Polêmica
14 de abril de 2007O democrata-cristão Hans Filbinger governava o estado de Baden-Württemberg, no sul da Alemanha, desde 1966, quando explodiu um escândalo sobre sua responsabilidade, como juiz da Marinha durante o regime nazista, pelo assassinato de vários desertores por ocasião do fim da Segunda Guerra.
O agravante é que Filbinger manteve sua postura, como juiz, mesmo quando o fim da guerra e do regime nazista já era iminente. Em 1978, pouco antes de sua renúncia forçada pelos escândalos, o ex-governador ainda chegou a comentar: "O que antigamente era justo não pode ter se tornado injusto hoje".
Polêmica nacional
Na última semana, por ocasião da morte de Hans Filbinger (ocorrida no último 01/04), o atual governador de Baden-Württemberg, Günther Oettinger, fez um discurso em memória do político de seu partido. Entre outros, Oettinger afirmou que Filbinger "não foi um nazista" e sim "um opositor do regime nazista".
As declarações do governador desencadearam uma verdadeira polêmica na Alemanha, movendo políticos dos mais variados partidos, incontáveis notícias na imprensa nacional e a indignação de organizações como o Centro Simon Wiesenthal, que chegou a pedir a renúncia do atual governador.
"Constrangimento e atrevimento"
Até mesmo a chanceler federal, Angela Merkel, entrou na questão, ao lembrar em telefonema a Oettinger que, por ocasião da morte de um político, é necessário lembrar os bons feitos, mas também as máculas de uma biografia.
O líder da bancada verde no Parlamento, Volker Beck, disse em entrevista ao jornal Netzzeitung, que o governador deveria "retirar suas declarações e demonstrar, com uma palavra de arrependimento, o respeito necessário às vítimas do nazismo". Já o vice-presidente do Parlamento, o social-democrata Wolfgang Thierse, chamou as palavras do governador de "constrangedoras e até atrevidas".
Carta aberta
Cercado por fogo cerrado, Oettinger enviou uma carta aberta a seus críticos, afirmando lamentar "os mal-entendidos". O político revidou no documento sua suposta intenção de ter querido, com o discurso, relativizar os crimes cometidos sob o nazismo.
"Não tive de forma alguma essa intenção. Se houve mal-entendidos neste sentido, lamento muitíssimo", escreveu o governador. Em entrevista ao jornal popular Bild am Sonntag, o secretário-geral do Partido Social Democrata (SPD), Hubertus Heil, declarou que tais palavras "ainda são insuficientes".
Ultraje aos membros da resistência
Além dos políticos, vários historiadores entraram na discussão. Hans Mommsen, por exemplo, afirmou em entrevista ao jornal Rheinische Post, que não se pode de forma alguma caracterizar o falecido Filbinger como avesso à ideologia nazista, uma vez que "ele foi um cúmplice convencido do que fazia e que manteve esta convicção até mesmo quando o regime desmoronou".
A tentativa de incluir o nome de Filbinger na lista de opositores do nazismo, segundo Mommsen, é um "ultraje aos membros da resistência alemã" contra o regime.