Bundestag condena movimento pró-palestino como "antissemita"
18 de maio de 2019Uma aliança transpartidária do Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão) aprovou nesta sexta-feira (17/05) resolução condenando como antissemítica a campanha Boicote, Desinvestimento, Sanções (BDS) e cortando as subvenções a quaisquer organizações que "apoiem ativamente" o movimento pró-palestino.
O BDS visa pressionar Israel financeiramente a dar fim à ocupação dos territórios palestinos e a conceder igualdade integral a seus cidadãos árabes. Sua terceira reivindicação-chave – garantir aos refugiados palestinos de 1948 e direito de retorno a Israel – é controversa, pois, segundo alguns, ameaçaria o direito do Estado à existência. O movimento foi criado em 2005 e conta com apoio de mais de 170 organizações pró-palestinas.
"O padrão de argumentação e os métodos do BDS são antissemíticos", consta da resolução do Bundestag. Além disso, os apelos a boicotar artistas israelenses e os adesivos "Don't buy" aplicados a mercadorias do país "recordam a fase mais terrível da história alemã". A alusão é ao regime nazista de 1933-1945 e ao Holocausto, em que foram assassinados mais de 6 milhões de judeus na Europa.
A resolução exige ainda, corte do apoio financeiro a organizações que questionem o direito do Estado de Israel à existência ou respaldem ativamente o BDS, assim como a projetos que conclamem a boicotar o país. Ela foi apresentada por todas as legendas centristas do parlamento federal alemão, incluindo a União Democrata Cristã (CDU), da chefe de governo Angela Merkel, sua irmã bávara União Social Cristã (CSU), Partido Social-Democrata (SPD), Partido Liberal Democrático (FDP) e Verde.
A populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) apresentou sua própria resolução, exigindo a proibição radical do BDS. O partido socialista A Esquerda defendeu uma linha mediana, propondo a condenação de toda declaração antissemita do BDS.
Comparações com nazismo, Eurovisão
Durante o debate na sexta-feira, o deputado Axel Müller, da CDU, afirmou que a campanha do BDS nas redes sociais é ocasionalmente influenciada pela "propaganda da ditadura [nazista]". "Espero que nos lembremos as muitas imagens cheias de ódio do Terceiro reich, onde se viam cartazes dizendo 'Alemães não compram de judeus', um primeiro passo a caminho do genocídio."
Na ocasião, o verde Omid Nouripour foi um dos diversos parlamentares a lembrar o significado do festival da canção Eurovisão (ESC, na sigla em inglês), cuja final transcorre neste sábado em Tel Aviv, criticando a conclamação do BDS a boicotar o evento.
Ele condenou especialmente a deturpação do logo do evento pelo BDS, com arame farpado e o símbolo da força paramilitar nazista SS: "Isso é simplesmente intolerável. É o tipo de comparação da política israelense com os crimes dos nazistas contra judeus, ciganos roma, homossexuais e muitos outros, que nada tem a ver com a crítica ao governo de Israel."
Nouripour enfatizou que o ESC "é um dos formatos mais bem-sucedidos, das últimas décadas, de compreensão internacional e intercâmbio cultural na Europa", portanto "o fato de o BDS estar tentando organizar um boicote a essa forma de entendimento internacional diz muito sobre o caráter do movimento".
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