Protestos em Belarus são déjà-vu para ativistas da Ucrânia
12 de agosto de 2020Desde a eleição presidencial de domingo (09/08), não cessam os protestos em Belarus, apesar da repressão brutal pela polícia. Observadores traçam paralelos com os protestos da Maidan, a Praça da Independência de Kiev, mais de seis anos atrás, os quais acarretaram uma mudança de poder e de política na Ucrânia.
"Os acontecimentos em Belarus – em que se disparam balas de borracha nas cabeças, e um veículo para transporte de prisioneiros investiu contra uma multidão – despertam lembranças amargas", comenta Oleksandra Matviychuk, da iniciativa de sociedade civil Euromaidan SOS, que ajudou as vítimas durante os protestos da Maidan no inverno de 2013-14.
"Tal emprego de força é ilegal e deve ser imediatamente investigado em nível internacional, para que as autoridades de segurança bielorrussas não escapem impunes", comenta à DW. Junto com cerca de 100 outros ativistas, na noite de segunda-feira ela se postou diante da embaixada de Belarus na capital ucraniana, Kiev, para demonstrar apoio aos que vão às ruas no país vizinho.
Além de ativistas da sociedade civil, participaram da ação solidária políticos, imigrantes bielorrussos e voluntários que lutaram contra os separatistas no Leste da Ucrânia, instando as autoridades de Belarus a cessarem a violência contra os manifestantes.
Na opinião de seus apoiadores ucranianos, os ativistas bielorrussos deveriam acionar o mais rápido possível o Conselho da Europa para que a entidade observe os protestos e as transgressões de direitos humanos. É errado esperar que posteriormente se compilem informações e se iniciem investigações, deve-se agir logo para evitar ainda mais violência, insiste Matviychuk, pois "isso ajudou a evitar violações gritantes durante o Maidan".
Ela acha que os ucranianos devem se mostrar solidários com os bielorrussos e respaldar seu direito a eleições justas, pois o contrário ocorreu durante os protestos de Kiev, assim como houve ajuda na defesa à integridade territorial da Ucrânia na Bacia do Donets. Nos protestos da Praça da Independência, um jornalista bielorrusso esteve entre os primeiros mortos a tiros.
Para a advogada Evgeniya Zakrevska, que representa os familiares das vítimas de violência policial nos protestos de Kiev, "as transmissões de vídeo noturnas de Belarus são um déjà-vu duplo", como escreve no Facebook.
Por um lado, ela se refere à noite, no fim de novembro de 2013, em que as forças de segurança abafaram os protestos na Maidan contra a liderança ucraniana da época, depois que esta rejeitara o tratado de associação com a União Europeia. Por outro, a jurista recorda o ano 2010, quando manifestantes foram igualmente reprimidos a golpes de cassetete após as eleições na capital bielorrussa, Minsk.
O ativista ucraniano Pavlo Zydorenko, que lidera a iniciativa Vítimas da Maidan, foi um dos que ficaram feridos na ocasião. Embora apoie os manifestantes de Belarus e lhes deseje toda sorte, também ele tem uma sensação de déjà-vu, e não acredita que tenham chances de fazer o presidente Alexander Lukashenko ceder o poder após 26 anos: além de o nível de determinação não ser suficiente, não há organização entre as diversas forças oposicionistas.
"O Maidan era como um formigueiro, cada um fazia seu trabalho o melhor que podia. Havia uma meta e reinava a convicção absoluta de que eram necessárias mudanças. Uns vigiavam, outros prestavam socorro médico, outros traziam lenha para aquecer, outros defendiam os presos no tribunal", compara Zydorenko.
Ele considera asneira a afirmação de Lukashenko de que "manipuladores" da República Tcheca, Polônia, Ucrânia e outros países estariam por trás dos protestos de Belarus, pois "não se consegue organizar artificialmente um levante da sociedade assim; ou ele existe, ou não".
Também a jornalista bielorrussa Yelena Litvinova vê uma conexão entre os protestos em seu país e os de Kiev em 2013-14, já que ambos são por eleições livres, e não em prol de uma determinada figura ou candidato. No entanto há uma diferença clara: os da Ucrânia partiram de Kiev, com a participação de milhões, espalhando-se pelo resto do país. Em Belarus, o movimento é ao contrário: "As manifestações começaram nas regiões, e esse fator o poder estatal não considerou."
Ela vê duas rotas possíveis para Belarus: ou o presidente aceita que os cidadãos rejeitam a legitimidade das eleições e que há outras visões no país, além da sua; ou ele vai acirrar ainda mais a repressão.
"Não há caminho de volta, Lukashenko teve a chance de manter a compostura e não perseguir os ativistas. Aí a desconfiança em relação aos resultados das urnas não seria tão total: 80% dos votos para ele, é simplesmente demais, considerando quantos estão indo às ruas." A jornalista está convicta de que vai haver mudanças em Belarus: a questão é em que direção.
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