Pela primeira vez, Alemanha tem mulher no comando das Forças Armadas
17 de dezembro de 2013Ela teve de respirar fundo quando a chanceler federal alemã, Angela Merkel, passou-lhe a responsabilidade pelo Ministério da Defesa, relatou Ursula von der Leyen, com um leve suspiro. Mas a surpreendente proposta foi aceita com satisfação, continua. Von der Leyen, de 55 anos, será a primeira mulher na história da República Federal da Alemanha a chefiar o Ministério da Defesa e, assim, as Forças Armadas.
Outros países, como Finlândia, França e Espanha já seguiram há muito tempo por esse caminho. Mas para a Alemanha isso é uma novidade, e vale lembrar que só desde 2001 as mulheres podem prestar serviço em todos os setores das Forças Armadas do país, a Bundeswehr.
A conversa com Merkel se deu há quatro dias. Até lá, Von der Leyen não tinha a menor ideia de que logo mais estaria no comando de mais de 185 mil soldados. "É uma tarefa gigantesca", disse a médica e mãe de sete filhos. "Estou contente, mas tenho um respeito mortal pela tarefa", acresceu.
Ninguém no entorno da até então ministra do Trabalho duvida que, rapidamente, ela irá se familiarizar com o vasto e complexo campo da Defesa. Nos cargos que exerceu, nunca lhe faltaram conhecimento especializado e uma energia quase inacabável. "Este é o quarto ministério que assumo", comentou sucintamente a ministra, acrescendo que trazia muita experiência consigo e o conhecimento de como lidar com um grande aparato administrativo.
Ao lado de Merkel
Ao ser pela primeira vez eleita chanceler federal, em 2005, Merkel chamou a companheira política do estado da Baixa Saxônia para chefiar o Ministério da Família. Em nível estadual, Von der Leyen já havia assumido essa pasta na Baixa Saxônia, onde seu pai, o político democrata-cristão Ernst Albrecht, foi governador por vários anos.
Quando, em 2009, o comando do Ministério do Trabalho vagou, Merkel confiou a pasta a Von der Leyen. Em 2010, ela foi eleita vice-presidente da União Democrata Cristã (CDU) e cotada para se candidatar ao cargo de chanceler federal. Ali já estava claro que Von der Leyen fazia parte do pequeno círculo de políticos da CDU que poderiam ser empregados em quase todas as tarefas.
No entanto, essa democrata-cristã magra, eloquente e enérgica frequentemente polariza opiniões. De forma persistente, ela defendeu uma cota para mulheres na diretoria de empresas alemãs, como também uma complementação previdenciária para pessoas com baixos rendimentos, o que não agradou a todos os setores da conservadora CDU.
E nem sempre Von der Leyen recebeu o apoio de Merkel para os seus planos. Ela também tomou uma ducha fria da CDU ao receber somente 69% dos votos na reeleição para vice-presidente da facção. O percentual costuma ficar acima de 90%. Durante as recentes negociações para a coalizão de governo, cogitou-se que Merkel lhe ofereceria o extenso Ministério da Saúde. Mas isso não passou de um boato.
Cargo importante e arriscado
Com a nomeação para o Ministério da Defesa, abre-se para Ursula von der Leyen uma oportunidade de ganhar experiência também no cenário internacional. Esta pode lhe ser útil depois que a era Merkel chegar ao fim. A confissão de Merkel – de que já fazia muito tempo que pensava em fazer de Von der Leyen ministra da Defesa – aponta nessa direção. Aqui está sendo preparada, provavelmente, uma potencial candidata da CDU à Chancelaria Federal.
Num passado recente, o Ministério da Defesa não era necessariamente a primeira escolha para um político de grandes ambições. O ministério, cujas instalações se dividem entre Berlim e Bonn, mostrou ser um posto de trabalho com armadilhas.
Negócios milionários com armas regularmente saem de controle. O fracasso na aquisição do drone de observação Euro Hawk quase custou o cargo ao antecessor Thomas de Maizière. Ele não havia percebido em tempo que o caro avião não tripulado nunca seria capaz de voar. O ministro justificou que seus funcionários não lhe deram informações suficientes. Assim, a tarefa mais urgente de Von der Leyen será colocar sob seu controle uma administração rebelde e, em parte, altamente burocratizada.
Uma nova Bundeswehr
Lidar com tal aparato será mais difícil do que conseguir o respeito dos soldados. Eles esperam, sobretudo, o reconhecimento pelo trabalho em missões no exterior e a compreensão pela frustração que lhes causa a permanente reforma das Forças Armadas.
Desde a Reunificação, as Forças Armadas estão em reestruturação. Na época da Guerra Fria, meio milhão de soldados alemães estavam em serviço. O número deve diminuir para 185 mil até 2017. Para isso foram fechadas instalações, houve a fusão de comandos e o serviço militar obrigatório foi abolido em trâmite de urgência.
Desde que as Forças Armadas alemãs se transformaram numa tropa de voluntários, a Bundeswehr se esforça para atrair jovens qualificados. Von der Leyen já disse querer prestar uma contribuição para que as Forças Armadas sejam vistas como um empregador atraente, com uma boa combinação entre carreira e família.
Depois que a nova coalizão de governo concordou que não haveria mais reformas na Bundeswehr, Von der Leyen terá agora que acalmar os ânimos para que o chamado "redirecionamento" leve a um final feliz.
O mesmo vale para a retirada das tropas alemãs do Afeganistão, que deverá estar concluída até o final de 2014. Também a discussão sobre a futura orientação estratégica da Alemanha não pode ser deixada de lado no Ministério da Defesa.
No conjunto, trata-se de uma tarefa hercúlea, na qual mais de um ministro já tropeçou. Assim, Ursula von der Leyen pode ter a certeza que seu trabalho vai ser observado com muita atenção. Se ela se sair bem também nesse ministério, todas as portas lhe estarão abertas.