Por que as emissões de carbono de transportes crescem tanto
24 de maio de 2023Apesar dos esforços para tornar as viagens de trem mais atraentes, eletrificar aviões e eliminar os combustíveis fósseis de carros e caminhões que obstruem as ruas das cidades em todo o mundo, as emissões de dióxido de carbono do setor de transporte global não estão caindo rápido o suficiente.
Mesmo com as atuais promessas e ações para reduzir as emissões do transporte, espera-se que os níveis de CO2 emitidos pelos veículos continuem aumentando na próxima década, segundo um novo relatório divulgado nesta quarta-feira (24/05) pelo Fórum Internacional do Transporte (ITF, na sigla em inglês).
Sem metas mais ambiciosas e implantação rápida de novas tecnologias, as emissões de carbono deverão ser, até 2050, apenas 3% mais baixas do que os níveis de 2019.
"O desafio é implantar tecnologias e implementar políticas para mudar o transporte de forma rápida e suficiente para modos mais sustentáveis, para compensar o que vemos como uma demanda crescente por viagens", diz Matteo Craglia, analista de transporte do ITF. "Este é particularmente o caso das economias emergentes, que devem aumentar significativamente a demanda por viagens."
O ITF, um think tank de transporte global ligado à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), projetou que, à medida que a população mundial cresce e a sociedade se torna cada vez mais globalizada, a demanda global de passageiros aumentará 79% até 2050. A demanda de frete deve praticamente dobrar.
A demanda de passageiros – medida pelo transporte de uma pessoa por um quilômetro – está prevista para mais do que triplicar na África Subsaariana e mais do que dobrar no Sudeste Asiático.
Essas estimativas levam em consideração a mudança de estilo de vida forçada pela covid-19, que provocou um crescimento do trabalho em regime de home office e de compras online em certas partes da sociedade. O relatório do ITF enfatiza, porém, que essa mudança não deve ser negligenciada pelos formuladores de políticas como uma chance de promover a "transição verde".
Transporte responde por 20% das emissões anuais de CO2
Craglia afirmou à DW que a "mudança em todo o sistema" em todos os setores, da geração de eletricidade ao transporte e à manufatura, é mais desafiadora do que qualquer coisa que a economia global já enfrentou no passado, especialmente quando se considera as diferenças regionais.
"Nem todos os países estão em posição semelhante para conseguirem descarbonizar ou têm nível de governança para ter capacidade de impulsionar as reformas e políticas necessárias para ajudar a acelerar a descarbonização", afirma o especialista, destacando o abismo existente entre países de alta e baixa renda.
Para que possa haver alguma esperança de que serão atingidas as metas climáticas de Paris de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) afirma que as emissões totais de transporte precisarão cair até 2050 para 80% abaixo dos níveis de 2015.
O setor de transporte – rodoviário, ferroviário, marítimo e aéreo – é responsável por mais de 20% das emissões anuais de CO2, sendo que os automóveis de passageiros respondem por dois quintos disso.
Embora a escala da mudança pareça assustadora, Craglia está confiante de que os veículos particulares estão a caminho de fazer a mudança e se tornar competitivos em termos de custo, citando o aumento nas vendas de veículos elétricos no mundo desenvolvido e na China. O relatório do ITF diz que, com base nos planos de política existentes, os veículos de emissão zero "devem representar até 2035 um quarto da frota global de automóveis de passageiros".
"No ponto de vista dos negócios, a coisa está progredindo, e agora é só implantar a infraestrutura", afirma. Isso inclui as necessárias redes elétricas de energia verde e estações de carregamento, especialmente carregadores de alta potência para caminhões pesados, que emitem uma parcela significativa das emissões de carga em todo o mundo.
No entanto, a aviação e a navegação – que contribuem com mais de um quinto das emissões anuais dos transportes – continuam a ser um grande desafio.
"As tecnologias para descarbonizá-los ainda estão em um estágio inicial de implantação, ainda frequentemente em pesquisa e desenvolvimento", ressalta Craglia. Ele cita como exemplos pesquisas sobre combustíveis de baixo carbono para transporte marítimo e combustíveis de baixo carbono e alta densidade energética para a aviação, como biocombustíveis feitos de resíduos agrícolas, algas e óleo de cozinha usado. Ele enfatiza a importância de outras medidas baseadas no mercado para apoiar o desenvolvimento nessas áreas, como a precificação do carbono.
Mudando a demanda para viagens sustentáveis
A tecnologia não será a única maneira de reduzir as emissões de carbono do transporte, segundo Craglia. "Mudar os hábitos das pessoas e incentivar uma mudança para opções mais sustentáveis também será fundamental", lembra. Isso será importante em redes de transporte estabelecidas e, especialmente, em áreas urbanas de rápido crescimento, que ainda precisam construir infraestrutura de transporte significativa na África e na Ásia. As opções sustentáveis incluem transporte público, carona compartilhada, caminhada, ciclismo e patinetes.
"Ajudar as economias emergentes a mudarem para sistemas de transporte mais sustentáveis com maior dependência de modos de transporte compartilhados e mobilidade ativa é particularmente importante", frisa. "Estes são alguns dos frutos mais fáceis de colher que realmente merecem a atenção dos formuladores de políticas."
Os formuladores de políticas terão a chance de trocar ideias desde esta quarta-feira até a próxima sexta na cúpula do ITF, um fórum anual para tomadores de decisão e especialistas discutirem políticas climáticas e de transporte em nível global.
O evento deste ano, em Leipzig, no leste da Alemanha, está recebendo cerca de 50 ministros de Transportes, deputados e outras autoridades de todo o mundo. Os organizadores também pretendem fazer do transporte uma das questões-chave na cúpula do clima COP28 em Dubai ainda neste ano, enquanto as nações revisam e renovam suas promessas climáticas.
Craglia diz que os últimos anos viram "uma intensificação da ambição política", apontando os esforços dos Estados Unidos para impulsionar o transporte de emissão zero com a Lei de Redução da Inflação do ano passado e os planos da União Europeia para eliminar gradualmente os motores de combustão interna até 2035. E ele espera que esse movimento continue em outras regiões, tanto com viagens de passageiros quanto de carga.
"O desafio é que ainda é necessário mais ambição, em todos os países do mundo", explica. "E isso deve acelerar muito rapidamente se quisermos cumprir as metas do acordo climático de Paris."