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Portal alemão promove troca de alimentos para combater o desperdício

25 de janeiro de 2013

Cada alemão joga fora, em média, 80 quilos de alimentos por ano. Uma plataforma recém-lançada na internet tenta mudar essa realidade, incentivando a partilha de mercadorias que, de outra forma, terminariam no lixo.

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Foto: DW

O homem é uma máquina de jogar coisas fora. A maioria das pessoas cozinha em grandes quantidades, acumula alimentos para o futuro incerto, compra demais e não reaproveita sobras. Cada alemão joga fora cerca de 80 quilos de alimento por ano. A nova plataforma online foodsharing.de tem como objetivo levar as pessoas a repensar o problema. A nova tendência é compartilhar alimentos com estranhos.

A economia da partilha está em ascensão, seja em se tratando de carros, bicicletas, imagens e até mesmo escritórios. Pensando que essa tendência pode também ser estendida para os alimentos, os criadores do foodsharing.de lançaram a plataforma há pouco mais de um mês. Um dos fundadores da ideia é o renomado documentarista Valentin Thurn.

Seu filme Taste the Waste, de 2011, aborda os problemas de uma sociedade acostumada a viver em abundância e que não consegue mais reconhecer o valor de uma maçã, por exemplo. "Quando o filme foi lançado nos cinemas, muitas pequenas padarias nos ligaram para nos perguntar o que poderiam fazer com os muitos pãezinhos que não são vendidos", lembra Thurn. Assim nasceu a foodsharing.de.

Todos, sejam indivíduos ou empresas, podem simplesmente se registrar online e criar uma cesta de alimentos, descrevendo os itens que não pode mais usar e que gostaria de oferecer a outros de graça. Com ajuda de um mapa interativo, é possível saber que alimentos há para serem recolhidos e em que cidade. Em seguida, é só trocar e-mails e combinar um ponto de encontro para que a troca se complete.

Autor Valentin Thurn
Thurn, fundador do projeto, planeja desenvolver aplicativo para celularFoto: picture-alliance/dpa

Quem não deseja convidar estranhos para sua casa ou estabelecimento, pode deixar a mercadoria em um dos chamados foodsharing-hotspots. Soa moderno, mas trata-se apenas de armários comuns no meio da cidade, em que as pessoas podem pegar e depositar alimentos.

"Se tenho que atravessar a cidade só para pegar um quilo de batatas, o sentido ecológico da coisa se perde", destaca Thurn. "Por isso, queremos ter dez vezes mais membros do que agora, para que a coisa possa, talvez, funcionar entre vizinhos." A meta parece ser possível. Afinal, após quatro semanas de vida, a plataforma já contava com mais de 5 mil membros.

Produção de alimentos prejudica o clima

"Uma vez comprei pó de própolis, produzido por abelhas e considerado um remédio natural. Infelizmente, logo descobri que sou alérgica ao produto", conta a funcionária pública Ute Kos. "O pó foi muito caro. Por isso, decidi oferecê-lo na foodsharing.de. Caso contrário, seria uma pena ter que jogar fora." Foi a primeira vez que ela ofereceu algo através da plataforma – e provavelmente não foi a última. "Eu não ofereceria um bolo que sobrou de um aniversário, mas certamente vou usar esse serviço mais vezes e, talvez, até pegar algo de outras pessoas.

Foodsharing Ute Kos
Funcionária pública Ute Kos aderiu à plataforma para doar pó de própolisFoto: DW/R.Breuer

Thurn também disponibiliza cestas de alimentos na plataforma. "Sempre tive consciência ecológica, mas antes de lidar mais intensamente com o tema, eu subestimava o impacto ambiental dos alimentos", afirma o documentarista, acrescentando ser muito grande a quantidade de energia utilizada na produção de alimentos. "A produção do que comemos é responsável por 30% de todas as emissões de gases do efeito estufa. Claro que temos que viver de alguma forma, mas não temos que jogar fora a metade."

Thurn acredita ser importante que as pessoas tomem consciência do esforço necessário para a produção dos alimentos e acha que a raiz do problema está na distância que existe atualmente entre produtores e consumidores. "Estamos tão longe da vida no campo, da terra, que nos esquecemos do que é bom e do que é ruim. Os que crescem no campo confiam em seus sentidos e sabem dizer quando o leite estragou. O consumidor moderno não. Ele acredita na data de validade", observa Thurn. Ele critica a "ânsia de perfeição cosmética", segundo a qual, na maioria das vezes o que interessa não é o gosto, mas a aparência e o preço.

Data de vencimento como justificativa

"Na verdade, ninguém gosta de jogar comida fora. Há algo em nossa natureza humana que nos faz nos sentirmos desconfortáveis com isso, pois alimento é a base de nossas vidas", comenta o cineasta.

Foodsharing Anna Lumpe
Para a atriz Anna Lumpe, portal é um alívio para a consciênciaFoto: DW/R.Breuer

Mesmo assim, continuamos desperdiçando. "Sim, eu jogo fora alimentos quando a data de validade venceu. Isso é errado, eu sei disso", admite a atriz Anna Lumpe, moradora de Colônia. "Sei que a data é apenas uma justificativa para para mim mesma para jogar fora algo que, na verdade, comprei em excesso." Por isso, Lumpe se alegra em ter descoberto a foodsharing.de. "É uma ótima ideia oferecer às pessoas uma alternativa para o desperdício e que não requer muito trabalho."

Thurn e sua equipe planejam agora desenvolver um aplicativo para smartphones. A meta é que a pessoa possa, no caminho entre o trabalho e a casa, ver rapidamente se alguém em sua vizinhança está oferecendo uma cesta de alimentos. Pelo jeito, esses jovens empresários ainda têm muito trabalho pela frente. "Eu quero continuar sendo cineasta, mas atualmente o foodsharing.de está tomando todo o meu tempo", ri Thurn.

Autor: Henrik Böhme (md)
Revisão: Luisa Frey