Polícia do Texas admite erro na reação a massacre escolar
27 de maio de 2022O secretário de Segurança Pública do Texas afirmou nesta sexta-feira (27/05) que a polícia errou na reação ao atentado ocorrido na terça-feira em uma escola de Uvalde, ao adiar a entrada na sala de aula onde estava o atirador. A declaração fez aumentar as especulações de que o atraso possa ter custado vidas.
O atirador Salvador Ramos, de 18 anos, matou 19 crianças e dois professoras da Robb Elementary School antes de ser morto pelos policiais. Quase vinte policiais esperaram no corredor por 48 minutos antes de entrar na sala de aula, enquanto estudantes na sala de aula seguiam telefonando para a polícia
"Foi uma decisão errada", afirmou o secretário de Segurança Pública do Texas, Steven McCraw, em uma entrevista coletiva carregada de emoção. "Pelo que sabemos, acreditamos que deveriam ter entrado o mais rápido possível (...) Se achasse que isso ajudaria, eu pediria desculpas."
O chefe da polícia do distrito escolar, que comandava a ação, acreditava que não havia mais crianças sobreviventes na sala de aula.
A coletiva de imprensa desta sexta-feira foi realizada depois que as autoridades passaram três dias fornecendo informações muitas vezes conflitantes e incompletas sobre os 90 minutos transcorridos entre o momento em que o atirador entrou na escola e quando os agentes entraram na sala de aula e o mataram.
Houve disparos depois que o atirador entrou na sala de aula onde acabou sendo morto, mas os tiros foram "esporádicos" durante o tempo em que os policiais aguardavam no corredor, disse McCraw. McCraw afirmou que os investigadores ainda não sabem se ou quantas crianças foram mortas durante esse tempo.
Cronograma da ação
Segundo as autoridades do Texas, eram 11h28 quando a caminhonete que o atirador estava dirigindo bateu em uma vala atrás da escola e saiu do veículo carregando um rifle estilo AR-15. Doze minutos depois, ele entrou na escola e seguiu para a sala de aula da quarta série, onde matou as 21 vítimas. Ele foi morto pelos policiais às 12h58.
"Eles disseram que entraram rapidamente", disse Javier Cazares, que correu para a escola quando sobre do atirador e cuja filha, Jacklyn Cazares, foi morta no ataque. "Nós não vimos isso."
De acordo com a linha do tempo fornecida por McCraw, após sair da caminhonete, o atirador disparou contra duas pessoas que saíam de uma funerária próxima.
Ao contrário de declarações anteriores de autoridades, um policial não estava dentro da escola quando Ramos chegou. Quando esse policial foi ao local, ele passou sem perceber o atirador, que estava de cócoras atrás de um carro estacionado do lado de fora e atirando no prédio, disse McCraw.
Às 11h33, Ramos entrou na escola por uma porta traseira que estava aberta e disparou mais de 100 tiros em duas salas de aula. Dois minutos depois, três policiais locais chegaram e entraram no prédio pela mesma porta, seguidos logo depois por outros quatro.
Em 15 minutos, 19 policiais estavam no corredor e foram alvos de alguns tiros de Ramos, que havia se escondido em uma sala de aula. Às 12h10, chegaram os primeiros delegados federais, após se deslocarem cerca de 110 quilômetros a partir da cidade de Del Rio.
Mas o comandante da polícia dentro do prédio decidiu que o grupo deveria esperar para enfrentar o pistoleiro, pois acreditava que ele não estava mais atacando ninguém. A crise chegou ao fim depois que um grupo de oficiais táticos da Patrulha de Fronteira entrou na escola às 12h45. Eles trocaram tiros com Ramos e o mataram.
Segundo McCraw, uma criança ligou diversas vezes para a polícia de dentro de uma sala de aula durante o ataque, uma delas às 12h21. Outra ligação de dentro de uma sala de aula foi recebida às 12h16.
Questionamentos
Ken Trump, presidente da consultoria National School Safety and Security Services, disse que a linha do tempo da ação levantava questões.
"Com base nas práticas recomendadas, é muito difícil entender por que houve qualquer tipo de atraso, especialmente quando você recebe relatos de mais de 40 minutos para neutralizar aquele atirador", disse.
O motivo do massacre – o ataque em escolas mais mortal nos Estados Unidos desde o ocorrido em Newtown, Connecticut, há quase uma década – segue sob investigação, e as autoridades dizem que Ramos não tinha um histórico conhecido de problemas de saúde mental ou criminal.
Durante o cerco, testemunhas insistiram com os policiais para que eles invadissem o local. Algumas mulheres gritavam "Entre lá! Entre lá!" para os policias, disse Juan Carranza, que observou o ataque a partir de uma casa do outro lado da rua. Ele afirmou que os policiais deveriam ter entrado na escola mais cedo: "Havia muitos deles. E ele era somente um."
Enquanto mais pais chegavam à escola, ele e outros pressionaram a polícia a agir. Carranza ouviu quatro tiros antes que ele e os outros recebessem ordens dos policiais para irem para um estacionamento.
"Muitos de nós estávamos discutindo com a polícia: 'Vocês todos precisam ir lá dentro. Vocês todos precisam fazer o seu trabalho". A resposta deles foi: 'Não podemos fazer nosso trabalho porque vocês estão interferindo'", disse Cazares.
Michael Dorn, diretor executivo da Safe Havens International, que trabalha para tornar as escolas mais seguras, alertou que é difícil obter uma compreensão clara dos fatos logo após um massacre.
"As informações que temos algumas semanas após um evento são geralmente bem diferentes das que recebemos no primeiro ou ou no segundo dia. E ainda assim geralmente é bastante impreciso", disse. Para eventos trágicos, "geralmente leva de oito a 12 meses até termos realmente um cenário decente".
bl (AFP, AP)