Willem-Alexander assume na Holanda
30 de abril de 2013A cerimônia de posse do novo rei da Holanda, Willem-Alexander, decorreu de forma diferente da de sua mãe, Beatrix, que anunciou em janeiro que abdicaria do trono e assinou a renúncia nesta terça-feira (30/04), em Amsterdã. "Eu, rainha Beatrix, abdico em favor do meu filho, Willem-Alexander", diz o ato oficial que empossou o novo rei – o primeiro homem a governar a Holanda em 120 anos.
Há 33 anos, a rainha Beatrix era coroada em meio a manifestações violentas de sem-teto – que, na época, exigiam moradias acessíveis – e blocos autônomos de esquerda. Durante a cerimônia na Igreja Nova, em Amsterdã, Beatrix assumiu o trono após a renúncia de sua mãe, Juliana, ouvindo o protesto dos adversários da monarquia vindo do lado de fora.
Nesta terça-feira, apesar de uma pequena manifestação anunciada pelos republicanos, o clima geral é de festa. Cerca de um milhão de holandeses e turistas celebram a coroação em Amsterdã e festejam vestidos de laranja por todo o país. Segundo as pesquisas, tanto a rainha Beatrix, de 75 anos, quanto o seu filho Willem-Alexander, de 46 anos, têm bons índices de popularidade e quase 75% dos holandeses acreditam que a monarquia parlamentar é a melhor forma de governo.
O novo rei anunciou, em uma entrevista à televisão holandesa, que quer seguir os passos da mãe. "Eu quero ser um rei com base nas tradições de minhas antecessoras. Sou a favor da continuidade e da estabilidade no país, mas também vou ser um rei que une e um rei mediador."
Willem-Alexander quer se concentrar no trabalho social, seguindo o que já fazia como príncipe. "Claro que eu sou rei, mas também sou um ser humano com sentimentos. Sem sentimentos não se pode ser ninguém. É importante manter-se autêntico. Se não for autêntico, não dá para exercer a função", disse Willem-Alexander, na cerimônia antes da posse.
Willem-Alexander deve ser mais flexível que a mãe
A Constituição holandesa é muito clara quanto ao papel do monarca como chefe de Estado. O rei pode contribuir para a formação do governo porque ele pode nomear o mediador de negociações de coalizão.
O historiador da universidade alemã de Karlsruhe, Adel Rolf-Ulrich Kunze, comenta que a rainha Beatrix entendia o cargo de rainha como uma função política. "O verdadeiro poder de uma monarca holandesa e de um peso-pesado da política como Beatrix está na capacidade de dialogar com os atores políticos e definir agendas. Beatrix era mestra em abordar questões sociais polêmicas em seus discursos. Às vezes gostaria de ver esse tipo de atitude na presidência alemã", constatou Kunze em entrevista à DW.
O historiador afirmou ainda que não sabe se Willem-Alexander vai atuar da mesma forma que a mãe. "Agora vamos esperar e ver como ele vai fazer. É uma tarefa muito difícil. A nossa sociedade [ocidental] é tão complexa e deve-se levar em conta muitos fatores em um país pequeno, mas com relevância e conexões internacionais como a Holanda. Por isso, é difícil construir uma popularidade tanto social como midiática", disse o historiador.
Beatrix considerava a realeza como uma empresa de médio porte e valorizava um reinado com pompa, respeito ao protocolo e a uma certa distância do povo. Já o novo rei sempre procurou mais proximidade com a população.
Beatrix sempre foi tratada como Sua Majestade, e Willem-Alexander, apesar de não pretender abolir o título, parece ser mais pragmático. "Eu não tenho fetiches por protocolos", afirmou. Sua esposa, a nova rainha Máxima, elogia o marido como "uma pessoa que se inspira ao fazer contato com as pessoas e assim deve permanecer".
Parentesco com a Alemanha diminui
Em 2002, o Parlamento holandês anunciou, depois de certa hesitação, o consentimento legal para o casamento do então príncipe Willem-Alexander com a argentina Máxima. Devido à atuação do pai de Máxima, Jorge Zorreguieta, como secretário da Agricultura e Pecuária durante a ditadura militar argentina (1976-1983), ele não pôde participar das celebrações de coroação, em Amsterdã.
Os cônjuges das três antecessoras de Willem-Alexander eram alemães e a Casa Real também está intimamente relacionada à nobreza alemã.
Para a historiadora Monika Wienfort, porém, a conexão com a nobreza alemã não tem mais tanta importância. "As relações familiares existem, é claro, mas nos últimos 20 anos a tendência das monarquias europeias é de se relacionar dentro do próprio país. Essa ligação genealógica entre as famílias europeias vem diminuindo drasticamente.”
"Eu não sou só um número"
A Canção do Rei será executada, às 19h30, em todas as rádios do país para saudar o novo rei. Presentes foram dispensados pelo novo casal real, num momento em que a Holanda sofre com a crise econômica europeia. O patrimônio da casa real holandesa foi estimado em 200 milhões de euros pela revista americana Forbes. A rainha Beatrix recebia um salário anual de 800 mil euros, parte do qual gasta num vestuário ostensivo e em chapéus excêntricos.
O novo rei decidiu manter o próprio nome. Segundo o protocolo real, ele deveria ser chamado de Willem 4º. "Eu não sou só um número. A numeração é apenas para os historiadores. Mas eu não gostaria de ser chamado de Willem 4º nas ruas, mas sim de Willem ou Willem-Alexander", explicou o rei durante uma entrevista. Essa informalidade vem dos tempos de juventude de Willem-Alexander, quando ele tinha o apelido de Príncipe Pilsen por causa da sua preferência por cerveja.
Em Amsterdã, ao contrário de outras casas reais da Europa, não há uma grande cerimônia de coroação do rei, e sim apenas uma homenagem, como esclarece a especialista em assuntos reais da televisão alemã ARD, Leontine von Schmettow. "A coroa na Holanda nunca é usada sobre a cabeça. Isso está ligado ao fato de o país não ter uma longa tradição monárquica. Eles têm uma longa tradição republicana. No passado era comum que os soberanos cavalgassem normalmente pela província ou dirigissem a carruagem. Recebiam homenagens durante esses passeios e por isso a posse é uma homenagem."
Com a coroação do filho, a rainha Beatrix volta a ser princesa, mas não quer se retirar completamente da vida pública e pretende manter alguns compromissos na casa real. Beatrix também quer se concentrar na recuperação de seu filho Friso, de 44 anos, que ainda está em coma em uma clínica de Londres após um acidente de esqui, em 2012.
O novo rei Willem-Alexander também já tem sucessor. Sua filha mais velha, Catharina-Amalia, vai assumir o trono um dia. Ainda com 9 anos, ela já perguntou ao pai quanto tempo ele quer ficar no trono e quando ela poderá ser rainha. O rei, porém, não revelou qual foi a resposta dada à filha. "Isso ainda é segredo de Estado", desconversou.