Profissionais deixam Alemanha rumo à Turquia, fazendo caminho inverso
14 de abril de 2013"Eu não me arrependo por nem um segundo", diz Dilek Keser sobre a decisão que tomou há um ano e meio. Na ocasião, ela deixou a Alemanha – onde nasceu, formou-se em administração e trabalhou ao longo de dez anos como gerente de uma firma – e optou por uma vida nova na Turquia, terra de seus pais.
Na Alemanha, Dilek, hoje com 36 anos, não estava satisfeita com as perspectivas profissionais. Em Istambul, ela possui a própria empresa de administração imobiliária e cuida de propriedades de investidores estrangeiros da Europa e dos Estados Unidos. Trata-se de uma empresa turco-alemã, na qual ela ganha tanto em euro quanto em lira turca.
"Inicialmente, era importante para mim continuar ganhando em moeda europeia. Mas agora eu já posso dispensar isso", conta Dilek, que, por ter formação na Alemanha e dominar as línguas alemã, turco e inglesa, diz ter boas oportunidades no mercado de trabalho da Turquia.
Como ela, muitos turco-alemães são atraídos à pátria dos pais e avós. Os números do Departamento de Estatísticas da Alemanha apontam que 31 mil pessoas saíram da Turquia para se instalar na Alemanha em 2011, enquanto 33 mil fizeram o caminho inverso. A tendência se mantém ininterrupta desde 2006.
Um dos principais motivos é o sucesso econômico da Turquia e as boas oportunidades de trabalho a ele associadas. Em recente visita a Berlim, o ministro turco da Indústria, Nihat Ergün, declarou que a "Alemanha deveria enviar profissionais para a Turquia e não o contrário." Segundo o ministro, os cidadãos alemães sem raízes turcas também seriam bem-vindos.
Desde o fechamento do chamado "Acordo de Recrutamento", em 1961, até o fim da vinda planejada de mão de obra turca para a Alemanha, em 1973, por volta de 750 mil turcos foram trabalhar legalmente na Alemanha. Devido à larga mão de obra que a Turquia acabou perdendo, Ergün é contra um novo pacto nos mesmos moldes com a Alemanha.
Turco-alemães como motor econômico
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan planeja transformar a Turquia numa das maiores economias do mundo – o que deverá, segundo seus planos, acontecer o mais tardar até 2023. Em 2011, a Turquia apontou um crescimento econômico de 8,5%, impulsionado sobretudo pelos setores de construção e energia.
Mas, devido à má situação da economia na União Europeia (UE), o ano de 2013 deverá ser difícil para a Turquia, como prevê Sinan Ulgen, diretor do Centro de Estudos Políticos e Econômicos (Edam), de Istambul. "De qualquer forma, 40% das exportações turcas têm como destino a UE, e 85% dos investimentos estrangeiros diretos na Turquia vêm do bloco europeu", afirma.
Mas justamente em tempos difíceis economicamente, os trabalhadores turcos provenientes da Alemanha exercem um importante papel, destaca Ulgen: "A Turquia anseia pelo know-how dos trabalhadores de origem turca, que fizeram sua formação na Alemanha. Por conta de sua melhor situação financeira, eles são mais capazes de criar sua própria empresa na Turquia." Através de sua economia multifacetada, afirma, a Turquia oferece aos empreendedores melhores condições que a Alemanha.
Esse fato pode ser confirmado por Tolga Sandikci. Nascido em Munique, o ex-gerente mudou-se para a Turquia há cinco anos. Hoje, possui uma empresa própria em Istambul e vende placas de gelo para patinação. "Depois de três meses, eu já tinha 400 encomendas. Na Alemanha, minha empresa nunca teria crescido tão rapidamente", conta. "Na Turquia, há várias ideias de negócios que o país ainda precisa."
O empresário alerta, no entanto, para um otimismo ingênuo: "As diferenças de mentalidade são grandes. Desde que passei a viver na Turquia é que noto como eu sou alemão." De acordo com ele, na Turquia, o perigo de ser ludibriado nos negócios é maior que na Alemanha.
Alerta de bolha econômica
No entanto, o jornalista e economista turco Mustafa Sönmez adverte que o boom na Turquia também tem seu lado sombrio. "Os investimentos estrangeiros no setor de construção provocam uma bolha perigosa", afirma Sönmez. Por esse motivo, diz, a Turquia deve reduzir esse setor e ampliar a indústria, que está sendo bastante negligenciada.
"Nós somos uma nação importadora, mas precisamos nos esforçar bem mais pelas exportações, para que a economia turca não seja tão vulnerável", aconselhou Sönmez. Para o jornalista, esse problema seria muito mais urgente do que a contratação de mão de obra especializada da Alemanha.
Caso a situação venha a se deteriorar novamente na Turquia ou seja muito difícil superar as diferenças de mentalidade, os turco-alemães ainda têm uma grande vantagem. "Eu posso sempre voltar para a Alemanha", diz o empresário Sandikci, que considera uma "bênção" possui duas pátrias.