Presidente de Ruanda é reeleito com 98% dos votos
5 de agosto de 2017O presidente de Ruanda, Paul Kagame, foi reeleito para um terceiro mandato após obter cerca de 98% dos votos na eleição presidencial realizada nesta sexta-feira (04/08), segundo resultados parciais divulgados pela comissão eleitoral neste sábado.
Com 80% das cédulas contabilizadas, Kagame, que comanda o país desde o genocídio de 1994, soma 5,4 milhões de votos. A comissão estimou que 97% dos 6,9 milhões de eleitores votaram nestas eleições.
Antigo guerrilheiro da minoria tutsi, Kagame governa Ruanda com mão de ferro desde 1994 e, com o novo mandato, deve ficar inicialmente pelo menos mais sete anos no poder. Considerado um herói por alguns e um déspota por outros, o líder da Frente Patriótica Ruandesa (FPR) enfrentou apenas dois concorrentes desconhecidos no pleito realizado nesta sexta-feira.
Os candidatos Frank Habineza, do Partido Democrático Verde (uma das poucas siglas de oposição toleradas no país) e Philippe Mpayimana, um independente, criticaram a campanha presidencial, que durou apenas três semanas. Segundo eles, autoridades locais de várias cidades sabotaram eventos de campanha e alguns casos intimidaram seus apoiadores.
Antes do pleito, Kagame já havia chamado a eleição de "mera formalidade". Segundo o presidente, o terceiro mandato já estava assegurado desde 2015, quando o povo votou num referendo para modificar a Constituição e conceder a Kagame a possibilidade de se candidatar a um terceiro mandato e, em caso de vitória, de concorrer mais duas vezes para mandatos de cinco anos. Dessa forma, o presidente poderá ficar no cargo até 2034.
Economia em crescimento
Kagame se tornou líder de fato de Ruanda em 1994, quando os rebeldes da FPR tomaram a capital do país, Kigali, e derrubaram o governo extremista hutu que havia desencadeado um genocídio que resultara na morte de 800 mil pessoas, especialmente membros da minoria tutsi e hutus moderados.
Legisladores nomearam formalmente Kagame presidente em 2000. Três anos depois ele seria eleito para o cargo pelo voto direto dos cidadãos, numa esmagadora maioria.
Kagame recebeu elogios internacionais por ajudar a reconstruir a economia do país após anos de genocídio. O ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush o chamou "um homem de ação" quando estava no cargo. "Agradeço o seu compromisso com a educação. E quero agradecer-lhe, senhor presidente, pelo seu entendimento de que a melhor forma de desenvolver uma economia é receber o capital privado", afirmou Bush.
Kagame é "um líder visionário", de acordo com o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.
Além dos elogios de líderes internacionais, os números parecem estar a favor de Kagame: desde a virada do milênio, a economia do país cresceu cerca de 8% ao ano. E, de acordo com um estudo do Banco Mundial, Ruanda é o segundo lugar mais fácil de fazer negócios na África.
A pobreza está em declínio, 90% da população têm seguro de saúde e a taxa de mortalidade infantil caiu em dois terços desde 1998. Além disso, a corrupção percebida é a mais baixa em comparação com quase todos os outros países africanos. As mulheres são metade dos membros do Parlamento.
Num discurso televisionado após a divulgação dos resultados da eleição, Kagame prometeu continuar o crescimento econômico de Ruanda. "São mais sete anos para cuidar de questões que afetam os ruandeses e garantir que nos tornemos cidadãos que verdadeiramente estão [economicamente] em desenvolvimento", disse.
Repressão política
No entanto, críticos e grupos de direitos humanos acusam Kagame de reprimir a oposição política, além de sufocar a liberdade de expressão. Ele foi acusado de encarcerar, exilar e até assassinar seus críticos.
O ex-chefe da inteligência ruandesa Patrick Karegeya, que havia procurado refúgio na África do Sul, foi encontrado estrangulado num hotel em 2014. Nunca foi provado que o governo estivesse envolvido no assassinato, mas, poucos dias depois da notícia de sua morte, Kagame disse: "A traição traz consequências".
Duas décadas de ataques muitas vezes mortais contra opositores políticos, jornalistas e ativistas dos direitos humanos criaram um "clima de medo" na nação africana, afirmou a Anistia Internacional num relatório publicado no mês passado.
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