Sound & Vision
4 de agosto de 2011Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras. No universo da música pop, a dissociação entre imagem, palavras e acordes é muitas vezes impossível. O que seria do punk sem Westwood? De Bowie sem Ziggy Stardust? De Björk sem o diretor Michael Gondry? Alguém daria a mínima importância a Telephone, da Lady Gaga, se não fosse pelo polêmico vídeo?
É necessário ser um pouco cuidadoso ao entrar no mundo de Planningtorock, projeto musical e visual da artista Janine Rostorn. A banda de uma mulher só chegou ao seu segundo e aclamado álbum, W, não apenas com um punhado de novas canções, mas também com um novo visual, dark e sombrio e uma nova persona, uma criatura andrógena com o rosto modificado.
O novo disco foi todo construído em estúdio, num longo período de experimentação. Foram mais de três anos trabalhando com sons e texturas. Orquestrações eletrônicas, guitarras, sintetizadores e saxofone constroem um emaranhado de canções que surpreendem.
O lado mais melancólico e sombrio do disco aparece na redefinição de imagem que a artista criou para o álbum. O que a princípio assusta, ou faz rir, revela-se uma parte interessante por trás da ideia de Planningtorock.
Desfigurar e expandir
O nome do projeto surgiu quando Janine ainda era adolescente e já se aventurava a fazer música. "Começei a fazer música com 16 anos e na época não mostrava para ninguém o meu trabalho. Achei que seria divertido se ficasse um pouco conhecida e me perguntassem se eu planning to rock (planejava "acontecer", na tradução livre do inglês)." Ela definitivamente aconteceu.
W foi lançado recentemente pelo selo americano DFA, de James Murphy, e colocou a inglesa nascida em Bolton como a artista da vez. "Meu primeiro disco foi escrito enquanto eu estava em turnê. W é um disco de estúdio no qual pude me concentrar mais na minha sonoridade. Pude experimentar também com diferentes tecnologias e misturar sons eletrônicos e acústicos", diz Janine.
A construção do álbum não aconteceu apenas musicalmente. "Não queria dizer muito ou pouco. W é uma letra tão visual", declara a artista sobre o nome do disco. "A minha imagem para esse disco veio da manipulação vocal que eu construi no estúdio. Queria não só brincar com a minha imagem, mas também com a questão do gênero. Queria fundir e expandir", completa.
Esse processo de transformação deve continuar acontecendo quando Janine cair na estrada, apresentando as novas músicas. "Eu costumava me apresentar com capacetes e máscaras, nos shows do meu primeiro disco. Queria expandir e não ser somente eu no palco. Queria ser algo mais. A maquiagem que eu uso agora é um passo mais profundo. A imagem que eu criei para esse disco captura exatamente o meu sentimento, expresso em minha música."
Música e a cidade
A liberdade e o experimentalismo da música de Janine encontraram seu lar em Berlim, cidade onde a artista mora e trabalha há quase dez anos. "Eu amo ser estrangeira, é um sentimento libertador. Posso fazer tudo o que quero aqui", declara. Para ela, outra vantagem de morar em Berlim é que o consumismo não é uma das forças que movem a cidade, e o grande fluxo de artistas que visitam a cidade por longas temporadas renova a cena.
Esse fluxo artístico é parte integrante do trabalho de Janine. Em W ela contou com a participação do percussionista islandês Hjörleifur Jónsson. No ano passado, ao lado de Mt. Sims e dos suecos do The Knife, ele compôs uma ópera sobre o darwinismo. Seu trabalho com orquestrações tambem pode ser ouvido na peça que o cineasta Bruce LaBruce montou em Berlim, sobre a psicoanalista Mellanie Klein.
Novas parcerias estão por vir, além de uma longa turnê que deve passar em breve pelo Brasil. "Recebi a notícia faz pouco tempo e ainda não tenho detalhes. Estou muito feliz de poder ir ao Brasil. Muitos amigos músicos falaram como é especial se apresentar por lá." Quem sabe o Brasil não sirva de inspiração para Janine em seu novo disco, já que a artista já está escrevendo novas músicas. "Estou sempre compondo", completa.
Texto: Marco Sanchez
Revisão: Alexandre Schossler