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Pressão de Bolsonaro provoca troca de comando na Petrobras

20 de junho de 2022

José Mauro Coelho anunciou renúncia da presidência da empresa e foi substituído por interino. Bolsonaro defendeu abertura de CPI para investigar estatal e seus diretores após reajuste nos preços do diesel e da gasolina.

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Fachada da sede da Petrobras
Política de preços da estatal é um dos principais temas da pré-campanha eleitoral ao Planalto neste anoFoto: Wagner Meier/Getty Images

O presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, anunciou nesta segunda-feira (20/06) sua renúncia do cargo, em meio à crescente pressão do presidente Jair Bolsonaro e do presidente da Câmara, Arthur Lira, contra a política de preços de combustíveis praticada pela estatal.

Na sexta-feira, a Petrobras havia anunciado um reajuste de 14,26% no preço do diesel e de 5,18% no preço da gasolina vendidos para as distribuidoras, que entrou em vigor no sábado. A estatal justificou o aumento com base em sua política de preços, que acompanha a flutuação do mercado internacional.

A empresa passará a ser comandada interinamente pelo diretor executivo de Exploração e Produção da companhia, Fernando Borges. A informação foi divulgada em um comunicado da Petrobras protocolado junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Borges é funcionário de carreira da empresa, onde trabalha há quase 40 anos. Ele atuou como diretor do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) de 2016 a 2020, e foi indicado pela Petrobras para o cargo de diretor da Associação Brasileira de Empresas de Exploração e Produção de Petróleo e Gás (ABEP), na qual atua desde 2016.

Bolsonaro pediu CPI da Petrobras

Após o anúncio do reajuste, Bolsonaro defendeu a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras, seus diretores e conselheiros, algo que ganhou o apoio de Lira e também de legendas da oposição. Líderes da Câmara discutem nesta segunda-feira o pedido de abertura da CPI.

"Conversei ontem com o líder da Câmara [deputado Ricardo Barros] para a gente abrir uma CPI segunda-feira. Vamos para dentro da Petrobras. É inadmissível, com uma crise mundial, a Petrobras se gabar dos lucros que tem", afirmou Bolsonaro no sábado.

Na sexta-feira, após a reação do governo, a Petrobras perdeu R$ 27,3 bilhões em valor de mercado. No dia seguinte, Bolsonaro afirmou que o valor da empresa iria "perder outros 30 [bilhões]" nesta segunda feira, com a abertura da CPI.

Alinhado ao presidente, Lira defendeu na sexta-feira a renúncia de Coelho e o acusou de trabalhar "sistematicamente contra o povo brasileiro na pior crise do país".

Trocas de comando no atual governo

Há cerca de um mês, em 23 de maio, o Ministério de Minas e Energia já havia divulgado uma nota informando que o governo federal havia decidido demitir Mauro Coelho, apenas 40 dias após ele ter sido nomeado para o cargo, mas a mudança ainda não havia sido efetivada pelo Conselho de Administração da estatal.

Em maio, o governo indicou para comandar a Petrobras Caio Mário Paes de Andrade, atual secretário especial de Desburocratização do Ministério da Economia, cujo nome ainda não foi avaliado pelo Conselho de Administração.

José Mauro Coelho
José Mauro Coelho havia sido nomeado presidente da estatal em 13 de abrilFoto: Andressa Anholete/REUTERS

Coelho foi o terceiro presidente da estatal durante o governo Bolsonaro, e sucedeu Roberto Castelo Branco e o general da reserva do Exército, Joaquim Silva e Luna, que também caíram após pressões contra a política de preços da empresa.

Política de preços em debate

A Petrobras usa o Preço de Paridade de Importação (PPI) para definir o valor que cobrará dos distribuidores. Ele considera o preço dos combustíveis praticado no mercado internacional, os custos logísticos de trazê-los ao Brasil e uma margem para remunerar os riscos da operação. Como o preço no mercado internacional é em dólar, a cotação da moeda também influencia o cálculo.

Essa fórmula foi adotada no governo Michel Temer. Nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, a definição do preço considerava a variação do petróleo no mercado internacional, mas também os custos de produção de petróleo no Brasil. Dessa forma, a estatal segurava impactos de oscilações dos preços no mercado internacional para o consumidor interno.

Dependendo da diferença dos preços, porém, em alguns momentos essa política fazia a Petrobras lucrar menos do que poderia ou ter prejuízo por vender, no mercado interno, combustíveis por um valor abaixo do que ela havia pagado para importar, o que era desvantajoso para os acionistas.

Apesar da pressão constante contra a estatal, Bolsonaro não usou até o momento o poder do governo, como acionista majoritário da empresa, para efetivamente alterar a política de preços.

O tema é um dos principais da pré-campanha eleitoral ao Palácio do Planalto neste ano, devido ao impacto que tem no bolso dos eleitores e na inflação. Lula, pré-candidato do PT à Presidência, vem prometendo "abrasileirar" o preço dos combustíveis se for eleito.

bl/lf (ots)