Premiê espanhol aposta alto e convoca eleições antecipadas
29 de maio de 2023O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, anunciou nesta segunda-feira (29/05) a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições antecipadas para 23 julho.
A decisão foi tomada após sua legenda, o esquerdista Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), ter amargado uma grande derrota nas eleições regionais e municipais de domingo, que favoreceram os candidatos de direita do Partido Popular (PP) e da legenda de extrema direita Vox.
As eleições parlamentares estavam originalmente previstas para ocorrer o final do ano, e a antecipação pegou de surpresa a maior parte de seu governo, segundo fontes próximas ao primeiro-ministro citadas pela agência Reuters.
No domingo, o PSOE perdeu 400 mil votos em comparação com a eleição regional de 2019, e seu parceiro de coalizão, a legenda de extrema esquerda Podemos, também registrou derrotas em todas as regiões.
Já o PP e o Vox tiveram um desempenho melhor do que o esperado. O PP conquistou a maioria absoluta na capital, Madri, enquanto os socialistas perderam o controle de Valência, Aragão e das Ilhas Baleares, bem como de seu reduto tradicional Extremadura e das cidades de Valência e Sevilha.
Sete das dez principais cidades do país e o governo quase todas as comunidades autônomas da Espanha agora estão sob controle da direita.
Aposta no medo da extrema direita
Alguns analistas avaliaram que a decisão de Sánchez pode ser uma tentativa de pegar seus opositores conservadores no contrapé e dar ao seu partido uma chance de assegurar o poder, ao invés de se enfraquecer ainda mais até o final de ano.
Essa estratégia considera que o PP, apesar de ter obtido o controle das maiores cidades espanholas, não conseguiu ter uma clara maioria de votos em âmbito nacional, o que o forçará a negociar uma aliança com o Vox para as eleições parlamentares.
Sánchez pode ter apostado que seus rivais não estariam prontos para fazer uma campanha coordenada até 23 de julho. Além disso, o premiê deve explorar o risco de a Espanha ter a extrema direita no poder pela primeira vez desde a morte do ditador Francisco Franco, em 1975, para tentar mobilizar os eleitores de esquerda e moderados.
É uma aposta parecida com a usada pelo premiê português Antônio Costa em janeiro de 2022, mas é incerto se funcionará também na Espanha, onde o próprio PP conseguiu em algumas cidades atrair eleitores moderados com o discurso de evitar a ascensão da extrema direita.
Sánchez diz buscar "esclarecimento" sobre o eleitor
O premiê espanhol descreveu a derrota de seu partido no domingo como um claro voto de desconfiança em seu governo de coalizão e disse que se sentia compelido a "assumir responsabilidade pessoal" pelo resultado.
Sánchez afirmou que busca um "esclarecimento sobre os desejos do povo da Espanha, um esclarecimento sobre a direção política que o governo deveria tomar e sobre as forças políticas que devem conduzir o país nesta fase". "Acredito que é necessário dar uma resposta e submeter nosso mandato democrático à vontade do povo", disse ele em um discurso televisionado.
O líder do PP, Alberto Nunez Feijoo, conclamou os eleitores a aproveitar as eleições antecipadas para torná-lo o próximo premiê. "Quanto mais cedo [a eleição], melhor", disse, pedindo aos eleitores que deem ao seu partido uma "maioria clara" para governar o país, acrescentando que vem mantendo conversas informais com o Vox.
O líder do Vox, Santiago Abascal, disse que seu partido estava aberto a "criar uma alternativa" a Sánchez, formando coalizões de governo nacionais e regionais com o PP.
Fama de tomador de riscos
David Hernandez Martinez, professor de relações internacionais da Universidade Complutense de Madri, afirmou à Reuters que Sanchez esperava usar a presidência espanhola do Conselho da UE, no segundo semestre de 2023, para se vender aos eleitores como um estadista internacional, e que o resultado de domingo "coloca uma enorme obstáculo nos seus planos".
Mas o primeiro-ministro é conhecido por assumir riscos políticos. Ele assumiu o cargo em junho de 2018 ao vencer o primeiro voto de desconfiança da história da Espanha, destituindo o primeiro-ministro do PP, Mariano Rajoy, após negociar um pacto com os partidos pró-independência catalão e basco. A fragilidade de seu governo o forçou também a convocar eleições antecipadas duas vezes em 2019.
"A alternativa seriam seis meses de sangria do governo", disse Oriol Bartomeus, cientista político da Universidade Autônoma de Barcelona, à agência de notícias AFP. "Ele decidiu apostar tudo. É típico de Pedro Sanchez, é o que ele faz."
bl (Reuters, AFP, ots)