1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Paralisia política na Itália põe União Europeia em alerta

Ralf Bosen (rc)3 de abril de 2013

Com impasse sobre governo em plena crise financeira, terceira maior economia europeia preocupa mercados e parceiros do euro. Para muitos, país já é o maior problema para o bloco, à frente até de Espanha e Chipre.

https://p.dw.com/p/188uO
Foto: Reuters

A crise no Chipre está, pelo menos para a União Europeia, controlada. Mas outra, bem mais complicada, parece estar emergindo. Na Itália, os esforços para estabelecer um governo após as eleições de fevereiro acabaram paralisando a política nacional. E o governo do primeiro-ministro Mario Monti tem hoje mais um caráter emergencial do que interino.

A situação deixa cada vez mais tensos os mercados internacionais e a União Europeia, que acompanham dia a dia o quanto a endividada Itália caminha sem orientação; como o vazio político cresce; e como a crise financeira progride de forma cada vez mais acelerada.

Pressionado, o presidente Giorgio Napolitano convocou uma comissão de especialistas composta por representantes dos maiores partidos políticos italianos e altos funcionários do Banco Central Europeu, no intuito de tentar encontrar uma solução para a crise política. Os trabalhos da comissão foram iniciados na terça feira (02/04).

"Os dez sábios"

A comissão de especialistas, chamada por Napolitano de "os dez sábios", divide-se em dois grupos de trabalho. Um trata das reformas políticas institucionais, que também incluem a lei eleitoral. O outro desenvolve medidas de caráter social e econômico. Os resultados deverão ser apresentados apenas a partir da próxima semana.

Mas, segundo o jornalista Giovanni del Re, correspondente para a União Europeia do jornal Avvenire, não se dever esperar muita coisa dessa comissão.

"Eles certamente vão elaborar um ótimo relatório apresentando o que deve ser reformado no país", afirmou o jornalista à DW. "Mas deverá ficar por isso mesmo, já que os partidos políticos ainda relutam em cooperar entre si".

Os "dez sábios", explica o jornalista, não têm poder de decisão – podem apenas fornecer análises e apontar as reformas necessárias. E enquanto os políticos não demonstrarem disposição para trabalhar em conjunto, os italianos vão se perguntar se as propostas têm de fato valor.

O presidente italiano, Giorgio Napolitano, que irá deixar o cargo no dia 15 de maio, nomeou uma comissão de especialistas para lidar com a crise.
O presidente italiano, Giorgio Napolitano, que deixará o cargo no dia 15 de maioFoto: picture-alliance/dpa

Presidente de saída

Após elogiar inicialmente a criação da comissão, os políticos agora criticam a iniciativa de Napolitano. Em particular a coalizão de centro-direita do ex-premiê Silvio Berlusconi, que considera uma perda de tempo o trabalho da comissão e exige novas eleições – o que, segundo Del Re, seria um grande erro.

"Com as leis eleitorais atuais, nós acabaríamos com a mesma situação caótica de agora", diz o jornalista, detalhando que nenhum dos partidos conquistaria a maioria no Senado e tudo voltaria ao ponto inicial. "O mínino que temos que fazer é mudar a lei eleitoral, caso contrário tudo continuará do mesmo jeito, o que pode ser muito perigoso para o euro." 

Em meio ao caos, há uma perspectiva de mudança. De todos os protagonistas da crise, é Napolitano – um dos poucos políticos italianos considerados sérios e confiáveis – que deverá deixar o cargo no dia 15 de maio. Devido ao curto tempo que resta de sua Presidência, o político de 87 anos não tem muito o que fazer para tentar lidar com a crise.

"Ele está usando o tempo que ainda tem para tentar reanimar a situação, mas é improvável que uma solução possa de fato emergir", analisa Del Re.

Um em cada três jovens sem emprego

Para que haja melhoras na economia é preciso que a estabilidade política e as reformas voltem a ser prioridades. Nos últimos cinco anos, a produção industrial encolheu 25%; o índice de desemprego já ultrapassa 11% - um terço da população com menos de 25 anos está sem trabalho; especialistas esperam que a produção econômica do país continue a cair. Além disso, as altas taxas de juros para dívidas novas e antigas contribuem para aumentar ainda mais os problemas.

Parece ser cada vez mais provável que a Itália terá que pedir ajuda à União Européia. Mas a terceira maior economia da Europa é grande demais para um resgate. Para muitos analistas, o país é hoje o maior problema da zona do euro, superando até a Espanha.

Espera-se que a Itália vá pedir ajuda à União Européia, mas a economia do país é grande demais para um resgate.
Espera-se que a Itália peça ajuda à UE, mas a economia do país é grande demais para um resgate.Foto: picture alliance/dpa

Mas ao menos a Itália ainda consegue competir em nível internacional. Não há uma bolha no setor imobiliário, como ocorre em Espanha, Irlanda e Grécia, que possa contribuir para piorar o quadro geral. Além disso, o setor bancário italiano aparenta estar em melhor forma do que o espanhol ou o grego.

Incerteza quanto às reformas

Há semanas as agências internacionais de classificação de risco estão com as atenções voltadas para Roma. A Moody's já afirmou que acompanhará de perto os esforços para a formação do novo governo. Especialistas presumem que a agência americana certamente rebaixará a nota da Itália, a não ser que a situação apresente melhoras a curto prazo.

O analista Daniel Gros, do Centro de Estudos de Políticas Européias (CEPS), não demonstra muito otimismo. Segundo ele, a Itália, assim como muitos outros países, lida com uma aliança de forças contra as reformas, que não vão ceder seus privilégios sem antes lutar por eles.

"Parece que a crise não chegou a ser suficientemente forte para convencer a população da necessidade de mudanças substanciais nesse sentido" afirmou Gros. "Enquanto não houver consenso, não há muito que a União Europeia e Bruxelas possam fazer."

Devido à continuação das incertezas políticas e à crescente popularidade de Berlusconi, muitos já duvidam se a Itália deseja de fato as dolorosas medidas de austeridade. Del Re sustenta que, nesse sentido, o resultado da eleição de 25 de fevereiro não foi encorajador. Se os votos de Berlusconi e do ex-comediante Beppe Grillo forem somados, chegariam a 60% do total.

"Os partidos de ambos já se pronunciaram contra as reformas que o país tanto precisa", lamenta Del Re. O jornalista ressalta que isso pode dar uma impressão de que a Itália não entendeu realmente que muitas das reformas não se fazem necessárias apenas porque Bruxelas quer, mas porque o país precisa delas.