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Baselitz em São Paulo

5 de dezembro de 2010

Em "Georg Baselitz: Pinturas Recentes", a Pinacoteca de São Paulo reúne obras realizadas nos últimos 12 anos pelo pintor alemão sob influência expressionista. Curador Paulo Venâncio Filho fala sobre concepção da mostra.

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Pintor Georg Baselitz, nascido em 1938Foto: picture alliance/dpa

A partir de 8 de dezembro, a Pinacoteca de São Paulo reúne obras realizadas nos últimos 12 anos pelo pintor alemão Georg Baselitz. Paulo Venâncio Filho, curador da primeira exposição individual do pintor na América do Sul, falou à Deutsche Welle sobre a concepção da mostra.

Deutsche Welle: A exposição de Georg Baselitz na Pinacoteca de São Paulo, sob sua curadoria, é a primeira individual do pintor alemão na América do Sul, segundo informações da Pinacoteca. Existe alguma razão específica para essa demora?

Paulo Venâncio Filho: Baselitz já esteve no Brasil na Bienal de São Paulo em 1975. Devido à distância e valor de seguro, exposições individuais de grandes artistas, como Baselitz, demandam altos custos e os patrocínios são ainda escassos para artes plásticas. Existe também um desconfiança injustificada quanto à capacidade das instituições e curadores brasileiros.

Apesar de a obra de Baselitz ainda não ter, ao que tudo indica, transitado muito por museus sul-americanos, daria para falar de uma recepção de seu trabalho no continente, em especial no Brasil, por outras vias, por parte de pintores isolados, talvez?

Não há dúvida que Baselitz é um artista conhecido, admirado e influente entre pintores brasileiros, especialmente aqueles que sentiram o impacto da sua obra a partir, eu diria, dos anos 1980. Embora não haja no Brasil uma forte tradição expressionista (hoje essas categorias parecem se referir pouco à tradição), a força da pintura de Baselitz é por si só suficiente para causar influência. Aliás, eu diria que a influência e admiração por Baselitz entre pintores mais jovens tem aumentado nos últimos anos.

As 30 pinturas produzidas nos últimos 12 anos e expostas agora na Pinacoteca fazem parte de um projeto denominado "Remix" pelo próprio pintor. Como você descreveria a "remixagem" dos trabalhos da década de 70 e 80 nestas obras recentes?

Creio que as pinturas ditas "Remix" fazem parte de um processo de revisão e renovação da obra, que sempre foi um contínuo enfrentamento com as contingências históricas. "Remix"é a versão de Baselitz dos procedimentos "remix" que se realizam hoje em outras esferas da cultura de massa.

Você poderia contar um pouco como foi o processo de escolha das obras a serem vistas de 8 de dezembro a 30 de janeiro em São Paulo? Como você descreveria o seu acesso pessoal à obra de Baselitz?

A escolha foi feita em conjunto com o secretário de Baselitz de várias décadas e grande conhecedor da obra, Detlev Gretenkort. Era importante constituir um conjunto significativo e, creio, isso será visto na exposição. Sempre tive admiração pela tradição expressionista desde Munch, Nolde, Kirchner, na pintura; Gottfried Benn, Trackl, na literatura; e no Brasil de um grande expressionista pouco conhecido na Alemanha, o gravurista Oswaldo Goeldi, de modo que eu me sentia já próximo da poética de Baselitz.

O trabalho de Baselitz, surgido numa era pré-digital, com referências pictóricas que remontam a diferentes épocas e regiões, parece ter um apelo visual ainda bastante forte para um mundo imerso em imagens digitais de crescente velocidade e efemeridade. Você saberia explicar de onde viria esse apelo?

O forte apelo visual da obra de Baselitz é consequência da sua profunda convicção quanto ao significado insubstituível da pintura. E isso se sente diante de qualquer uma de suas telas.

Na Europa, nota-se nos últimos anos um interesse cada vez maior pelas exposições de pintura, muitas das quais têm os ingressos esgotados - por venda antecipada - antes mesmo da data de encerramento. Por um lado, isso reflete o crescente apelo de massa dos grandes eventos museais; por outro, é como se a obra de arte única, feita diretamente com as mãos, passasse a veicular uma singularidade, uma especificidade humana que não é automaticamente transmitida pelas novas mídias. Você acha que o interesse pela pintura tende a aumentar numa era digital?

Há algo que só a pintura pode dizer e nenhuma tecnologia irá substituir.

Autora: Simone Lopes
Revisão: Carlos Albuquerque

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