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Polônia acusa belarussos de espionagem e reforça fronteira

5 de agosto de 2023

Em meio à escalada de tensão com Belarus, Varsóvia prende 16 suspeitos e Vilnius declara mais de mil estrangeiros como ameaça à segurança nacional. Fechamento de fronteira é "questão de tempo", diz governo lituano.

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Dois agentes de segurança mascarados conduzem um homem algemado para dentro de um veículo escuro. O homem é suspeito de espionagem.
Autoridades polonesas estão de olho em ações de espionagem patrocinadas pela Rússia.Foto: Leszek Szymanski/EPA/dpa/picture alliance

Autoridades polonesas prenderam mais um suspeito de integrar uma rede de espionagem russa, anunciou nesta sexta (04/08) o ministro do Interior, Mariusz Kaminski. Com isso chega a 16 o número de presos por esse motivo.

O cidadão de Belarus de 39 anos teria participado de missões de reconhecimento de instalações militares e portos, tendo também conduzido atividades de propaganda para a Rússia. Ele teria chegado à Polônia  em 2021 e, segundo informou o governo, mantinha contatos com cidadãos russos, viajando a São Petersburgo e Crimeia para encontrá-los. O suspeito também teria frequentemente mudado seus canais de comunicação e estaria "destruindo rastros de suas atividades criminosas", tendo assumido "culpa parcial" ao ser confrontado pelas autoridades.

Também na sexta a Lituânia classificou 254 cidadãos russos e outros 910 belarussos vivendo em seu território como ameaças à segurança nacional, após aplicar um questionário para apurar as visões desses indivíduos sobre a guerra na Ucrânia e a Crimeia, território ilegalmente anexado pela Rússia em 2014. O governo lituano anunciou ainda que eles perderão a autorização de residência permanente.

A medida atinge apenas uma fração dos 58 mil belarussos e 16 mil russos vivendo no país báltico, que nos últimos anos se converteu em uma espécie de porto seguro para muitos que fogem da repressão em seus países de origem.

Queixando-se de "provocações na fronteira", Polônia reforça segurança

Polônia e Lituânia anunciaram na quinta que aumentariam a segurança nas fronteiras com Belarus após um encontro entre líderes dos dois países em Suwalki, cidade polonesa próxima à Lituânia, Belarus e ao enclave russo de Kaliningrado.

Na reunião, o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, acusou Belarus de "tentar desestabilizar o flanco leste" da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Dias antes, Varsóvia havia acusado Belarus de violar seu espaço aéreo – Minsk nega. O ministro polonês da Defesa, Mariusz Blaszczak, reagiu com o envio de helicópteros de combate à região, advertindo que os pilotos não hesitariam em "abrir fogo se algo grave acontecer".

Na sexta, o governo polonês anunciou o envio a Belarus de "informações que confirmam conclusivamente" a incursão em seu espaço aéreo de um helicóptero Mi-8 e outro Mi-24. Em comunicado, o ministério polonês das Relações Exteriores pediu ao país vizinho o esclarecimento do caso em caráter de urgência e o fim do que chamou de "provocações na fronteira".

Polônia e Lituânia preocupados com mercenários do grupo Wagner

O anúncio de reforço de fronteiras por parte de Polônia e Lituânia também se deu após milhares de combatentes do grupo Wagner, organização mercenária ligada ao Kremlin, se dirigirem a Belarus após uma tentativa fracassada de rebelião contra a Rússia, em junho. O deslocamento seria parte de um acordo com o presidente russo, Vladimir Putin, para evitar a punição das tropas– alguns delas estão estacionadas próximo à fronteira com a Polônia.

Nos últimos dois anos, o presidente belarusso Alexander Lukashenko abriu seu país para a passagem de migrantes e refugiados do Oriente Médio e da África que tentavam chegar à Lituânia e à Polônia, dois países-membros da União Europeia (UE).

Varsóvia teme que mercenários do grupo Wagner assumam o controle do tráfego de imigrantes na região e tentem entrar em território da UE junto com eles.

Lituânia: fechamento total das fronteiras é "apenas uma questão de tempo”

Presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda não descartou a possibilidade de fechar as fronteiras com a Belarus de forma coordenada. "Uma coisa está absolutamente clara: seria uma tentação grande demais para Vladimir Putin e Alexandre Lukashenko não usar a presença deles [Wagner] na vizinhança para eventuais provocações contra países-membros da Otan”, afirmou nesta sexta.

Falando à televisão estatal, o presidente da Comissão de Segurança e Defesa do Parlamento lituano, Laurynas Kaschyunas, disse também nesta sexta que o fechamento total das fronteiras é "apenas uma questão de tempo”.

Rússia faz exercícios militares no Mar Báltico

O reforço de fronteiras por parte de Polônia e Lituânia vem também na esteira dos exercícios militares russos "Ocean Shield 2023" no Mar Báltico, uma zona delimitada sobretudo por países da Otan e que Moscou encara como uma ameaça existencial.

Segundo o Ministério da Defesa russo, o objetivo da ação é "verificar a capacidade da frota militar para defender os interesses nacionais da Rússia" numa área "operacionalmente importante". As manobras preveem cerca de 200 exercícios com "mais de 30 navios e embarcações de combate, 20 navios de abastecimento, 30 aeronaves (...) e cerca de 6.000 militares".

À exceção da Rússia e do enclave russo de Kaliningrado, a região do Mar Báltico é quase exclusivamente constituída por países da Otan: Alemanha, Dinamarca, Estônia, Finlândia, Letônia, Lituânia e Polônia. A Suécia está em processo de adesão à aliança militar, passo dado após a invasão em larga-escala do território ucraniano pela Rússia.

ra (DW, Lusa)