Políticos alemães querem rigor contra movimento Querdenken
6 de dezembro de 2020Adeptos do movimento Querdenken e de suas ramificações têm protestado nos últimos meses, em diversas cidades da Alemanha, contra as restrições ditadas pelas medidas do governo de combate à pandemia de covid-19. Apesar da proibição pelo Tribunal Constitucional Federal, neste sábado (05/12), eles promoveram mais uma manifestação na estação ferroviária de Bremen.
Em seu website, o Querdenken 711 ("pensamento lateral", seguido do prefixo telefônico de Stuttgart, onde o grupo se formou) se anuncia como "democrata", tendo como meta principal proteger os direitos assegurados na Lei Fundamental, a Constituição alemã, em especial as liberdades de opinião, expressão e reunião. No entanto, mantêm comprovadamente contatos transversais com grupos de extrema direita.
Por isso, o secretário do Interior de Berlim, Andreas Geisel, acena com a monitoração futura do movimento pelo Departamento Federal de Protecão da Constituição (BfV), a agência de segurança interna da Alemanha. "Observamos bem claramente tendências extremistas e antissemitas. Por isso, a defesa da Constituição deve investigar bem de perto", declarou à agência de notícias DPA.
Segundo o político social-democrata, o real desafio nessa questão é distinguir quem é extremista, quem é antissemita e quem está agindo dentro dos limites constitucionais.
"O mais tardar desde o verão está claro que havia nos palcos [das manifestações de meados do ano] gente que dizia não reconhecer a Lei Fundamental alemã, que quer uma nova Constituição." Geisel frisou, ainda, que o iniciador do Querdenken 711, Michael Ballweg, apareceu em vídeoclips lado a lado com o antissemita Martin Lejeune.
Querdenken "mal interpretado"
A Conferência dos Secretários do Interior da Alemanha se reúne na próxima quinta-feira para debater o assunto. O presidente dessa conferência permanente, secretário da Turíngia Georg Maier, calcula que atualmente um de cada três participantes das manifestações do Querdenken pertença aos meios de extrema direita.
Maier reivindica uma investigação pela agência de segurança nacional, assim como seu colega de pasta da Baixa Saxônia, Boris Pistorius. Para o presidente da Proteção da Constituição da Turíngia, Stephan Kramer, já há pontos de referência suficientes para classificar o Querdenken como "caso de suspeita", possibilitando o acionamento dos serviços secretos.
A ministra da Família Franziska Giffey igualmente exige uma ação mais vigorosa do Estado: "Com grupos que se expressam de modo anticonstitucional e planejam um ataque à democracia, o BfV deve intervir." Isso não significa "que todos que se juntam a essas manifestações sejam vistos como inimigos da Constituição".
Contudo o Estado tem que permanecer alerta "quando a democracia é atacada", frisou a ministra, "ou quando nossos órgãos democráticos são ameaçados, como recentemente, quando arruaceiros invadiram o Parlamento e quiseram impedir os deputados de cumprir seu trabalho".
Falando à agência DPA, o ativista Michael Ballweg alegou que o movimento fundado por ele é apresentado de forma equivocada: extremismo, violência, antissemitismo e ideologia desumana estariam tão deslocados no Querdenken quanto os símbolos de tais formas de pensar, afirmou.
Reconhecíveis por suas bandeiras e insígnias, participaram de manifestações passadas do movimento tanto neonazistas quanto "Reichsbürger". Estes "cidadãos do Reich" questionam a existência da República Federal da Alemanha como Estado legítimo e soberano, e rejeitam seu sistema legal.
AV/afp,kna,dpa