Planejar é imprescindível em viagens de bicicleta
25 de junho de 2005Férias servem, naturalmente, para sair da rotina. Isso não quer dizer, porém, que o tempo livre não tenha de ser planejado. Em viagens de bicicleta, essa necessidade é ainda maior. Antes de tudo, o turista precisa ter senso de prioridade, uma vez que a capacidade de carregar roupas e acessórios depende da vontade do ciclista de carregar mais peso. Lição número um, especialmente se você é "marinheiro de primeira viagem": elimine peso, viaje leve.
Especialmente para quem, como eu, não tem um excelente preparo físico, a definição de prioridades é essencial. Antes de tudo, faça uma lista. Se você decidir ficar em albergues durante todo o percurso, certamente pode levar uma quantidade maior de itens "supérfluos". Caso a idéia seja acampar, porém, a bagagem fica mais limitada: algumas peças de roupa, produtos de higiene e muita atenção à segurança e ao conforto. Capacete – que deve ser usado na cabeça e não ficar dentro da mala –, mapas, capa de chuva, remendos para pneus, band-aids e lanterna são alguns dos objetos indispensáveis. Máquina fotográfica, claro, também deve estar na mochila.
Antes de sair
Na Alemanha, dependendo da região, alguns cuidados com a saúde são indispensáveis. A picada de um inseto – o carrapato – pode levar à morte caso o ciclista não esteja vacinado. O problema é grave no sul da Alemanha, onde a chance de contaminação é grande. Se o seu destino for o Estado da Baviera, por exemplo, não deixe de ir ao médico e perguntar sobre a necessidade da vacina. Outro cuidado importante é adequar o percurso à sua idade e condição física: se o percurso é longo, vá mais devagar; se estiver muito cansado, deixe o resto do trajeto para o dia seguinte.
Dependendo do período reservado para a viagem – e das ambições do percurso –, ter metas diárias de destino ajuda na organização. Como tínhamos apenas oito dias para ir de Kassel até o Mar do Norte (e voltar), decidimos ir de bicicleta e voltar de trem. No caminho, porém, encontramos pessoas que tinham 15, 20 dias de férias e resolveram fazer o percurso de ida e volta sobre duas rodas. Entretanto, usar o trem para voltar parece ser uma idéia melhor, mesmo quando se tem bastante tempo para gastar: vale mais ir mais longe do que ver a mesma paisagem duas vezes.
Os mapas são peças fundamentais para o cumprimento dos objetivos diários, especialmente para quem prefere manter distância das barulhentas ciclovias localizadas ao lado das auto-estradas. Neste departamento, devo confessar, fiquei totalmente dependente de Dirk, meu parceiro de viagem: ele sabe ler mapas e conhecia bem a região que percorremos. O turista que tiver essa sorte poderá sair das trilhas oficiais – como a do Rio Weser –, encurtando percursos e conhecendo caminhos diferentes dos "oficiais".
Imprevistos acontecem
É na hora dos imprevistos que a importância do planejamento fica mais evidente. A partir do segundo dia da minha viagem de bicicleta, por exemplo, o tempo não ajudou. Além da capa de chuva recém-adquirida, outra boa idéia foi ter um rolo de sacos plásticos à mão. Na hora do temporal, eles serviram para embrulhar sacolas não-impermeáveis, colchões, travesseiros e tudo o que estivesse desprotegido da chuva. Quando o vento está contra – e é o que geralmente acontece no norte da Alemanha, área conhecida pelas usinas de energia eólica –, outro bom item para se ter por perto é o protetor labial.
O planejamento da viagem inicialmente incluía vários dias de acampamento, uma vez que a idéia era não gastar muito. Com a chuva, esse plano foi literalmente por água abaixo. Usamos a barraca apenas quatro das oito noites – por isso, telefones dos albergues e hotéis disponíveis ao longo do percurso são essenciais (os mapas que já trazem essa informação são os melhores nesse tipo de viagem, e custam cerca de 10 euros, ou 30 reais). O preço do Albergue da Juventude varia de acordo com o tamanho da cidade. Em Porta Westfálica, custa 15 euros (45 reais); em Bremen, 23 euros (quase 70 reais).
