Presidente alemão defende liberdade de expressão na China
28 de novembro de 2022O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, expressou em entrevista à DW sua solidariedade à população chinesa diante dos protestos contra a rígida política sobre covid-19 no país.
"As imagens que nos chegam de Pequim e de várias cidades chinesas me comovem", disse ele em entrevista à DW, lembrando que a pandemia também colocou os alemães à prova.
"Só podemos imaginar quão grande é o fardo para as pessoas na China, onde as medidas são muito mais rígidas, muito mais duradouras e persistem até hoje."
"Pequim deve respeitar a liberdade de expressão"
Nos últimos dias, a indignação diante da estrita política chinesa de "zero covid" provocou protestos em toda a China, na maior onda de desobediência civil desde os atos pró-democracia de 1989.
O estopim foi um incêndio num edifício residencial em Urumqi, na região de Xinjiang, noroeste do país, que matou dez pessoas na última quinta-feira.
"Como democrata, só posso dizer que a liberdade de expressão é um bem importante", disse o presidente alemão. "E, ao que nós vemos, só consigo associar a esperança de que as autoridades estatais chinesas respeitem esse direito à liberdade de expressão e manifestação."
"Ucranianos ameaçados por dificuldades, escuridão e frio"
Sobre a guerra na Ucrânia, Steinmeier disse que condena os recentes ataques russos a civis e à infraestrutura de fornecimento de gás e eletricidade aos ucranianos:
"Acho que isso faz parte da estratégia de guerra que estamos vendo aqui. Não vemos apenas uma guerra agressiva, travada militarmente contra o Exército ucraniano. O que temos — e isso se torna mais visível quanto mais perto do inverno chegamos — é um ataque brutal à infraestrutura crítica e, é claro, à população civil."
Sobre a situação das pessoas na zona de guerra, Steinmeier também expressou profunda preocupação: "Vimos o que aguarda as pessoas na Ucrânia: dificuldades, escuridão e frio."
"Uma trégua neste ponto corroboraria toda a injustiça" cometida pela Rússia
Steinmeier, que também já foi ministro do Exterior da Alemanha, ainda não vê ocasião para conversas sobre um possível armistício.
"Todas as recomendações de se buscar uma trégua agora são claramente levianas, pois uma trégua neste ponto corroboraria toda a injustiça já cometida. Uma trégua agora significaria conceder à Rússia o território por ela ocupado. E com isso, as violações de fronteira, o desrespeito ao direito internacional e a apropriação de terras também seriam ratificados."
Steinmeier evitou comentar sobre eventuais garantias de segurança do Ocidente para a Ucrânia antes de Kiev e Moscou darem início a possíveis negociações. "Ainda estamos em um estágio em que não podemos dizer exatamente como seriam essas garantias de segurança."
"Armas nucleares não devem ser usadas"
No início do ano, Steinmeier foi duramente criticado por seus contatos pessoais de longa data com políticos russos na Ucrânia. Agora, o presidente alemão qualifica a ameaça russa de usar armas nucleares como intolerável.
"Isso, na verdade, vai contra toda a nossa experiência histórica. E representa um nova escalada que a Rússia está buscando nesta guerra. As armas nucleares não devem ser usadas!”
"Sou muito grato ao Bundestag alemão"
Em entrevista à DW, o presidente alemão saudou a intenção do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) de reconhecer nesta semana o chamado Holodomor e qualificá-lo como genocídio.
No início da década de 1930, milhões de pessoas morreram de fome na Ucrânia ao verem sua produção de alimentos sistematicamente subtraída e confiscada pela liderança soviética da época. Agora, o Partido Social-Democrata (SPD), o Partido Verde e o Partido Liberal Democrático (FDP), que compõem a coalizão que governa a Alemanha, além da União Democrata Cristã/União Social Cristã (CDU/CSU), da oposição, querem mudar isso com uma resolução conjunta.
"Foi uma estratégia consciente do regime de Stalin em 1932 e 1933 de deixar partes da população da então União Soviética morrer de fome", afirmou Steinmeier, que se disse "muito, muito grato" pelo fato de o Parlamento decidir mudar isso.