Debate
19 de maio de 2009"Mesmo sem sabermos detalhes a respeito, está claro que a Rússia dispõe de muitas armas nucleares. Ainda em 22 de janeiro, Krushev declarou, num discurso público, que a União Soviética estaria em condições de atingir qualquer ponto da Terra com seus mísseis nucleares", afirmava o então chanceler federal Konrad Adenauer no dia 25 de março ao Parlamento alemão. O Bundestag, naquele momento, debatia calorosamente o processo de armamento das Forças Armadas alemãs.
Apesar da resistência por parte da população e de vozes políticas contrárias, o então premiê conseguiu fazer valer sua vontade: as Forças Armadas foram equipadas com sistemas de lançamento de mísseis nucleares norte-americanos. Adenauer justificava a necessidade de manter armas atômicas na Alemanha com a política expansionista da União Soviética e com o argumento de que seria um passo importante para a unidade do Ocidente.
Resquícios da Guerra Fria
Mais de 50 anos depois, a União Soviética deixou de existir e a Guerra Fria já acabou há muito tempo, mas as armas atômicas permaneceram na Alemanha. O número exato permanece em segredo: nem o governo alemão, como membro da Otan, nem o Pentágono nos EUA fornecem informações sobre a localização e o número das armas conservadas no país.
Segundo o Centro Berlinense de Informação sobre a Segurança Transatlântica (Bits), estão armazenadas atualmente na Alemanha entre 10 e 20 bombas atômicas no único depósito que restou no país, localizado em Büchel, no estado da Renânia-Palatinado. Outros depósitos nas cidades de Nörvenich, Memmingen e Ramstein foram fechados.
Ao todo, ainda há seis depósitos ativos de armas nucelares na Europa, localizados na Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda e Turquia. Especialistas do Bits estimam que neles estejam armazenadas até 240 bombas atômicas. A título de comparação: imediatamente após o fim da Guerra Fria, os EUA ainda mantinham 1.400 bombas atômicas na Europa.
"As armas nucleares na Alemanha são resquícios da Guerra Fria e precisam ser demovidas", reclama Guido Westerwelle, presidente do Partido Liberal (FDP). Trata-se de uma posição cada vez mais defendida por políticos, independentemente do partido a que pertencem, e que ganhou ainda mais força com a visão de um mundo livre de armas nucleares expressa pelo presidente dos EUA, Barack Obama.
Por que se ater às armas nucleares?
Desde o fim da Guerra Fria, armas atômicas desempenham na Europa, acima de tudo, uma função político-psicológica: elas simbolizam a coesão da Otan e a responsabilidade conjunta dos países da aliança militar quanto à política nuclear.
Uma função militar, contudo, elas não desempenham mais. Pois, como estratégia de intimidação, já bastariam os submarinos nucleares norte-americanos e britânicos, que estariam à disposição da Otan em caso de necessidade.
Políticos que criticam um desarmamento nuclear completo da Alemanha, como alguns deputados da União Democrata Cristã (CDU), temem que o país perca, ao se desarmar, o direito de participação de debates sobre o uso de bombas atômicas.
Ottfried Nassauer, especialista em segurança do Bits, contradiz: "O Canadá, a Grécia e a Turquia são países que já não possuem armas nucleares, sem, contudo, perder o direito de opinião dentro da Otan com relação ao assunto". A aliança militar não prevê que países que não disponham armas atômicas sejam impedidos de se envolver nos planos de uso das mesmas, lembra o especialista.
Mais importante do que isso, segundo Nassauer, são as decisões sobre a política nuclear dentro do próprio país. Os EUA não podem lançar bombas nucleares do território alemão sem a permissão do governo local.
"Se as últimas armas atômicas fossem demovidas da Alemanha, não haveria nenhuma perda em termos de participação nas decisões sobre seu uso. Mesmo porque não seria possível tomar nenhuma decisão ou mesmo dispor de armas que não existissem no país", conclui Nassauer.
Autor: Benjamin Wüst
Revisão: Rodrigo Abdelmalack