Protesto marca apresentação da Seleção
26 de maio de 2014A seleção brasileira iniciou nesta segunda-feira (26/05) a sua preparação para a Copa do Mundo. Os 23 atletas convocados pelo treinador Luiz Felipe Scolari se apresentaram, em meio a protestos, em um hotel ao lado do aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro. De lá, partiram em vans rumo à Granja Comary, em Teresópolis. O único jogador que não se apresentou foi o lateral-esquerdo Marcelo, do Real Madrid, liberado pela comissão técnica para festejar a conquistar da Liga dos Campeões. Ele se junta ao grupo na quarta-feira.
O clima que parecia tranquilo esquentou quando algumas centenas de manifestantes aproveitaram a ocasião para protestar contra a realização da Copa e por melhorias na educação, se solidarizando com a causa dos professores. Na saída do ônibus com os jogadores rumo a Teresópolis, alguns manifestantes deram tapas e colaram adesivos com a mensagem "não vai ter Copa" no veículo e cantaram "Pode acreditar, educador vale mais do que o Neymar".
Primeiro treino na quarta-feira
O primeiro atleta a chegar ao ponto de encontro foi o goleiro Jefferson. Seguido do atacante Fred e dos zagueiros David Luiz e Dante. "A expectativa é muito grande. É melhor chegar cedo do que atrasado. Estamos todos ansiosos, agora é encontrar tranquilidade, trabalhar forte. Eu acho que todos nós temos o pensamento de Copa do Mundo", disse o zagueiro do Bayern de Munique.
"Quero ser campeão, não estou preocupado com a artilharia. Vou dar o meu melhor, o primeiro objetivo é o título. Estou 100% física e psicologicamente. Contamos com o apoio de todos e tenho a certeza de que vai dar tudo certo", declarou Fred, um dos poucos jogadores que abaixou o vidro do carro e falou com os jornalistas.
As atividades desta segunda-feira e do dia seguinte se restringem aos exames médicos e psicológicos. Os exames psicológicos serão efetuados por Regina Brandão, com quem Felipão trabalha há mais de duas décadas. A psicóloga inclusive efetuou um trabalho semelhante com a seleção brasileira antes do Mundial de 2002.
"É uma questão cultural, a forma pela qual se comportam. Os brasileiros são mais intensos que os jogadores de outros países, para o bem e para o mal. Administrar as emoções é essencial para Scolari", disse Regina.
O questionário tem um conjunto de perguntas desde temas básicos (como a reação do atleta ao marcar um gol ou ao receber um cartão amarelo) até indagações familiares. São informações que orientam o treinador em como agir com determinado atleta: "Sou eu o psicólogo, ela [Regina] me dá uma ideia, e aí eu vejo se vou agir mais forte com determinado jogador. Tem alguns que no primeiro momento baixam a guarda", afirmou Felipão.
O primeiro treinamento com bola será nesta quarta-feira – sempre em dois turnos. A passagem pela Granja Comary será interrompida no dia 1º de junho, quando a Seleção viaja para Goiânia, local do amistoso contra o Panamá. O retorno a Teresópolis será no mesmo dia do jogo. No dia 5, os jogadores seguirão para São Paulo, onde vão enfrentar a Sérvia, no seguinte, no Morumbi. A delegação retorna ao Rio de Janeiro logo após a partida.
Forte vigilância
Nessas duas semanas na Granja Comary – e nos dias durante o Mundial – o time de Scolari será vigiado pelo maior esquema de segurança da história de uma preparação da Seleção. Ao menos cem agentes, do Exército, da Polícia Federal, da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e da Polícia Militar do Rio de Janeiro, além de seguranças particulares contratados pela CBF, fazem parte do esquema. Serão três barreiras de segurança, monitoradas 24 horas. Apenas moradores próximos a Granja, funcionários, familiares dos atletas e os cerca de 1500 jornalistas credenciados estão autorizados a entrar na Granja Comary.
Pela primeira vez desde a fundação da Granja Comary, em 1987, torcedores não poderão assistir aos treinamento da Seleção. Nas últimas duas Copas do Mundo, a seleção brasileira foi protegida por no máximo 40 seguranças. E, na convocação dos 23 atletas, Felipão deixou bastante claro que não quer que a bagunça que ocorreu durante a preparação para a Copa de 2006, em Weggis na Suíça, se repita.
“Espero que todos tenham o bom senso de saber que não é o momento para receber A, B ou C. O momento é de trabalho, de pensar apenas na seleção. Queremos que as pessoas entendam esses detalhes. Não vamos proibir tudo, mas vamos organizar as coisas”, disse o treinador, já experiente em Mundial.
Se em 2002 proibiu até o sexo para os jogadores, Felipão prometeu ser mais brando desta vez. “Não haverá proibições nem vetos, mas tudo será feito com moderação", disse, mas alertou: "Não dá para todo dia, pai, mãe, filho, cachorro e papagaio estarem na concentração. Isso não vai acontecer mesmo. Quem gostar, ótimo. Quem não gostar, não tem problema. Sai da seleção e fica com a família, o cachorro."
Premiação quase acertada
A primeira missão do grupo é decidir o valor da conquista do hexacampeonato mundial. Jogadores e comissão técnica querem decidir o prêmio logo no início dos trabalhos. O capitão da equipe, Thiago Silva, declarou que o acordo "está 90% acertado". E o montante não deverá ser pequeno.
A premiação de um eventual título virá do dinheiro que a Fifa repassará ao campeão. Pelo câmbio atual o vencedor do Mundial receberá o equivalente a 77 milhões de reais. A CBF precisa decidir quanto desse valor será repassado aos jogadores e à comissão técnica. Na última vez que foi campeão, em 2002, a premiação foi dividida igualmente entre todos, e na época cada um recebeu 150 mil reais.
A delegação atual, contando jogadores e comissão técnica, tem cerca de 40 pessoas. Se 60% do valor da eventual conquista do hexa forem repassados, cada um receberia mais de 1 milhão de reais. Mas a tendência é que a divisão idêntica não se repita, com os jogadores e integrantes mais importantes da comissão técnica ganhando mais.
Em 2010, na África do Sul, a federação espanhola ficou com cerca de 40% do prêmio e deu, para cada um dos 23 campeões, o equivalente a 1,9 milhão de reais. Membros da comissão técnica receberam bem menos.
A questão da premiação está causando um mal-estar, por exemplo, na equipe de Camarões, o terceiro adversário do Brasil na fase de grupos. Os jogadores, liderados pelo atacante Samuel Eto'o, se mostraram insatisfeitos com a premiação oferecida pela federação local e ameaçaram entrar em greve.
Segundo a imprensa local, cerca de 50 mil reais teriam sido oferecidos a cada jogador pela disputa da Copa. Com o valor negado, a quantia teria sido aumentada para 56,9 mil. O valor foi novamente rejeitado, e os jogadores cogitam não entrar em campo no amistoso do dia 1º de junho, contra a Alemanha, em Mönchengladbach.