Quando não há este tipo de albergue por perto – eles são geralmente a opção mais barata de pernoite –, o jeito é apelar para as pensões. As cidades localizadas ao longo da ciclovia do Rio Weser têm centros de informações turísticas. Entretanto, como tudo na Alemanha, é preciso ter muito cuidado com os horários de atendimento. Em uma das localidades que visitamos durante o percurso, a cabine de informação fechava às 16 horas no sábado e não abria aos domingos. É possível achar pensões por cerca de 20 euros (ou 60 reais), com café-da-manhã incluído.
Comes e bebes
Comida, em viagem de bicicleta, é peso morto. Carregue o mínimo possível e compre só o que vai ser consumido na hora. Uma boa maneira de economizar – especialmente em viagens mais longas – é comprar comida em supermercado. Quando estávamos acampando, nossa refeição básica durante a viagem foi pão de forma, queijo longa-vida, algum tipo de defumado (presunto, salame, lingüiça), frutas, bebidas lácteas (leite ou iogurte) e, claro, chocolate. Há quem prefira trazer fogareiro e cozinhar – é uma decisão mais saudável, mas implica mais peso.
No norte da Alemanha, especialmente nas proximidades do Mar do Norte, existem opções bem baratas para quem gosta de frutos do mar. São peixarias que têm pequenos restaurantes nos fundos e onde se pode comer salmão ou caranguejo por menos de 3 euros (9 reais), uma pechincha para padrões europeus. Outra maneira barata de se comer na Alemanha são as lojas de Döner Kebab – especialidade turca que virou mania nacional na Alemanha –, que estão sempre abertas.
Supermercados fecham e há poucas farmácias de plantão aos domingos – portanto, é recomendável que os viajantes não se percam nos dias da semana, como geralmente acontece quando se está de férias. Se precisar de remédios – pegar gripe, ter dor de barriga ou alergia – ou de curativos, é melhor que seja de segunda a sábado. Se for mais grave – como picada de inseto desconhecido ou algum acidente que exija pontos –, procure o hospital mais próximo. Há sempre médicos de plantão, 24 horas por dia.
Chuveiro e música
O banho é sempre possível na Alemanha. Quando se viaja de bicicleta, a melhor opção são as piscinas públicas – limpas e presentes em todos os cantos do país, até em municípios bem pequenos. O preço para usar piscina e chuveiro frio varia de 1,20 euro (3,60 reais) a 2,50 euros (7,50 reais). Em algumas localidades, porém, não é preciso pagar a taxa para usar apenas o chuveiro – 50 centavos de euro são suficientes para garantir cerca de cinco minutos de água quente.
Os locais para acampamento, que geralmente cobram 3 euros por pessoa e também oferecem banheiro e chuveiro, são outra opção para evitar o bodum trazido pela falta de banho. Os campings – geralmente bem organizados e de custo reduzido – são uma boa idéia para quem não quer ficar procurando floresta para montar barraca. Isso porque, na Alemanha, especialmente em áreas próximas a zonas urbanas, a polícia pode interromper o sono dos viajantes no meio da noite. Não aconteceu conosco, mas ouvi histórias de ciclistas que foram incomodados no meio da noite. E, na Alemanha, o papo "deixa disso, seu policial" tem bem menos chance de funcionar.
Mesmo que você viaje com seu melhor amigo, irmão, esposa ou marido, um item fundamental em uma viagem de bicicleta é a música. Quando se fica 24 horas junto, uma hora o assunto acaba e você acaba cansando da cara do seu companheiro de viagem. Portanto, ter fones de ouvido e boa música à disposição é fundamental, pois eles provêm os tão necessários cinco minutos de solidão. Como a viagem de bicicleta é feita literalmente a trancos e barrancos, evite os aparelhos de CD. Prefira os MP3 players, que tocam horas e horas de música sem interrupção e pesam quase nada. E o melhor de tudo: você pode fazer a seleção de suas canções preferidas, relaxar e ter uma viagem muito, muito agradável.