Política internacional ofusca agenda econômica da cúpula do G20
14 de novembro de 2014A reunião das principais economias do planeta deveria se concentrar na restauração do crescimento global, na luta contra a evasão fiscal e no aperfeiçoamento do sistema bancário mundial. No entanto, a estagnação do conflito no leste ucraniano e a queda de braço entre países ocidentais e a Rússia em torno dessa disputa deverão dominar a reunião anual do G20, que acontece neste sábado e domingo (15 e 16/11) na cidade australiana de Brisbane.
Temas importantes relativos à economia e ao meio ambiente já foram tratados, recentemente, no encontro dos países-membros da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) – como o acordo para a redução das emissões de gases tóxicos assinado entre os EUA e China, que aconteceu esta semana em Pequim.
Assim, a política deverá dominar a reunião do G20, que nos últimos anos vem causando a impressão de muita conversa e pouca ação. Para observadores, o encontro de países industrializados e emergentes teve os seus dias de glória durante a primeira reunião, em 2008, quando a alarmante crise financeira dominou a agenda do fórum global.
Neste ano, os líderes estão sob pressão para produzir algo tangível. Mas, certamente, o que vai acupar as conversas é o embate entre o presidente russo e os líderes ocidentais, no momento em que o governo em Kiev acusa Moscou de enviar novas tropas para apoiar os separatistas no leste da Ucrânia, e a Rússia envia navios de guerra e patrulhas aéreas para diversas partes do planeta.
Tom das conversas
A questão ucraniana foi apenas secundária durante o fórum da Apec, quando Obama tocou brevemente no assunto com Vladimir Putin. Mas, na reunião do G20, ela deverá constituir o tema principal das conversas que o presidente americano terá com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, o primeiro-ministro britânico, David Cameron e o presidente francês, François Hollande.
Ben Rhodes, assessor de segurança da presidência americana, afirmou que esses três países europeus constituem uma base importante para se lançar uma mensagem aos governantes da Rússia e da Ucrânia. "Será a ocasião para ele [Obama] verificar isso com eles."
Nesta sexta-feira, David Cameron deu uma ideia do que deve ser o tom das conversações em Brisbane, afirmando que as iniciativas da Rússia na Ucrânia seriam inaceitáveis e ameaçando com novas sanções americanas e europeias.
"Continuo esperando que os russos compreendam e admitam que devem permitir que a Ucrânia se desenvolva como país independente e livre para fazer as suas próprias escolhas", declarou Cameron em Camberra. "Se a Rússia adotar uma atitude positiva em relação à liberdade e à responsabilidade da Ucrânia, poderemos assistir a um abrandamento dessas sanções, se a Rússia continuar a agravar as coisas, assistiremos a uma acentuação dessas sanções", explicou o chefe de governo britânico.
Ucrânia e crescimento econômico
O clima do encontro ficou ainda mais carregado com o anúncio da chegada de uma frota de navios de guerra russos em águas internacionais ao norte de Brisbane. O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, considerou a presença da Marinha russa em tal latitude austral incomum, mas não inédita.
Ao ser indagada se a presença dos quatro navios na costa da Austrália seria uma provocação de Putin, Angela Merkel respondeu que "os navios russos fazem parte da presença russa". A chanceler federal alemã acrescentou que considera "muito mais problemática a violação da integridade territorial da Ucrânia. Não se está cumprindo o Acordo de Minsk. Isso me preocupa cada vez mais. Será um tema à margem do G20."
Em relação aos temas da agenda oficial do G20, a chanceler alemã disse esperar que haja "um sinal claro para o desenvolvimento da economia mundial". Segundo a chefe de governo, é preciso fomentar o crescimento econômico, mantendo, ao mesmo tempo, diretrizes sólidas.
Sucesso ou fracasso
No entanto, além da crise ucraniana, a situação no Oriente Médio envolvendo as lutas contra os jihadistas do grupo extremista "Estado Islâmico" na Síria e no Iraque poderá, da mesma forma, ofuscar a agenda econômica da cúpula do G20 na Austrália.
O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, resumiu o estado de espírito que precede o início do encontro: "Não é possível ter prosperidade sem segurança", declarou Abbott em coletiva de imprensa junto a David Cameron.
Assim, ainda não se sabe se a política internacional irá contribuir para o sucesso do encontro de dois dias em Brisbane ou se a cúpula fará mais uma vez jus às críticas de que o G20 estabelece uma série de objetivos ilustres na área econômica, mas poucos resultados são de fato alcançados, apesar de os países-membros responderem por 85% da economia global.
CA/rtr/afp/dpa/ap