"Temos 15 semanas para mudar o Brasil", disse recentemente o ministro da Economia, Paulo Guedes. Com isso, ele quis dizer que só resta tempo até meados de julho para apresentar e aprovar suas reformas no Congresso. Já que então começa o recesso legislativo e depois tem inicio a campanha eleitoral para as prefeituras. A partir daí, projetos de lei não têm mais chance de passar no Congresso.
Na verdade, Paulo Guedes deveria ter dito: ainda me restam 15 semanas como ministro da Economia. Meus dias estão contados.
Porque é bastante improvável que o "superministro" da Economia, Finanças e Planejamento consiga aprovar qualquer uma das reformas pretendidas até meados de julho. Até agora, ele nem sequer apresentou as propostas para a reforma tributária ou administrativa.
No ano passado, o governo do presidente Jair Bolsonaro conseguiu aprovar a reforma da Previdência, depois de ela ter sido discutida por dois anos na sociedade e na política. E foram necessárias grandes concessões aos militares, que foram excluídos dos cortes. Além disso, no ano passado, o governo Bolsonaro ainda possuía uma bancada razoavelmente funcional no Congresso.
Isso pertence ao passado. A base política encolheu devido ao curso de confrontação que o presidente, seus ministros e filhos empreenderam contra o Congresso.
É improvável que, sem as reformas, Guedes consiga permanecer no cargo de ministro. Pois, para o banqueiro de investimentos, não interessaria ter pouco espaço de ação nos próximos dois anos do governo Bolsonaro. Ele quis entregar e implementar grandes projetos para recuperar a produtividade da economia e do Estado brasileiros – e fracassou estrondosamente.
Passados apenas 15 meses desde que Bolsonaro assumiu o poder, esse não é um prognóstico prematuro. É uma realidade: até agora, Guedes impulsionou vários projetos durante seu mandato como ministro, mas conseguiu implementar pouco.
Isso é fatal. Pois fazia muito tempo que não se via no governo brasileiro uma equipe econômica que focasse tão claramente as prioridades na reforma estatal, da economia e das finanças públicas quanto Guedes e companhia. Ele queria erradicar o déficit orçamentário crônico, uma doença estatal que sobrecarrega a economia há décadas.
Já faz muito tempo que não há nenhuma tentativa tão rigorosa para equilibrar o orçamento público na América Latina. Suas reformas seriam exatamente o que o Brasil precisa agora para não ficar para trás no cenário econômico global.
Mas Guedes apostou no cavalo errado: com o presidente Bolsonaro, não é possível realizar nenhuma reforma estatal de cunho liberal. O capitão da reserva não tem interesse nenhum nisso – fato do qual não faz segredo.
Bolsonaro segue a antiga política clientelista, não muito diferente dos seus tão criticados antecessores de esquerda. Mas, em vez de favorecer sindicatos, empresas públicas, construtoras e fundos de pensão estatais, Bolsonaro concede benefícios a agricultores, igrejas evangélicas, mineradoras ilegais, imprensa servil e militares.
A esperada recuperação econômica não aconteceu e, dada a mudança na situação da economia mundial, ela deverá ficar para um futuro ainda mais longínquo.
Portanto, é apenas uma questão de tempo até Bolsonaro substituir Guedes por um militar. Provavelmente, o colérico Guedes vai jogar a toalha antes. Diante dos fracos números de crescimento, os argumentos para uma mudança de pessoal são óbvios. Uma quantidade cada vez maior de políticos e economistas já está exigindo mais gastos pelo estado.
Então logo seria retomada a política econômica desenvolvimentista, que se tornou popular no Brasil desde o governo militar, passando por Sarney e Dilma: o Estado e seus planejadores se tornam os atores mais importantes da economia. As empresas privadas ficariam muito contentes em aceitar esse acordo. Em troca, elas ganham mercados protegidos, contratos governamentais e algumas são escolhidas como campeãs nacionais – sendo generosamente providas de crédito.
Sem dúvida: a agenda de reformas econômicas liberais já perdeu fôlego depois do primeiro ano do governo Bolsonaro. É uma catástrofe para o Brasil.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.