Pauta ambiental some da campanha alemã ao Parlamento Europeu
7 de junho de 2024Às vésperas da eleição para o Parlamento Europeu, que começou nesta quinta-feira (06/06) e vai até o próximo domingo nos 27 países da UE, a ativista do clima Luisa Neubauer, mais conhecida figura da seção alemã do grupo Fridays for Future, não soa muito otimista. "Nossos rivais se fortaleceram, especialmente os radicais de direita e os negacionistas climáticos", afirmou ao semanário Der Spiegel.
De fato, a relevância da proteção do clima diminuiu sensivelmente desde a última eleição europeia, em 2019. Naquela época, milhares de jovens saíam às ruas na Alemanha e em diversos outros países europeus para exigir um enfrentamento mais rigoroso das mudanças climáticas.
Em 2024, os ambientalistas do Fridays for Future mudaram sua principal mensagem de campanha ao Parlamento Europeu, passando a alertar sobre os riscos do populismo de direita. O slogan deles: "Votar é como escovar os dentes: se você deixa de fazer, eles vão ficar marrons [cor associada ao nazismo]!"
Menos pessoas vão às ruas pelo clima
Protestos recentes convocados pelo Friday for Futures em cidades alemãs sinalizam que a luta contra o aquecimento do planeta hoje é travada em um ambiente muito diferente daquele de cinco anos atrás: 13 mil saíram às ruas na capital Berlim; em Hamburgo, a organização contou 4,7 mil participantes.
Os números estão longe daqueles registrados no ápice do movimento de ativistas do clima, em 2018 e 2019, logo antes da pandemia de covid-19. Naquela época, os protestos reuniam mais de 100 mil pessoas só em Berlim.
O tema proteção do clima já não é mais tão prioritário para os eleitores, como mostra a última pesquisa "Deutschlandtrend", feita pelo instituto infratest-dimap. As pessoas estão preocupadas com a guerra na Ucrânia e no Oriente Médio, e temem uma piora de sua situação econômica pessoal.
A pesquisa, contudo, foi realizada pouco antes das enchentes que arrasaram partes do sul da Alemanha.
Proteção climática no material de campanha?
Uma olhada nos cartazes de campanha revela: são os assuntos domésticos, e não europeus, que dominam a agenda dos candidatos. Os sociais-democratas, que encabeçam a coalizão de governo alemã, tentam atrair o eleitorado defendendo a paz e estampando o rosto do chanceler federal Olaf Scholz ao lado de Katharina Barley, principal candidata do partido ao Parlamento Europeu. Também anunciam seu compromisso com a manutenção de postos de trabalho e a defesa do salário mínimo – temas que não estão em debate no Legislativo da União Europeia. Já os conservadores da cristã CDU se autopromovem com o slogan: "Uma Europa pela paz e pelo bem-estar".
Ninguém fala em clima – e os principais grupos de ambientalistas na Alemanha notaram isso. "O fortalecimento iminente do extremismo de direita tem um papel decisivo nas próximas eleições da União Europeia, pois os extremistas de direita não só tentam minar a democracia de nossa sociedade plural, como também apresentam as regulamentações necessárias sobre leis climáticas e subsídios como completamente desnecessárias e contrárias aos interesses das pessoas", analisa Martin Kaiser, especialista em clima do Greenpeace, em entrevista à DW.
Mas talvez, especula Kaiser, as atuais imagens da inundação no sul da Alemanha bem às vésperas da eleição façam o tema ganhar relevância. "As imagens da catástrofe das inundações são a mais impressionante refutação desses ideais de direita. Elas mostram que a segurança de todos na Europa depende de uma política climática consistente, mas também socialmente orientada."
Kaiser menciona uma pesquisa nacional realizada com mil eleitores com idade entre 16 e 23 anos e elaborada pelo instituto de marketing F&P a pedido do Greenpeace, segundo a qual a política ambiental é o tema de maior interesse para 55% dos jovens que votarão pela primeira vez nas eleições europeias.
Já a ONG ambientalista WWF tem uma visão menos entusiasmada do atual quadro político. "Vemos com muita preocupação o fato de que a proteção do clima, do meio ambiente e da natureza mal têm desempenhado um papel na campanha política europeia", afirma Matthias Meißner. "Vemos que em vários temas importantes mal se discute soluções políticas, e sim erros de alguns políticos, ou o que partidos e bancadas podem fazer juntos – mas, acima de tudo, o que não podem. Há muita polarização."
Se as inundações no sul da Alemanha e a proteção do clima vão influenciar a eleição europeia, isso será revelado quando se conhecerem os resultados da votação do próximo domingo.