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Parlamento alemão aprova envio de armas pesadas à Ucrânia

28 de abril de 2022

Maioria do Bundestag dá aval para que Berlim forneça "armamento pesado e sistemas complexos". Apenas a ultradireita e a esquerda socialista se posicionaram contra exportação de armas.

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Parlamento alemão, Bundestag
Conservadores, ultradireitistas e socialistas criticaram governo Scholz pela postura em relação ao conflito, mas não pelas mesmas razõesFoto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance

O Bundestag aprovou por grande maioria nesta quinta-feira (28/04) uma moção pelo envio de armas pesadas e sistemas complexos de defesa à Ucrânia, dando apoio à mudança na política alemã ocorrida com a decisão de enviar blindados antiaéreos para Kiev anunciada nesta terça-feira, após semanas de hesitação do governo sobre o tema.

Além do envio de armas pesadas, como sistemas antiaéreos e veículos blindados, a medida aprovada pelos parlamentares alemães incluiu disposições para o envio de equipamentos a membros da Otan no leste europeu.

Pelo texto, a Alemanha também enviará mais soldados para aumentar a presença da Otan na Europa Oriental e vai incentivar soldados russos a deporem suas armas e buscar asilo na Alemanha e na UE.

Além disso, a medida prevê um apelo à China para que Pequim "abandone sua aceitação da guerra" e apoie ativamente uma trégua.

O texto, intitulado "Defendendo a Paz e a Liberdade na Europa: Apoio Abrangente à Ucrânia", obteve 586 votos a favor e 100 contra, com sete abstenções.

A moção foi apresentada conjuntamente pelos grupos parlamentares da coalizão governista – formada pelo Partido Social-Democrata (SPD), Partido Verde e Partido Liberal Democrático (FDP) – e pelo bloco conservador, a maior bancada oposicionista do Bundestag, formada pelos conservadores Partido Democrata Cristão (CDU) e Partido Social Cristão (CSU). 

Dos partidos com representação no Parlamento alemão, apenas dois se manifestaram abertamente contra a moção: a ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) e a legenda A Esquerda.

Apoio a Kiev

Os grupos parlamentares por trás da moção pedem ao governo alemão que apoie todos os esforços do governo ucraniano para chegar a um cessar-fogo no interesse da Ucrânia em negociações diretas com a Rússia e, em caso de acordo, para ajudar a garantir seu cumprimento, com ajuda dos aliados da Otan e da União Europeia (UE).

"Juntamente com o extenso isolamento econômico da Rússia e a desconexão dos mercados internacionais, o meio mais importante e eficaz de impedir a invasão russa é intensificar e acelerar a entrega de armas eficazes e sistemas complexos, incluindo armas pesadas”, diz a resolução.

O chanceler federal Olaf Scholz hesitou por um longo tempo sobre a questão e finalmente concordou em entregar armas pesadas à Ucrânia nesta semana. Agora, o Bundestag legitimou essa decisão. 

O texto pede também a continuidade e aceleração, na medida do possível, do fornecimento do equipamento necessário à Ucrânia.

Afirma também que a entrega de armas pesadas e sistemas complexos deve ser expandida, sem pôr em perigo a capacidade defensiva da Alemanha dentro da Otan, seja por forma direta, como indiretamente, substituindo os estoques enviados para a Ucrânia por países do Leste Europeu, como na troca acertada com a Eslovênia.

O bloco conservador acabou optando por desistir de apresentar sua própria moção e aderir à proposta modificada dos grupos parlamentares do governo tripartite.

Ataque da oposição

No debate parlamentar que antecedeu a votação, o líder da CDU, o oposicionista Friedrich Merz, disse que há semanas o chanceler Scholz vinha evitando dar respostas claras no debate sobre o fornecimento de armas pesadas à Ucrânia.

Ele afirmou que essa atitude não tem nada a ver com "prudência", mas com "indecisão e medo".

Por outro lado, Merz salientou que todos sabem que a violência das armas em tal conflito deve ser apenas o "último recurso" e constitui ao mesmo tempo "o reconhecimento do fracasso da diplomacia e da busca de uma solução política ."

Ele também alertou que, se a Ucrânia não receber a ajuda necessária, essa falta de assistência será interpretada "como no passado" como "fraqueza e relutância" e, depois da Ucrânia, poderá recair em outros países e regiões.

Blindado Gepard durante disparo
Moção éfoiaprovada após Berlim anunciar aprovação de envio de antigos blindados Gepard à UcrâniaFoto: Carsten Rehder/dpa/picture alliance

"A partir de hoje, o governo federal pode contar com uma ampla votação no Bundestag e fornecer à Ucrânia as armas de que precisa e que vamos disponibilizar para ela", concluiu.

O co-presidente dos sociais-democratas, Lars Klingbeil, por sua vez, classificou a votação conjunta como "sinal claro e inequívoco" enviado pelo Parlamento alemão de que o presidente russo, Vladimir Putin, deve pôr fim a esta guerra de agressão.

Mas nem toda a oposição ao governo crticiou o governo Scholz pelas mesma razões da CDU de Merz.

O deputado de ultradireita Tino Chrupalla, da AfD, por exemplo, disse que a moção pode ter o efeito de prolongar o conflito e tornar a Alemanha "parte de uma guerra nuclear".

Críticas semelhantes partiram do partido socialista A Esquerda, cujos representantes lembraram que o próprio chanceler Olaf Scholz afirmou anteriormente sobre o risco de uma escalada nuclear, antes de seu governo mudar novamente de posição.

"Todo dia há um curso diferente, não consigo mais acompanhar, e muitas pessoas neste país sentem o mesmo", disse o deputado de esquerda Dietmar Bartsch, do Partido de Esquerda.

Fim da velha ordem

Britta Hasselmann, colíder do grupo parlamentar do Partido Verde, disse que a invasão da Ucrânia pela Rússia foi uma violação "flagrante" do direito internacional e que a Ucrânia tem "direito irrestrito à autodefesa".

O líder do grupo parlamentar liberal, Christian Dürr, sublinhou que "a Alemanha deve estar à altura da sua responsabilidade" e é isso que expressa esta moção conjunta, acrescentou.

Ele ressaltou que, com sua guerra de agressão, o chefe do Kremlin pôs fim à velha ordem mundial, acrescentando que isso romperá as relações econômicas com a Rússia de Putin e fortalecerá as relações com as democracias liberais em todo o mundo.

md (EFE, AFP)