Partidos de extrema direita formam aliança de olho nas eleições europeias
14 de novembro de 2013Seis meses antes das eleições para o Parlamento Europeu, o partido francês de extrema direita Frente Nacional (FN, na sigla original) e o partido anti-islâmico holandês Partido da Liberdade (PVV), liderados respectivamente por Marine Le Pen e Geert Wilders, anunciaram nesta quarta-feira (13/11) em Haia que trabalharão mais juntos.
Além disso, os políticos populistas de direita anunciaram que querem formar uma aliança com outros "grupos patrióticos" na União Europeia (UE). Em Haia, Marine Le Pen declarou que "a época em que estes partidos estavam divididos já passou".
A líder da Frente Nacional disse ainda que os povos da Europa deveriam se libertar da "imposição de Bruxelas" e da "elite da antiga Europa". "Queremos novamente controlar nós mesmos nossas fronteiras e a imigração", acrescentou a política francesa de 45 anos, que está à frente das pesquisas de opinião para as eleições europeias em maio do próximo ano.
Tanto Le Pen e Wilders falaram de um dia histórico em Haia. Ambos os políticos disseram que a desistência do euro, a moeda única europeia, seria um objetivo. Como possíveis parceiros na aliança, Le Pen e Wilders mencionaram partidos populistas de direita no norte da Europa e o antieuropeu Partido da Independência do Reino Unido (UKIP, na sigla em inglês).
Muito em comum
Para Sylvie Goulard, eurodeputada liberal de Marselha, Marine Le Pen e Geert Wilders têm muito em comum para formar uma aliança antieuropeia: são contra estrangeiros, contra a integração europeia, alimentam o medo de que as instituições em Bruxelas se tornem superpoderosas e, supostamente, escutam a voz do povo.
"Infelizmente, trata-se de uma ampla base comum. Mas, se cada país europeu colocar seus próprios interesses acima de tudo, então a integração europeia será destruída", afirmou Goulard.
No entanto, uma cooperação entre os partidos populistas de direita será muito difícil de implementar em termos organizacionais, acredita Kai Arzheimer, do Instituto de Ciências Políticas na Universidade de Mainz. "No passado, vimos no Parlamento Europeu a formação de facções semelhantes e essas facções se dissolveram regularmente num intervalo de dois a três anos. As rivalidades eram grandes demais e faltou, principalmente, profissionalismo."
Segundo Arzheimer, os projetos anteriores haviam fracassado, especialmente porque não se conseguiu explicar aos eleitores o motivo pelo qual partidos nacionalistas deveriam cooperar em nível europeu.
"Frente Nacional é venenosa em conteúdo"
As pesquisas mais recentes para as eleições europeias apontam que Marine Le Pen teria 24% das intenções de voto na França. Tanto Le Pen quanto o holandês Geert Wilders representam uma nova geração de políticos de direita, que pensam além de suas fronteiras nacionais, apresentando-se de forma mais moderada do que a geração anterior a eles.
"Em comparação com o pai, o tom de Marine Le Pen é bastante contido", disse a eurodeputada Sylvie Goulard, recordando as aparições públicas geralmente provocadoras do fundador da FN, Jean-Marie Le Pen.
Porém, em termos de conteúdo, o partido continua a "espalhar seu veneno" e ainda existem muitas pessoas que pensam de forma muito racista, disse a eurodeputada. Uma parte do programa partidário considera, por exemplo, que seja dada preferência a cidadãos franceses no país – um ponto que viola as leis da União Europeia e as convenções vigentes de direitos humanos, disse Goulard.
Formalmente, os políticos de direita de hoje respeitam a liberdade e a democracia, declaram-se quase liberais e se engajam até mesmo pelos direitos das mulheres e homossexuais, explicou o cientista político Arzheimer, acrescentando que lemas tradicionais como o antissemitismo e o nacionalismo foram substituídos por outras imagens, como a rejeição à integração europeia. Dessa forma, os partidos de direita se tornaram "socialmente aceitáveis", afirmou o cientista político.
Raramente, disse Arzheimer, esses partidos são abertamente racistas. "Hoje tudo gira em torno dos conflitos de valores. E, para a sociedade, esse racismo modernizado é muito mais aceitável."
A xenofobia ainda existente não se dirige contra outros europeus ocidentais. Em vez disso, almeja-se uma união dos diversos Estados nacionais para poder proteger o próprio sentimento nacional, a própria identidade. "A aliança deve defender valores liberais contra pessoas de outras culturas", disse Arzheimer.
Euroceticismo ganha impulso
Desde o início da crise financeira e econômica na Europa, a crítica contra a política da União Europeia fortaleceu os grupos antieuropeus e populistas de direita, disse Sylvie Goulard. "A procura por bodes expiatórios não é nenhuma surpresa em tais ocasiões, porque a União Europeia nem sempre usou a política correta", disse a eurodeputada liberal de Marselha.
Segundo Goulard, também na França, os políticos se mostraram frequentemente impotentes durante a crise, sem que reformas importantes tenham sido realizadas. "O presidente Hollande não foi bem sucedido até agora. E, infelizmente, a Sra. Le Pen apareceu como alternativa, até porque ela nunca esteve no poder."
Também em muitos outros países europeus observam-se partidos populistas de direita e partidos antieuropeus semelhantes à Frente Nacional de Marine Le Pen na França e ao Partido da Liberdade de Geert Wilders na Holanda: o ultradireitista Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD, na sigla em alemão), a Frente Nacional no Reino Unido, o partido Jobbik na Hungria ou o Ataka na Bulgária.
Eles prometem aos cidadãos soluções simples para problemas extremamente complexos – e não apenas em seu próprio país, mas em toda a Europa.