Crise no Egito
23 de novembro de 2011Novos confrontos foram registrados nesta quarta-feira (23/11) entre forças de segurança e manifestantes nas proximidades da praça Tahrir, região central do Cairo. Os enfrentamentos chegam ao quinto dia consecutivo.
Apesar de o Conselho Supremo das Forças Armadas propor uma eleição presidencial a ser realizada no final de junho de 2012, milhares de pessoas nas ruas exigem a dissolução imediata do governo militar e a instalação de um governo civil.
Conforme agências de notícias, um número menor de pessoas ocupou as ruas durante a madrugada, mas novos choques foram testemunhados pela manhã.
Alvo dos protestos é a junta militar comandada pelo marechal Mohammed Hussein Tantawi, que nesta terça-feira foi à televisão fazer uma série de concessões aos manifestantes. "Nós não podemos acreditar no que ele diz. A bola está com o conselho há meses e eles não fizeram nada", declarou um dos manifestantes, de 50 anos.
Tantawi disse que uma eleição presidencial vai ocorrer no final de junho de 2012 e ofereceu a realização de um referendo popular para decidir sobre a transferência imediata de poder. Antes disso, a eleição estava marcada para finais de 2012 ou início de 2013.
O marechal aceitou a renúncia do gabinete do primeiro-ministro Essam Sharaf, mas pediu que este continue o trabalho até a formação de um novo governo. Tantawi disse que o conselho está comprometido também com a realização das eleições parlamentares previstas para a próxima segunda-feira.
"Não queremos o poder"
O marechal anunciou nesta terça-feira, após reunião com integrantes de partidos políticos, que os militares estão prontos para ceder o poder antes do planejado por meio de um referendo. "As Forças Armadas não querem o poder e estão prontas para deixá-lo imediatamente, através de um referendo, se necessário", disse Tantawi.
Selim al-Awwa, possível candidato à presidência, que também esteve na reunião, disse que foi acertada a criação do que qualificou como "governo de salvação nacional", que implementaria os "objetivos da revolução".
Awwa confirmou também que os partidos aceitaram a proposta de transferência do poder para um governo civil, eleito pelo povo, até julho de 2012. Também foi anunciado que todas as pessoas presas durante os protestos dos últimos dias serão soltas.
O Conselho Militar enfrenta a sua pior crise desde que iniciou a governar o pais, com a queda do ex-ditador Hosni Mubarak, em fevereiro. Com pouco sucesso, vem trabalhando para tentar conter a crescente onda de protestos no país.
O marechal de 76 anos é da mesma geração de Mubarak. Ambos são veteranos da crise de Suez, em 1956, e das guerras contra Israel em 1967 e 1973. Opositores acusam o governo provisório de ser uma extensão do regime de Mubarak.
O possível candidato a presidência Mohamed El Baradei acusa as Forças de Segurança de promoverem um "massacre".
Número de mortos é incerto
Além de Cairo e Alexandria, são registrados protestos em diversas cidades nas regiões de Suez, Delta do Nilo, Mar Vermelho, Quena, Porto Said, Assiut e Aswan. Ao menos 35 pessoas morreram pela repressão policial desde o sábado, conforme informações de médicos e advogados para as agências de notícias. O governo egípcio divulgou que o número de mortos chega a 28.
O governo dos Estados Unidos declarou esperar que os militares egípcios cumpram suas promessas e que aguarda uma transição democrática no pais. A porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, condenou o "excesso de força" empregado contra os manifestantes e pediu que as autoridades garantam o direito a liberdade de expressão. "Nós acreditamos que o governo egípcio tem responsabilidade particular limitar a ação de suas forças de segurança", disse.
MP/dw/dpa/afp/rtr
Revisão: Alexandre Schossler