Projeto carioca tem financiamento internacional
30 de junho de 2004Tema de uma tese de mestrado elaborada há anos pelo matemático brasileiro Luciano Basto Oliveira e apresentado em congressos internacionais, o projeto de transformar lixo em energia conseguiu amplo reconhecimento. O projeto piloto de uma usina para incineração dos resíduos sólidos produzidos no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está sendo financiado pela iniciativa Atmosfair, lançada recentemente na Alemanha.
Meta principal do projeto conjunto da UFRJ, da Companhia Municipal de Limpeza Urbana e da empresa Usina Verde é a redução dos gases causadores do efeito estufa. No momento, as cerca de 30 toneladas de lixo coletadas diariamente no campus universitário são depositadas num aterro. Um de seus incovenientes é a produção de metano que exala para a atmosfera. Da geração de energia elétrica com base em combustíveis fósseis, por sua vez, resultam altas emissões de dióxido de carbono. Ao todo, são cerca de 20 mil toneladas de gases prejudiciais ao meio ambiente, dia por dia.
A atual quantidade de resíduos sólidos permitirá operar uma usina com capacidade de um megawatt, que produzirá apenas cinco mil toneladas de gases, ou seja, 15 mil a menos por dia. Some-se a isto a geração de 50 postos de trabalho e a redução de 4% do lixo a ser depositado no aterro e tem-se uma noção concreta das vantagens evidentes do projeto.
Patrocínio do Pnuma
A iniciativa Atmosfair foi impulsionada sobretudo por uma rede de agências de viagens alemãs preocupadas com o impacto das viagens aéreas sobre o meio ambiente, o Forum anders Reisen (Fórum Viajar Diferente). O diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o alemão Klaus Töpfer, assumiu o patrocínio.
A idéia é simples: quem viaja de avião prejudica o meio ambiente. Afinal, o tráfego aéreo quintuplicou no mundo inteiro, desde 1970, e a tendência é continuar aumentando, diante do sucesso das linhas de custos baixos. A título de compensação do impacto, o passageiro pode ajudar a financiar um projeto em prol do meio ambiente num país em desenvolvimento. Para tanto, adquire um certificado da Atmosfair, de valor correspondente ao impacto ocasionado por seu vôo.
Adesão voluntária
Uma tabela reproduz os custos que cada vôo gera em termos de impacto sobre o meio ambiente, segundo cálculos realizados pelo fórum das agências de viagens. Um vôo de ida e volta entre Berlim e Bonn, por exemplo, custa oito euros.
Já as emissões resultantes de uma viagem de ida e volta do diretor do Pnuma da sede de sua organização em Nairóbi para a capital alemã, com escala em Frankfurt, correspondem a 4260 quilos de dióxido de carbono. "O senhor pode compensá-las comprando um certificado da Atmosfair por 74,40 euros", propõe o presidente do Anders Reisen, Roland Streicher, a Klaus Töpfer.
Claro que não há nenhum vínculo obrigatório entre a compra de uma passagem aérea e o pagamento de uma contribuição para o meio ambiente. O próprio diretor do Pnuma não acredita que todos os passageiros estarão dispostos a pagar voluntariamente uma taxa. Sua esperança é que o tema adquira maior publicidade por meio da iniciativa. Afinal, os prejuízos ocasionados ao meio ambiente têm seu preço.
"Esses custos precisam ser cobertos por alguém. Em geral, nós os transferimos justamente para aqueles no mundo que são muito mais pobres e para as gerações futuras", declarou Töpfer à DW-WORLD. A transferência de recursos para projetos como o do Rio de Janeiro, ou de uma cozinha solar na Índia, é um primeiro passo para passar a responsabilidade aos causadores dos danos.