Presidente da AfD anuncia que vai deixar partido
26 de setembro de 2017A recém-eleita deputada Frauke Petry, co-presidente e rosto mais conhecido da Alternativa para a Alemanha (AfD), anunciou nesta terça-feira (26/09) que vai deixar o partido nacionalista, mas sem definir uma data. Ela também não esclareceu se vai fundar um novo partido, ingressar num já existente ou exercer seu mandato como parlamentar independente.
A AfD obteve 12,6% dos votos na eleição legislativa federal de domingo passado e conquistou pela primeira vez assentos no Bundestag (Parlamento alemão). Nesta segunda-feira, um dia depois da eleição, Petry já havia anunciado que não faria parte da bancada do partido, que elegeu 94 deputados.
Este primeiro anúncio foi inesperado e feito ao lado de outros membros da liderança da AfD, logo no início de uma entrevista conjunta à imprensa, em Berlim. Petry disse não concordar com o rumo do partido e, em seguida, deixou o local sem dar mais explicações, diante do olhar perplexo dos jornalistas e colegas de partido.
Nesta terça-feira, durante uma entrevista em Dresden, na Saxônia, Petry disse que decidiu sair por causa da crescente radicalização da AfD. "Tenho cinco filhos e sou responsável por eles. No fim das contas, a gente ainda deve poder se olhar no espelho", declarou a deputada eleita, que é da ala moderada.
Pouco depois, o marido de Petry, o deputado estadual Marcus Pretzell, que é líder da AfD no estado da Renânia do Norte-Vestfália, anunciou que não integra mais o partido e que exercerá seu mandato na Assembleia local como independente.
Petry foi uma entre apenas três parlamentares eleitos pela AfD a conquistar um mandato direto no distrito em que concorriam, na eleição de domingo. Todos os três são da Saxônia, onde o partido é a maior força política. Os demais 91 entraram no Parlamento pela lista do partido.
Depois do anúncio, a AfD tentou afastar os temores de que outros deputados sigam os passos da presidente e comunicou que todos os demais 93 parlamentares eleitos compareceram à primeira reunião da nova bancada, em Berlim.
Cada vez mais isolada
Petry foi eleita para a presidência da AfD em julho de 2015, cargo que ocupa ao lado de Jörg Meuthen. Ela ascendeu à liderança depois de uma dura disputa interna com a ala eurocética, liderada pelo fundador e então presidente, o economista Bernd Lucke. Ele perdeu a disputa e acabou deixando o partido, junto com milhares de filiados, para fundar o novo partido Alfa.
Sob a liderança de Petry, a AfD evoluiu de um partido eurocético e conservador para uma agremiação anti-imigração e anti-islã, chegando ao auge da popularidade durante a crise dos refugiados, no segundo semestre de 2015. Na época, Petry também adotava a tática de chamar a atenção com declarações polêmicas. Em janeiro de 2016, disse que a polícia alemã deveria, caso necessário, usar armas de fogo contra refugiados ao longo da fronteira com a Áustria.
Mas as divisões e rivalidades continuaram marcando o partido, o que se refletiu numa intensa luta interna pelo comando, opondo Petry e a ala mais radical, liderada por Alexander Gauland. Um ponto alto dessa queda-de-braço foi a tentativa de expulsar um membro da ala radical, Björn Höcke, depois de ele ter dito que "os alemães são o único povo do mundo que plantou um monumento da vergonha no coração da sua capital". Petry criticou duramente Höcke, Gauland o defendeu.
Mas o ápice se deu em abril de 2017, durante a convenção partidária em Colônia. Petry anunciou que não seria a candidata de ponta da AfD na eleição para o Bundestag. Além disso, apresentou uma "proposta de futuro" para ser discutida pelos delegados e na qual defendia um curso mais moderado, que permitisse ao partido participar de coalizões de governo. A proposta nem sequer foi aceita para debate, e Gauland e a economista Alice Weidel foram escolhidos para liderar o partido na eleição.
Em agosto, o apoio a Petry já era tão pequeno que, quando um comitê parlamentar na Saxônia recomendou suspender a imunidade parlamentar dela por causa de uma investigação, outros membros da AfD não a defenderam publicamente. Promotores estaduais suspeitam que Petry mentiu sob juramento em novembro de 2015, quando ela e outro membro da AfD, Carsten Hüttler, alegadamente deram testemunhos contraditórios sobre a lista de candidatos e o financiamento de campanha na eleição estadual da Saxônia em 2014.
Depois disso, Petry ficou cada vez mais isolada e passou a chamar a atenção com entrevistas nas quais criticava declarações polêmicas de outros integrantes da direção, argumentando que eles afastavam eleitores moderados e condenavam a AfD a um papel na oposição. Pessoas de seu círculo próximo já esperavam um anúncio bombástico para logo depois da eleição, o que de fato aconteceu.
PV/afp/dpa/ap/dw