"Problemas internos afetam mais do que queda do yuan"
12 de agosto de 2015Pelo segundo dia consecutivo, o banco central da China impôs nesta quarta-feira (12/08) uma forte desvalorização do yuan. Com a ação, moedas de países emergentes, como o Brasil, cambalearam.
De acordo com Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade de Columbia, nos EUA, o principal objetivo do governo chinês ao desvalorizar a sua moeda é aumentar a competitividade das exportações do país.
Para ele, a desvalorização do yuan é um fator muito menos importante para a competitividade brasileira. "Os conhecidos problemas internos da economia brasileira, como o chamado custo Brasil, além das barbeiragens macroeconômicas dos últimos anos, são muito mais determinantes do subdesempenho brasileiro do que as oscilações da moeda chinesa", diz Troyjo.
DW Brasil: Por que o banco central da China decidiu desvalorizar pelo segundo dia consecutivo o yuan? Quais são os objetivos reais dessa manobra chinesa?
Marcos Troyjo: A razão de fundo é a competitividade das exportações chinesas. As autoridades econômicas de Pequim estão percebendo que a transição rumo a um modelo de crescimento baseado no mercado interno está mais lenta que o desejado.
E para o país fechar mais próximo da taxa de crescimento planejada de 7%, as autoridades estão modificando o câmbio para aumentar as exportações. Esse impacto de 2% terá um efeito muito importante, já que a China é a maior nação comerciante do mundo.
Qual é o impacto da desvalorização do yuan sobre a economia mundial e os efeitos cascata para os outros países?
Essas recentes desvalorizações ainda não são suficientes para reverter o processo de elevação dos custos de produção na China. Ainda assim, essa migração de parte do parque industrial da China para outros países de menor custo relativo ou até mesmo para os EUA não se dará de maneira tão acelerada como alguns analistas previam. Mas não haverá efeitos mais prolongados sobre o sistema financeiro mundial.
E as consequências da desvalorização para o Brasil?
A influência da pequena oscilação da moeda chinesa não é um fator determinante de como o Brasil sairá da crise. Se olharmos os números, as exportações brasileiras para a China não são tão elásticas quanto a preço. Não é porque a moeda chinesa está mais cara ou barata que a remessa de exportações do Brasil será afetada.
Não vejo um grande aumento no volume de importações chinesas pelo Brasil resultante dessa desvalorização. De janeiro a julho deste ano, a China exportou 7% a menos para o Brasil do que no mesmo período no ano passado. Isso se deve muito mais à contração da economia brasileira do que a uma moeda chinesa artificialmente depreciada.
O que Brasília poderá fazer para compensar eventuais efeitos colaterais à balança comercial do país ou à indústria nacional?
Pouco, mas a desvalorização do yuan é um fator muito menos importante para a competitividade brasileira do que temas como acesso privilegiado a mercados externos por acordos comerciais, boa logística, legislação trabalhista e tributária mais simples, retomada da confiança dos empresários, entre outros fatores.
A desvalorização do yuan vai gerar mais dificuldades para o Brasil sair da crise?
Os conhecidos problemas internos da economia brasileira, como o chamado custo Brasil, além das barbeiragens macroeconômicas dos últimos anos são muito mais determinantes do subdesempenho brasileiro do que as oscilações da moeda chinesa. Quer dizer, as características do cenário brasileiro são muito mais determinantes do que uma pequena depreciação da moeda chinesa.