Populismo de direita ganha força entre alemães
25 de abril de 2019Desde 2006, a Fundação Friedrich Ebert, ligada ao Partido Social-Democrata (SPD), questiona a população alemã sobre seu sentimento em relação à extrema direita. Os resultados são publicados a cada dois anos no chamado Mitte-Studie (estudo sobre o centro).
Os autores da sondagem se dizem menos preocupados com o extremistas de direita do que com sentimentos típicos de extrema direita que parecem ser compartilhados por parcela cada vez maior da população.
Enquanto a cifra dos que têm uma visão de mundo claramente de extrema direita tem permanecido constante, na faixa de 2,5%, cresce a aceitação de ideias típicas do populismo de direita, como a rejeição ou desvalorização de determinados grupos populacionais, a crença em teorias da conspiração ou mesmo a defesa de formas autocráticas de governo.
"Algumas posições de extrema direita e ideias populistas de direita têm um lugar cativo na sociedade alemã", avalia Franziska Schröter, da Fundação Friedrich Ebert.
Os pesquisadores entrevistaram 1.890 pessoas entre 18 e 97 anos de idade, entre setembro de 2018 e fevereiro de 2019.
Os autores do estudo afirmam que a disseminação do populismo de direita – ao contrário da percepção generalizada – não é fenômeno novo na Alemanha. Enquanto em 2006, um em cada oito alemães concordava com posturas racistas, no estudo atual, o resultado é de um para cada 14 entrevistados. A hostilidade em relação aos muçulmanos era em 2006 de mais de 30%, bem mais difundida do que a atual, de 18,7%. O antissemitismo clássico e teses xenofóbicas eram duas vezes mais disseminados entre os entrevistados durante os anos 2000 do que o detectado pelo estudo mais recente.
Ao mesmo tempo, a "depreciação de pessoas que procuram refúgio" aumentou pela terceira vez consecutiva, de 44,3% em 2014 para 54%. A cifra se refere a entrevistados que são contrários à ideia de que o Estado deve ser generoso em processos de concessão de refúgio e que acreditam que a maioria dos requerentes de refúgio não estariam fugindo de perseguição em seus países de origem.
"Isso nos surpreendeu, já que o número de novos pedidos de refúgio caiu significativamente desde 2016", disse Schröter.
Tais posições são particularmente disseminadas no leste da Alemanha. Assim, o estudo confirma a percepção generalizada de que os alemães do leste concordam em maior número com posições de extrema direita do que os alemães ocidentais.
No entanto, de acordo com o estudo, a diferença não é tão grande quanto o estereótipo sugere. O número de pessoas que apoiam claramente ideias de extrema direita – que minimizam os crimes nazistas, desejam uma ditadura de direita e diferenciam entre pessoas que merecem e que não merecem viver – no leste e no oeste é quase o mesmo.
Já pontos de vista típicos do populismo de direita são mais comuns na região da antiga Alemanha Oriental, segundo os autores do estudo. Enquanto um em cada dois cidadãos do oeste da Alemanha diz ser contra a acolhida de refugiados, dois entre três alemães orientais têm essa posição. E enquanto 26% alemães do leste rejeitam muçulmanos, 19% dos alemães ocidentais têm essa visão.
"Sobretudo, o sentimento de raiva coletiva em relação a imigrantes entre os alemães do leste, de 52%, é significativamente maior do que na parte ocidental do país, de 44%", diz o estudo.
Falta de confiança na democracia
A confiança na democracia alemã também é menor nos estados do leste do que nos do oeste alemão, sendo maior a defesa do autoritarismo entre os cidadãos da região onde ficava a extinta Alemanha Oriental.
Os autores do estudo dedicam um capítulo inteiro da obra para discutir o motivo dessa diferença entre leste e oeste do país. Entre as possíveis causas, são citadas a euforia inicial e a posterior decepção com a Reunificação da Alemanha, as diferentes percepções de democracia de um lado e outro e a situação atual em regiões estruturalmente fracas.
No entanto, regiões estruturalmente fracas também existem no oeste da república. E lá também os entrevistados expressaram uma falta significativa de confiança na democracia e em suas instituições: quase metade dos entrevistados pensa que existem organizações secretas que influenciam as decisões políticas.
Cerca de um terço dos moradores dessas regiões sente que não estar sendo adequadamente representado e considera as decisões democráticas como "compromissos podres" e acredita que "o governo esconde a verdade do público". E quase um quarto acredita que representantes da política e da mídia são "farinha do mesmo saco".
Se tantos alemães têm ideias negativas sobre determinados grupos da população, assim como sobre instituições civis e políticas, considerando políticos e representantes da mídia como corruptos, como é possível que 86% dos entrevistados afirmem não haver uma alternativa à democracia e 93% coloquem como prioridades a dignidade e a igualdade entre as pessoas?
"Parte da população não faz jus aos seus próprios valores", diz o autor do estudo William Berghan, da Universidade de Bielefeld.
Ao final de sua conclusão, os autores do estudo colocam pelo menos um ponto de interrogação atrás do título alarmante do trabalho: Verlorene Mitte - feindselige Zustände (centro perdido – situações hostis, em tradução livre). O texto afirma que, além da "estabilidade de muitas posições antidemocráticas no centro", há alguns resultados positivos, como uma "forte orientação a favor da sociedade civil", que enfrenta o desafio colocado por novos movimentos de direita.
Para vencê-lo, três coisas seriam importantes, segundo os autores do estudo: mais ensino sobre democracia, medidas mais intensas para combater preconceitos e que opiniões preconceituosas contra pessoas e ideias hostis à democracia não sejam mais banalizadas.
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