Prisão de cartolas na Suíça é gol para Justiça brasileira
30 de maio de 2015Foi um verdadeiro gol de placa: o Brasil aclama a prisão de dirigentes da Fifa na Suíça, em especial a de José Maria Marin, até recentemente presidente da poderosa Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
"O clima aqui é muito otimista. Estamos torcendo para que as investigações continuem", comentou à DW o jornalista esportivo Ubiratan Leal, do portal de internet Trivela. "Para nós, o golpe contra a Fifa é uma vitória que vale a pena festejar."
Alegria maldosa, sentimentos de triunfo, alívio: a opinião pública brasileira recebeu com grande satisfação e simpatia a detenção dos dirigentes do futebol mundial. Depois das experiências durante o Mundial de 2014, a Federação Internacional de Futebol é vista no país como a corrupção, arrogância e incompetência em pessoa.
Projeção para Romário
Também para o ex-centroavante Alex de Souza, do Bom Senso FC, essa é "só a ponta do iceberg". Como o nome já indica, o movimento reúne jogadores e ex-jogadores dispostos a reformar o futebol brasileiro. "Nós esperamos que as investigações da Justiça americana obriguem também a CBF e os clubes a terem mais transparência."
O ex-craque Romário parabenizou a Justiça dos Estados Unidos e a polícia suíça pela operação. "Alguma hora isso tinha que acontecer", afirma o carioca, que é senador desde 2014. "Só é pena que os cartolas não foram presos no Brasil."
Depois de várias tentativas frustradas, nesta quinta-feira (28/05), por pressão de Romário, o Senado Federal aprovou a convocação de uma CPI para investigar as acusações de corrupção contra a CBF. Apelidado de "Baixinho" em seus tempos de atacante, ele ganha agora grande projeção política com o "Fifagate".
Além de Marin, um dos suspeitos detidos na Suíça é José Hawilla, dono da firma de marketing esportivo Traffic, assim como José Margulies, proprietário de diversas firmas encarregadas de negociar os direitos de transmissões televisivas.
Resquícios da ditadura
Aos 83 anos, Marin é conhecido no Brasil não apenas como cartola, mas também como político da ditadura militar (1964-1985). Em 1969 tornou-se presidente da Câmara Municipal de São Paulo, e de 1982 a 1983 foi governador do estado.
"No Brasil, Marin é odiado por muita gente, por causa da colaboração dele com os militares", lembra Ubiratan Leal. "Muitos estão dizendo: 'Agora só falta uma coisa: uma foto do Marin atrás das grades.'"
Durante a última Copa do Mundo, a Justiça brasileira provou que não só nos EUA, mas também no Brasil é possível investigar dirigentes do futebol de forma exaustiva e eficiente. Em 4 de junho de 2014 a polícia do Rio de Janeiro prendeu gerentes e funcionários de firmas parceiras da Fifa, que vendiam ingressos no mercado negro, a preços escandalosos.
Na época, a operação rendeu manchetes pelo mundo inteiro. E colocou no banco dos réus até mesmo a Fifa, que criticara duramente o Brasil por deficiências nos preparativos para o mundial, chegando a ameaçar transferir o torneio.
Sem futuro para Blatter
Agora as investigações do FBI voltam a colocar as autoridades brasileiras em foco. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, encarregou o Ministério Público de investigar eventuais irregularidades de dirigentes ou ex-dirigentes do futebol brasileiro.
O ícone anti-Fifa Romário está seguro de que isso é praticável. "Hoje foi dado o apito inicial para uma nova fase do futebol brasileiro", declarou, após a aprovação da CPI. "Espero que em breve também Joseph Blatter seja preso."
Para o jornalista Leal, o suíço já foi derrubado do trono – apesar da reeleição para a presidência da Fifa. "A eleição só vai dar tempo a ele para organizar a retirada", prediz. "Um presidente da Fifa que não tem mais nenhum respaldo do futebol europeu e que está sendo indiciado pela Justiça americana, não tem futuro."