, diocese do arcebispo Robert Zollitsch, com uma missa e um pronunciamento na Konzerthaus (Casa de Concertos). Vinte emissoras de televisão de todo o mundo pretendem transmitir ao vivo os passos do Papa em sua terra natal.
"Turismo religioso"?
Apesar da atmosfera mundana, o Sumo Pontífice insiste no caráter religioso de sua viagem. Ele diz querer encorajar os 24 milhões de católicos na Alemanha a vivenciar sua fé, apesar das críticas, da carência de padres e da perda de fiéis. A Conferência dos Bispos publicou uma estimativa das despesas da visita de cinco dias do Papa à Alemanha, que custará aos cofres da Igreja Católica entre 25 e 30 milhões de euros.
Além disso, há os custos com segurança e forças policiais, difíceis de calcular.
Em Freiburg, por exemplo, cinco mil homens estarão em ação. Os gastos não significam, no entanto, que outros setores, como a ajuda à África, sejam prejudicados, explica Zollitsch: "A visita do Papa à Alemanha não provocará a redução da ajuda destinada ao Terceiro Mundo. Pelo contrário, a coleta feita nas missas durante a visita do Papa reverterá para o fundo Bento-África Oriental, criado especialmente para esse fim".
Autor: Bernd Riegert (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer